22 Junho 2020
"Como padre e como psicoterapeuta, ele [Eugen Drewermann] está de fato convencido - na escola de Freud, mas também de Jesus - que devemos abster-nos de condenar os indivíduos e, quando necessário, estigmatizar aqueles aspectos das estruturas institucionais (família, escola, igreja, exército, partido, sindicato ...) que mortificam sua dignidade, a autonomia e o florescimento", escreve Augusto Cavadi, consultor filosófico e teólogo leigo, em artigo publicado por Zero Zero News, 18-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 20 de junho, Eugen Drewermann completa oitenta anos. Ele é um dos autores alemães mais prolíficos e mais traduzidos no mundo, famoso por sua tentativa titânica de combinar teologia com psicanálise, como nos volumes Psicologia profunda e exegese, Psicanálise e teologia moral, O Evangelho de Marcos. Imagens da redenção. Essa operação intelectual encontrou reservas, às vezes até severas, por parte de teólogos (preocupados com uma leitura redutiva da mensagem cristã) e de psicanalistas (zelosos de sua própria ciência que temem ver utilizada como uma espécie de nova serviçal da teologia): mas isso certamente não desencorajou milhões de leitores de se deixarem provocar por uma linguagem evocativa, poética e estimulante. Depois de ter recebido a proibição de ensinar teologia católica e de presidir as celebrações eucarísticas como presbítero, em 2005 Drewermann finalmente declarou publicamente que estava deixando a Igreja Católica.
Essa decisão, por mais dolorosa que tenha sido, ajudou a esclarecer: sejam apreciadas ou não, as declarações de Drewermann não podem ser consideradas oficialmente consoantes com o Magistério eclesial. Mas, esclarecido isso sem sombra de dúvida, podem ser ignoradas como irrelevantes pelos estudiosos de psicologia e teologia?
Desconsiderá-las seria, na minha opinião, um grande erro: Paulo Apóstolo não convidava a examinar todas as ideias para reter as válidas e abandonar as outras (1 Ts 5, 21)?
De fato, ele é inspirado por uma paixão sincera e profunda, tanto pela abordagem psicoterapêutica (à qual ele pede que se aprofunde cada vez mais, até investigar a alma) quanto pela Bíblia (na qual ele encontra uma reserva preciosa de motivações existenciais para enfrentar a angústia que sentimos diante do risco de irrelevância e da certeza da morte). E mesmo quando, como no famigerado volume Funzionari di Dio. Psicogramma di un ideale (traduzido para o italiano pelas edições Raetia), ele levanta algumas críticas realmente radicais ao sistema de recrutamento e formação dos clérigos, religiosos e freiras, não se permite um único ataque ad personam: como padre e como psicoterapeuta, ele está de fato convencido - na escola de Freud, mas também de Jesus - que devemos abster-nos de condenar os indivíduos e, quando necessário, estigmatizar aqueles aspectos das estruturas institucionais (família, escola, igreja, exército, partido, sindicato ...) que mortificam sua dignidade, a autonomia e o florescimento. Portanto, no seu octogésimo aniversário, ninguém - e talvez muito menos ele próprio - pede 'reabilitações' e licenças de ortodoxia. Mas, com essas poucas linhas, seria bom se ele recebesse um sinal de estima e gratidão pelo que quis doar à humanidade com os valores e defeitos de toda obra humana.
Como repetia Tomás de Aquino na esteira de Aristóteles, devemos ser gratos àqueles que nos precederam no caminho da pesquisa, tanto pelo que eles afirmaram de verdadeiro quanto porque, com seus próprios eventuais erros, evitaram que nós os repetíssemos.
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Eugen Drewermann entre Jesus e Freud - Instituto Humanitas Unisinos - IHU