11 Setembro 2020
O desmantelamento do campo de refugiados de Calais, no norte da França, não encerrou os sonhos dos migrantes da Grã-Bretanha. Para se aproximar do seu Eldorado e enquanto esperam a chegada, milhares de pessoas, famílias, mulheres, homens e crianças, sobrevivem nos lixos da selva. A Secours Catholique (serviço de socorro católico) contatou vários correspondentes das Nações Unidas para advertir das terríveis condições de vida destas pessoas.
A reportagem é de Marine Henriot, publicada por Vatican News, 10-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“As condições são espantosas”, diz Didier Degremont, presidente da delegação do Secours Catholique na região de Pas-de-Calais, no norte da França. Quase todas as manhãs, é testemunha de um triste espetáculo: empurrados pela polícia, os refugiados que encontraram um refúgio improvisado nos restos da "selva" de Calais dobram suas barracas, tomam seus poucos pertences e com frequência deslocam-se a alguns poucos quilômetros de distância. Desde o desmantelamento da notória “selva francesa”, as condições de vida das pessoas que esperam cruzar o Canal pioraram.
Localização de Calais (Foto: Wikimedia Commons/ Dr. Blofeld)
Em 14 de agosto, Secours Catholique e uma dezena de outras associações como Médicos do Mundo e o Auberge des Migrants dirigiram-se a sete dos correspondentes especiais das Nações Unidas sobre direitos humanos para alertá-los sobre as condições de vida “desumanas” dos migrantes nesta região.
No tempo da selva, havia um mínimo de estrutura, explica o delegado da Secours Catholique, “porém hoje estamos em uma configuração na qual o Estado não quer mais migrantes no território de Calais e tudo está disposto para que saiam”, o acesso à água é limitado, somente uma centena de duchas, e distante, para centenas de pessoas.
Nas suas queixas, as associações denunciam “evacuações brutais”, “aumento das expulsões”, “violência física, confisco de bens pessoais e as consequentes detenções”. Os despejos continuaram no auge da crise de saúde, denuncia o ativista de direitos humanos, que se pergunta “qual foi a legitimidade de despejar esses pobres durante a pandemia?”.
Além da violência e da falta de recursos, as associações também denunciam a falta de diálogo com as autoridades. Segundo Didier Degrémont, a política de gestão de Calais tomou um novo rumo desde que o presidente francês Emmanuel Macron chegou ao poder em maio de 2017 e “a chegada de Gérald Darmanin ao Ministério do Interior marca uma firmeza particularmente forte”. No local, o presidente da delegação Secours Catholique du Pas-de-Calais acredita que está diante de muros, os prefeitos que devem seguir diretrizes muito estritas estão passando a bola para o governo, “estamos em total impedimento para dialogar com as autoridades provinciais”. As associações existentes estão sendo convidadas a se retirar, substituídas por organizações estatais.
Selva de Calais destacada em vermelho (Foto: Wikimedia Commons/Piece of metal work)
Desde o desmantelamento do campo de Calais pelas autoridades francesas, o número de pessoas que tentam atravessar o canal da Mancha diminuiu drasticamente: mais de 12 mil em 2016, algumas centenas em 2019. Mas o problema apenas se deslocou e as travessias de canais em navios leves e frágeis explodiram. “O mercado de contrabandistas está florescendo”, desabafa Didier Degrémont. Na quarta-feira, 2 de setembro, cerca de cinquenta pessoas que tentavam atravessar foram interceptadas pela polícia quando já estavam na água. No mesmo dia, cerca de sessenta migrantes foram recolhidos na praia de Wimereux após uma travessia fracassada. Atravessar este mar é perigoso. É uma das áreas marítimas mais movimentadas do mundo, onde o clima costuma ser perigoso. Em meados de agosto, o corpo sem vida de um jovem sudanês foi encontrado em uma praia no norte da França.
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Em Calais, as condições de vida dos refugiados são piores que na selva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU