13 Dezembro 2019
Johann Baptist Metz, pensador católico romano, faleceu em 2 de dezembro, aos 91 anos, conhecido no período pós-conciliar como arauto da "nova teologia política", que tem seu próprio manifesto no livro Sobre a teologia do mundo, publicado em alemão em 1968 e traduzido alguns anos depois. O ramo da disciplina que Metz cultiva, a "teologia fundamental", consiste na exposição das razões da plausibilidade da fé cristã, em estreito diálogo com a filosofia. O mestre de Metz, Karl Rahner, realiza essa tarefa por meio de conceitos derivados do existencialismo: o ser humano é por natureza aberto ao infinito, o que constitui sua profunda aspiração, mesmo quando não tem consciência: a mensagem cristã se insere, por assim dizer, nessa dinâmica, encontrando e realizando esse desejo.
A opinião é do teólogo italiano Fulvio Ferrario, decano da Faculdade de Teologia Valdense de Roma, em artigo publicado por Riforma, 12-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Metz se distancia dessa proposta, considerando que a mensagem cristã deve ser apresentada em uma perspectiva "política", isto é, como resposta à ânsia da transformação do mundo e da história. Esses são os anos dos grandes movimentos revolucionários que encontram eco, em formas diferentes, especialmente nas teologias da libertação latino-americanas. Metz, em diálogo com os autores da "Escola de Frankfurt", começando com Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, desenvolve uma variante europeia da teologia da transformação política: em muitos aspectos, ela constitui uma espécie de paralelo católico à teologia da esperança de Jürgen Moltmann. Metz propõe "uma teologia fundamental prática", na qual, o banco de testes da fé é constituído pelo empenho com a emancipação humana, que encontra sua fonte na mensagem do Evangelho.
Metz e Moltmann são frequentemente criticados pelos teólogos sul-americanos como expoentes de um pensamento europeu e acadêmico (aliás, os críticos são muitas vezes eles mesmos professores, formados na Europa), enquanto os conservadores e, no que diz respeito a Metz, o magistério católico, os observam com suspeita por serem considerados de esquerda e próximos daqueles que na época se definiam "cristãos pelo socialismo".
Alguns anos mais tarde, o pensamento de Metz coloca no centro o discurso sobre Deus "depois de Auschwitz": como é possível crer em Deus diante do Holocausto? A marca de Rahner é bem apreendida no estilo argumentativo rigoroso e filosoficamente robusto: Metz, no entanto, traça o programa de uma "teologia narrativa", que se reporta à paixão de Cristo no contexto do sofrimento dos oprimidos.
Nos anos de João Paulo II e Bento XVI, o pensamento de Metz é bastante marginalizado no âmbito católico e, em geral, a temática política parece menos central. O professor de Münster, entretanto, já aposentado, continua sendo um ponto de referência para quem sonha com uma igreja criticamente alerta e do lado dos menos favorecidos. Sua morte é mais um título que se soma ao século XX teológico: não parece, para dizer a verdade, que o século seguinte manifeste uma análoga criatividade.
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Johann Baptist Metz e a teologia do século XX. Testemunho de um teólogo valdense - Instituto Humanitas Unisinos - IHU