11 Outubro 2019
Nesses dias de Sínodo em Roma, diversas Comunidades Latino-americanas nos pedem para fazer essa Memória História a partir do pensamento e práxis de dom Pedro... Profeta e fiel discípulo do Nazareno.
O artigo é de Jaime Escobar Martínez, publicado por Reflexión y Liberación, 10-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O dia de sua consagração como bispo em 1971, dom Pedro Casaldáliga publicou o que seria a primeira denúncia mundial sobre a situação da Amazônia. Essa ação pelo bem dos pobres e despossuídos lhe custou várias ameaças de morte.
A Carta Pastoral “A Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e marginalização social”, é um interpelante documento histórico que marcar um antes e um depois na defesa dos povos indígenas, do meio ambiente, da situação da mulher e na luta contra a pobreza e marginalidade. É a primeira vez que um bispo de posiciona tão abertamente na bela Amazônia.
Recordando a jornalista Beta Compurbí: “naqueles anos, as terras de Mato Grosso estavam dominadas por superposições de título de propriedade, em herança principalmente, da Lei de Terras de 1850 que repartiu ilegitimamente territórios ancestrais indígenas criando imensas propriedades agrárias de até 7 mil km². Eram terras de pistoleiros, de desamparo jurídico e institucional”, onde a violência era o método com que se resolviam os conflitos. Dom Pedro Casaldáliga enterrou muitos campesinos, sem-terras e indígenas naqueles tempos.
Ao longo de 30 páginas de Carta Pastoral, o bispo Pedro analisa rigorosamente a situação de escravidão e violência em que viviam os povos e comunidades da Amazônia, denunciando os problemas ambientais que, já então, se começavam a perceber e, claro, o genocídio dos Povos Indígenas que os latifundiários estavam levando a cabo com o beneplácito do Governo militar brasileiro.
Explicita isso em sua profética Carta Pastoral, citando o professor Hélio de Souza Reis: “Indiferentes a tudo, [os campesinos] tratam de ganhar o pão de cada dia, pois para eles somente existem dois direitos: o de nascer e o de morrer”.
Em tempos em que quase ninguém falava da causa indígena; quando a preocupação pelo Meio Ambiente não estava em pauta de nenhuma discussão; e quando a pobreza extrema dos peões, frequentemente escravizados, era um assunto longe de qualquer foco midiático ou eclesiástico, a Carta Pastoral de 1971 de dom Pedro, se converte em um documento que sacode o Brasil e que internacionaliza e põe luz sobre a cruel situação econômica, social e ambiental da Amazônia.
O documento eclesiástico teve que ser impresso na clandestinidade, fora da região do Araguaia, pela fiel colaborada de Pedro, a irmã Irene Franceschini: Aquela mulher que, em plena ditadura, levou em uma caixa envolta com um pano, a primeira Carta Pastoral de Pedro Casaldáliga em um avião militar! Quando lhe perguntaram o que levava, ela respondeu “medicamentos, alguma roupa, coisas sem importância... se quiser pode abrir...”!
A carta do bispo Pedro teve eco na maioria de periódicos e publicações de todas partes do Brasil e desencadeou uma revolução em plena repressão militar, quando os interesses econômicos afins ao regime estavam se repartindo pelo Centro Oeste do país nas costas dos povos indígenas, dos peões e do meio ambiente. Assim descreve com precisão o sociólogo José de Souza Martins (1995), “o documento é um dos mais importantes na história social do Brasil”.
Obrigado dom Pedro por este legado que difundimos com alegria no coração, dando Graças por teu bonito testemunho de vida boa para todos e todas em tua querida Amazônia que hoje se expressa com liberdade, canta e dança na mesmíssima Basílica de São Pedro no Sínodo convocado pelo indomável papa Francisco. Graças a Deus!
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A Carta de Pedro Casaldáliga que mudou a Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU