10 Junho 2020
A liturgia do período de confinamento aumentou as expectativas dos católicos alemães, diz o bispo Georg Bätzing.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada em La Croix International, 09-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As liturgias online durante o confinamento do coronavírus deixaram os católicos na Alemanha mais exigentes quanto à qualidade dos ritos de culto e da pregação, de acordo com Dom Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal do país.
“Percebi que, quando prego dialogicamente, eu recebo muitas respostas. Quando falo sobre a minha fé, a minha luta para acreditar, então eu recebo infindáveis respostas”, disse ele em uma entrevista publicada no dia 28 de maio no Publik Forum, uma publicação católica progressista quinzenal.
“A atenção à qualidade dos sermões e dos ritos raramente tem sido tão alta quanto agora. As pessoas imediatamente dizem-lhe o que gostaram e o que não gostaram. Vejo isso como um desafio”, continuou.
“Os fiéis não nos permitem simplesmente voltar aos velhos padrões”, disse Bätzing, que foi ordenado bispo há menos de quatro anos (Diocese de Limburg) e eleito presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha em março passado.
O bispo de 59 anos se disse mais favorável do que nunca ao Caminho Sinodal alemão para a reforma da Igreja e tem ideias mais concretas sobre quais mudanças são possíveis e como elas podem ser alcançadas.
O procedimento estabeleceu fóruns sobre quatro temas – poder e freios e contrapesos; moral sexual; vida sacerdotal; e o lugar das mulheres na Igreja. Bätzing disse que eles se concentram no problema de como falar de Deus no mundo contemporâneo.
“Ou seja, o que significa o nosso discurso sobre Deus perante o mundo de hoje, no que diz respeito à distribuição de poder na Igreja e à sexualidade e às parcerias. Mas também no que diz respeito ao papel dos padres e à questão – que eu pessoalmente acho mais importante – do papel das mulheres na Igreja”, disse.
O bispo enfatizou que essas são as questões centrais que determinam se as pessoas se sentem pertencentes à Igreja ou não.
Especialmente no que diz respeito à questão da sexualidade e das parcerias, disse ele, há uma profunda lacuna há muito tempo entre a realidade da vida das pessoas e os ensinamentos da Igreja.
Ele disse que isso é deplorável, pois a Igreja tem muito a oferecer aqui, com base na sua imagem de Deus e no que significa ser humano. Ela poderia dar uma orientação.
“Mas, para muitas pessoas, a mensagem que proclamamos aparece como um tipo de moralização que apenas proíbe. As pessoas se sentem alienadas”, afirmou.
“Continuar desse modo não pode ser o objetivo do Caminho Sinodal. Portanto, eu sinceramente espero que consigamos desenvolver ainda mais certas expressões sobre o ensino da Igreja no atual Catecismo”, explicou.
Todas as resoluções aprovadas pelo Caminho Sinodal deverão ser ratificadas por uma maioria de dois terços na Conferência Episcopal.
Bätzing foi questionado se isso não prova que ainda existe um desequilíbrio de poder entre padres e leigos. E, diante isso, como pode se ter certeza de que a reforma da Igreja avançará.
Ele admitiu que não tem certeza. Mas disse que espera que, no fim e após dois anos de discussões, os bispos que favorecem a reforma – “e há muitos deles” – formem coalizões em torno de resoluções de reforma.
Ele também espera que as dioceses que já começaram a implementar certas reformas constituam redes.
Por exemplo, aqueles que permitem que outros cristãos participem da Eucaristia nas liturgias católicas ou buscam soluções para ajudar os católicos cujos relacionamentos não são totalmente reconhecidos pela Igreja, como os casais divorciados que se casaram novamente ou que estão em uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Isso significa que uma nova Igreja está surgindo ou simplesmente uma Igreja renovada, perguntou-se
O bispo disse que a resposta deve ser encontrada em uma Igreja renovada.
“Neste momento, só podemos ver os primeiros brotos da nova forma social da Igreja, mas é nesses brotos tenros que devemos nos concentrar. A autorrevelação de Deus nunca para, mas o depósito da fé continua o mesmo”, disse.
“Lembro as palavras inovadoras da constituição pastoral do Concílio Vaticano II sobre a Igreja no mundo moderno, a Gaudium et spes, número 4: ‘Em todas as épocas, é dever da Igreja perscrutar a todo o momento os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho’ – e tirar conclusões a partir disso”, enfatizou Dom Bätzing.
“Isso significa que o amadurecimento da fé é um processo que nunca pode ser declarado concluído”, afirmou.
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Alemanha: presidente dos bispos diz que leigos levarão a Igreja em frente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU