11 Setembro 2020
“A tonalidade afetiva que é impregnada pelo mundo de vida neoliberal é o Terror. Não é o Terror das ditaduras clássicas, nem o dos absolutismos despóticos ou totalitários. O Terror procede de um modo mais invisível e chega a seu clímax em momentos de concentração catastrófica, como agora na pandemia”, escreve Jorge Alemán, psicanalista e escritor, em artigo publicado por Página/12, 10-09-2020. A tradução é do Cepat.
Conforme afirmam os estudiosos, o Neoliberalismo é um tempo histórico onde, por um lado, a natureza se perdeu, enquanto, ao mesmo tempo, o “homem econômico” naturaliza a desigualdade, a exploração, a definitiva introdução da subjetividade na lógica do Mercado.
Este paradoxo confirma o neoliberalismo como um extraordinário produtor de vida precária. Aqui, entendemos vida precária conforme propõe José Luis Villacañas, vida precária não é só a flagrante vulnerabilidade dos setores populares e excluídos. Os exploradores também não podem ter uma vida humana já que são obrigados a sustentar a produção ilimitada do Capital, em uma permanente atualização da Acumulação primitiva, agora endossada ao capital financeiro e às diferentes operações de desapropriação das matérias-primas de países emergentes.
Também se apropria de tudo aquilo que no mundo faz parte do Comum. Obviamente, esta precariedade não apaga os antagonismos entre as oligarquias e os povos, mas caso se tem presente que o Neoliberalismo, por seu poder unificador, em princípio não permite pensar seu exterior e nem sua saída histórica, neste sentido, a vida precária é a essência da grande criação neoliberal: a vida inteiramente reduzida a valor e competição de uns com outros e também em relação a si mesmo.
A tonalidade afetiva que é impregnada pelo mundo de vida neoliberal é o Terror. Não é o Terror das ditaduras clássicas, nem o dos absolutismos despóticos ou totalitários. O Terror procede de um modo mais invisível e chega a seu clímax em momentos de concentração catastrófica, como agora na pandemia.
Não é o Terror ao Leviatã que a qualquer momento nos faz sentir a sua violência, é muito mais a violência sistêmica e sinistra que implica estar preso em um movimento circular que sempre retorna ao mesmo lugar. Pode haver pandemias, insurreições, catástrofes ecológicas, crises de representação, crises orgânicas, explosões de bolhas financeiras, etc.
Ao despertar, o Neoliberalismo segue aí. O Terror sinistro de que a humanidade já não possa sair desta circularidade, deste ponto de não retorno às grandes experiências humanas transformadoras, tanto em um sentido existencial como político é a conquista, acima dos governos de direitas, da gestação de subjetividade neoliberal como novo desenho do humano.
Costuma-se acentuar o gozoso consumo incessante de objetos, mas em seu caráter compulsivo e repetitivo permanece secreta a obscura pulsão de morte e sua tradução sempre possível ao canal privilegiado do ódio. Este contexto do Terror específico do neoliberalismo, que cada vez torna mais difícil decidir qual seria uma vida fora do êxito ou do fracasso, do velho ou do novo, do que nos cura ou nos mata e onde o amor só se oferece a alguns como vida humana, é o que o caráter unívoco e totalmente dirigido das ultradireitas oferecem como salvação: “Já que nunca sairá do círculo sinistro do terror, oferecemos a você estar do lado sádico dos castigadores”.
Por isso, não se compreende estas ultradireitas atuais em seu verdadeiro alcance, caso não sejam concebidas como emanações do novo terror neoliberal. Por isso, o novo projeto mundial é que as direitas governem com uma reafirmação de ultradireitas. Já não se trata de derrotar governos de esquerdas ou nacionais e populares. Agora, para que o Terror se impregne até o rincão mais remoto da comunidade, para eles é imprescindível destruir a Democracia.
Mas as latências da História pré-neoliberais sempre podem retornar. Por isso, o crime nunca é perfeito.
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Neoliberalismo: terror e ódio. Artigo de Jorge Alemán - Instituto Humanitas Unisinos - IHU