Ratzinger-Küng, a polaridade que marcou o pós-Concílio

Foto: UNED | Universidad Nacional de Educación a Distancia

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07 Abril 2021

 

Com a morte de Hans Küng, encerra-se uma parte do pós-Concílio católico, aquela que encontrou na polaridade especular Ratzinger-Küng a sua representação midiática a ser explorada em um sentido ou outro. Ambos filhos de uma mesma visão da Igreja e do catolicismo no contexto cultural mais amplo, separados apenas pela direção tomada para implementá-la na prática.

O comentário é do teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, em artigo publicado por Settimana News, 06-04-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis o artigo.

 

Dois breves comunicados de imprensa da Universidade de Tübingen e da Stiftung Weltethos anunciaram a morte de Hans Küng, ocorrida nessa terça-feira, 6 de abril, aos 93 anos de idade.

Uma das figuras que caracterizaram o pós-Concílio da Igreja Católica em nível global, graças também ao conflito que se desencadeou com o Vaticano após a publicação do seu livro sobre o primado petrino, “Infalível?”.

Küng foi talvez o primeiro dos teólogos clássicos do século XX, com formação pré-conciliar, que usou os meios de comunicação não eclesiais como um instrumento de pressão sobre as questões vaticanas – criando um cenário de apoio público muito amplo para as suas posições na diatribe romana que caracterizou toda a fase central da sua vivência teológica.

Após a revogação da permissão de docência por parte da Santa Sé, Küng criou a fundação Weltethos, ancorando-a à Universidade de Tübingen, que apoiou com convicção esse empreendimento – que mais tarde se revelou premonitório sob muitos pontos de vista e capaz de uma visão de futuro para uma aliança das religiões para proteger a nossa humanidade comum.

A sua escolha de usar a comunicação de massa como meio de debate com o Vaticano abriu caminho para uma modificação profunda da atividade de controle e censura da Congregação para a Doutrina da Fé. Deslocando, não sem detrimento para a coisa teológica, o centro nervoso do argumento em questão para a sua comunicação, primeiro, e depois até mesmo para a sua possível recepção por parte do público mais amplo na sua forma midiatizada.

Com a sua morte, encerra-se uma parte do pós-Concílio católico, aquela que encontrou na polaridade especular Ratzinger-Küng a sua representação midiática a ser explorada em um sentido ou outro. Ambos filhos de uma mesma visão da Igreja e do catolicismo no contexto cultural mais amplo, separados apenas pela direção tomada para implementá-la na prática.

Embora marcada por limites, não sem profundas repercussões até o momento presente, aquela foi uma época alta do catolicismo e da teologia – hoje, sobre esses ombros, não conseguimos mais subir nem com a escada. Talvez também porque o tempo presente nos peça outra coisa, outras atenções e sensibilidades – serão precisamente estes os índices sobre os quais seremos medidos, nós que conhecemos aquela época a partir dos relatos de parte.

 

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