23 Agosto 2019
"Em relação à Teologia da Libertação, muitos insistem em dizer que ela está morta, e que não há mais sentido em fazer as opções que se faz, quando se recebe o anel de tucum; o anel de tucum não deve ser comprado; ele deve ser merecido, deve ser presenteado àquela pessoa que assume a causa da defesa da Vida, não é um prêmio, mas um símbolo de compromisso e memorial das causas do Povo nas causas do Reino", escreve Emerson Sbardelotti, doutorando e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Arte-Vida de Aurélio Fred / Ateliê 15
Em 16 de agosto de 2014, quando escrevi o texto abaixo, que agora retomo e atualizo, não sabia, nem fazia ideia, que a realidade do país mudaria tanto. Um tsunami de ódio, preconceito, fanatismo e fundamentalismo religioso paralisam e danificam a sociedade brasileira. É incrível como um filme, de 25 anos atrás, é tão atual; infelizmente atual. Para as novas gerações e antigas lideranças, este filme é um alerta, uma provocação, uma profecia que não cai e não sai de moda. É preciso estar atento aos sinais dos tempos...tempos sombrios...porém, tempos de resistência e de esperançar o novo.
Olhando os vídeos no YouTube, encontrei-me com um, que inspirou e ainda inspira meus passos na caminhada nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), na assessoria com temas ligados, principalmente a Ecoteologia e a Ecoespiritualidade, Teologia e Literatura e nos últimos anos com a Teologia da Libertação e com a Espiritualidade da Libertação; foi emocionante assistir novamente o filme Anel de Tucum.
Gravado no início da década de 1990, inspirado no livro À Sombra do Galileu, e lançado pela Verbo Filmes em 1994; o filme colocava em discussão uma realidade em que os poderosos sempre conseguiam ter seus direitos atendidos, enquanto a maioria da população pobre, não tinha direitos nenhum, e todos que se organizavam e lutavam a favor da vida contra as mazelas sociais, eram perseguidos e assassinados. 25 anos depois, o que mudou?
De forma geral, piorou muito: em relação à violência: conflitos no campo e na cidade; em relação ao respeito, ao diálogo e ao encontro com outras religiões: preconceito e fanatismo; em relação à fome e a miséria, saúde e educação ainda de péssima qualidade; os direitos humanos desrespeitados; o aumento do desemprego; a acelerada degradação da natureza. Ainda há tempo para impedir o pior!
Em relação à Teologia da Libertação, muitos insistem em dizer que ela está morta, e que não há mais sentido em fazer as opções que se faz, quando se recebe o anel de tucum; o anel de tucum não deve ser comprado; ele deve ser merecido, deve ser presenteado àquela pessoa que assume a causa da defesa da Vida, não é um prêmio, mas um símbolo de compromisso e memorial das causas do Povo nas causas do Reino.
Tristemente, alguns desavisados tentaram rebatizá-lo, dizendo que é o anel do servo. Tentam a todo custo apagar o verdadeiro sentido do anel de tucum.
A Teologia da Libertação está mais viva do que nunca, pois, há muitos pobres no meio de nós! Eu gostaria que estes que pensam e ficam dizendo que ela está morta, que me mostrassem o atestado de óbito da mesma; ou pelo menos me mostrassem o que fizeram como proposta prática para que não se precisasse mais usá-la. O que fizeram com os pobres que estão ao redor?
Quando cheguei em São Paulo, em 2014, para cursar o Mestrado em Teologia na PUC-SP, campus Ipiranga; caminhava diariamente do local onde morava, no Cambuci, até a Faculdade; a cada dois passos, sem exagero nenhum, contava 5 a 6 pessoas dormindo nas calçadas, embaixo de pontos de ônibus e de árvores; retornei para fazer cursar o Doutorado em Teologia, agora em 2019, e constatei, que o número de pessoas dobrou. Nem vou entrar na questão das pessoas desempregadas, que ficam em filas que viram quarteirões a espera de uma entrevista sem saber se terão a vaga de emprego. Nem vou entrar na questão dos imigrantes e das famílias sem teto. Ande pelas ruas de qualquer capital que você verá tudo isso. É a realidade nua e crua, e nada tem sido feito nos últimos 4 anos para resolver esta situação.
Se a Teologia da Libertação está morta, porque é que há tantos pobres nestas condições? Nosso povo está crucificado e não sabemos como fazê-lo descer da cruz!
Assistir a este filme novamente, me fez pensar em tudo isso que escrevi acima, e reafirmar meu compromisso com os mais pobres, pois eles são os que preferencialmente Deus escolheu enquanto povo santo. Reafirmar meu compromisso com a defesa da Vida! Defender a vida é fazer valer a grande e única obra de Deus. Que todos, todas tenham vida, e vida em abundância!
Que mais pessoas assistam o Anel de Tucum, e debatam, comentem, partilhem suas experiências. Há muita coisa ainda a ser feita para que o Reino de Deus possa de fato acontecer.
Sigamos os caminhos do Papa Francisco, que pede nossas orações e nossa ajuda, para que ele consiga fazer as mudanças que deseja. E que sejamos cada dia mais humanos e samaritanos com a dor do outro, pois poderá ser um dia a nossa dor também. Que sejamos profetas e profetisas num país que teme a alegria do Evangelho. Que sejamos sempre construtores de pontes e agricultores de sonhos, utopias e esperanças!
Assista ao filme Anel de Tucum:
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O filme Anel de Tucum – 25 anos depois: e o que mudou? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU