13 Janeiro 2021
O presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha afirma que as Igrejas locais devem ter a permissão para encontrar soluções para questões urgentes como o diaconato das mulheres.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada em La Croix International, 11-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O bispo Georg Bätzing, presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha (DBK), prometeu trabalhar “em estreita cooperação com o Vaticano” enquanto avança com o Caminho Sinodal do seu país para a reforma da Igreja.
“Eu já conversei no Vaticano sobre isso e pretendo continuar as discussões quando for a Roma com o presidium do Caminho Sinodal o mais rápido possível”, disse Bätzing em uma entrevista publicada no dia 3 de janeiro pela agência de notícias católica KNA.
O bispo de 59 anos, que é presidente da DBK desde março passado, disse que planeja manter as autoridades vaticanas informadas sobre os desdobramentos do Caminho Sinodal, e não apenas sobre os seus resultados.
Ele também anunciou que o cardeal Mario Grech, o prelado maltês de 63 anos que recentemente assumiu o cargo de secretário-geral do Sínodo dos Bispos em Roma, “virá nos ver, talvez no nosso segundo encontro sinodal”.
O presidente da DBK disse que isso permitiria ao cardeal ver em primeira mão que os esforços da Igreja alemã para se reformar se baseiam no Concílio Vaticano II (1962-1965), na tradição do Sínodo de Würzburg (1971-1975).
Muitas das demandas daquele sínodo nacional dos anos 1970 – como a admissão de mulheres ao diaconato e a abertura do sacerdócio aos homens casados – não foram implementadas por Roma até hoje.
Dom Bätzing disse que essas reformas sugeridas, como o Caminho Sinodal em curso, ainda estão sendo discutidas e debatidas. Assim, ele disse que podia entender que muitos católicos estejam inquietos.
“A grande maioria dos católicos comprometidos do nosso país deseja mudanças, e é por isso que o Caminho Sinodal é tão essencial”, disse o presidente da DBK, que desde 2016 dirige a Diocese de Limburg ao norte de Frankfurt.
Ele alertou que, se a Igreja não responder às “questões urgentes”, ela perderá credibilidade.
A ordenação de mulheres é uma dessas questões urgentes, disse Bätzing em uma longa entrevista na edição de janeiro do jornal teológico alemão Herder Korrespondenz.
Ele disse que sempre tentou fazer o melhor para explicar honestamente o ensino atual da Igreja sobre esse assunto.
Mas ele disse que ficou muito claro que a explicação da Igreja sobre por que apenas homens podem ser ordenados é “cada vez menos convincente”.
O bispo argumentou que os teólogos da Igreja têm fornecido “argumentos bem fundamentados” para permitir que as mulheres recebam o sacramento da Ordem.
“É por isso que muitas vezes eu trago à tona o assunto do diaconato para as mulheres, pois há um propósito aí”, disse ele.
No que diz respeito ao sacerdócio, Dom Bätzing lembrou que todos os papas desde João Paulo II, sem exceção, declararam que a questão da ordenação de mulheres está resolvida.
“E, mesmo assim, a questão ainda está sobre a mesa”, acrescentou.
Questionado sobre se a decisão de abençoar casais homossexuais poderia ser tomada sem ouvir Roma (ou seja, por uma Igreja local), Bätzing disse que convocou uma equipe de pesquisa em sua diocese para examinar essa possibilidade.
Ele disse que, pessoalmente, gostaria de encontrar uma solução “mais ampla”, ou seja, abençoar casais que, por várias razões, não podem celebrar um casamento sacramental.
“Eu acho que poderíamos encontrar formas litúrgicas para tais bênçãos que não precisem da aprovação de Roma”, disse ele.
“Depois de um estudo intensivo do assunto, porém, eu estou pessoalmente convencido de que devemos mudar a redação do Catecismo”, enfatizou o bispo.
Quanto à dramática escassez de padres na Alemanha, onde algumas dioceses não tiveram candidatos ao sacerdócio nos últimos anos, Bätzing disse estar certo de que há vocações, “mas a atual situação na Igreja os deixa inseguros”.
“Os conservadores dizem que isso ocorre porque os progressistas querem mudar tudo. É exatamente o contrário, no entanto”, argumentou o presidente da DBK.
“Se, como Igreja, perdermos contato com a sociedade, bloquearemos as vocações. Isso é um drama. De quanta força, que poderíamos usar para a evangelização, estamos dispostos a abrir mão para nos apegar às atuais condições de admissão ao sacerdócio? Essa é uma questão que está em pauta há muito tempo”, destacou Bätzing.
Ele disse que, quando foi a Roma em junho passado para a sua visita inicial como presidente da Conferência, ele percebeu que o Vaticano tinha fortes reservas em relação aos planos de reforma da Igreja alemã.
Ele havia chegado à conclusão de que Roma estava sob uma grande pressão para manter a Igreja universal unida, apesar das suas muitas culturas diferentes.
Ele disse que a grande questão diz respeito à melhor forma de fazer isso.
Dom Bätzing argumentou que não é certo proibir avanços em uma parte da Igreja enquanto se espera até que a última Igreja local esteja pronta para a reforma.
Ele disse que isso significaria que ninguém teria permissão para fazer perguntas ou buscar respostas apropriadas ao seu próprio terreno cultural a fim de impedir que a lacuna entre o Evangelho e a sua própria cultura cresça cada vez mais.
Esse é exatamente o problema que a Alemanha está enfrentando, disse o bispo.
“É preciso permitir respostas menos centralizadas e é preciso dar mais margem de manobra”, insistiu Bätzing.
“Devemos trabalhar mais na inculturação”, acrescentou.
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Bispo alemão pressiona pela reforma da Igreja: “Precisamos de respostas menos centralizadas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU