25 Março 2020
Ficamos em casa. Este é o mantra que agora ecoa dentro de nós, nos noticiários, nas nossas páginas sociais e em apoio às determinações que pretendem proteger a população do contágio e da morte por coronavírus. Um antigo ditado, ainda válido, ao contrário, diz: "o assassino tem a chaves da casa”. Refere-se àquelas situações em que homens violentos (maridos, namorados, mas às vezes também pais ou filhos) agridem, humilham, espancam, matam esposas, namoradas, filhas e mães. Em 2018, 142 mulheres morreram por feminicídio. Em média, uma mulher é morta a cada três dias. 85% dos casos ocorrem na família e, para as mulheres, o lar pode ser o local de sua morte violenta. Ou de estupro. Ou de humilhação, física, psicológica, econômica.
O artigo é de Elena Ribet, publicada por Riforma, semanal das igrejas evangélicas batistas metodistas e valdenses da Itália, 27-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Para essas mulheres, as determinações para a emergência Coronavírus podem ser fatais. Faltam programas específicos de proteção, são necessários fundos para os centros antiviolência, é necessária uma revolução cultural, invocada há décadas pelas diferentes expressões do feminismo e por aquelas experiências, infelizmente muito poucas e pouco visíveis, da conscientização dos homens sobre o problema. É muito cedo para fazer a contagem de feminicídios durante o Coronavírus, e gostaríamos de não ter que fazer essa contagem.
Mas nas mídias sociais, desde os primeiros dias de isolamento total, começaram a surgir simpáticas vinhetas nas quais se pedia os advogados de família para se prepararem para um aumento nos divórcios assim que a emergência do Coronavírus terminasse. Esperamos que não tenhamos que dizer o mesmo aos advogados criminalistas.
E é para contrariar de todas as maneiras o silêncio sobre esse assunto e manter alta a guarda das mulheres, da sociedade, das instituições e das igrejas, em particular, que a Federação das Mulheres Evangélicas na Itália (Fdei) publicou um comunicado à imprensa.
Precisamos proteger as mulheres vítimas de violência que são obrigadas a "ficar em casa".
Precisamos espalhar a palavra, a possibilidade de uma saída para aqueles cuja casa não é um refúgio, mas um lugar perigoso. O comunicado da Fdei é acompanhado também por uma adaptação do Salmo 31, como um convite à oração, à esperança, mas sobretudo à conscientização, que é o primeiro passo para sair da violência, que publicaremos a seguir.
Tenha misericórdia de mim, ó Deus,
porque estou angustiada,
ficar em casa não é uma segurança.
Consumidos estão de tristeza meus olhos, minha alma e meu ventre.
Minha vida está gasta de tristeza, e os meus anos de lágrimas.
Sou obrigada a ficar em casa,
sofro por razões de uma convivência forçada e minha força descai por causa da minha aflição,
e os meus ossos se consomem.
Tenha misericórdia de mim, ó Deus, porque estou angustiada,
ficar em casa não é uma segurança.
Eu estou isolada com um homem violento, nada mudou,
o coronavírus não interrompeu a violência,
de meu inimigo me tornei opróbrio, a pandemia favoreceu em mim agressões e violência dentro da minha casa.
Tenha misericórdia de mim, ó Deus, porque estou angustiada,
ficar em casa não é uma segurança.
Mas eu confiei em ti, Senhor; e disse: Tu és o meu Deus.
Os meus tempos estão nas tuas mãos; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos que me perseguem.
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A casa nem sempre é um lugar seguro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU