15 Agosto 2019
De acordo com o jornal Ta Kung Pao, dirigido pelo Partido Comunista Chinês (PCC), as escolas católicas de Hong Kong teriam se tornado "centros de formação" para manifestantes pró-democracia e igrejas "abrigos para as massas".
A reportagem é de Claire Lesegretain, publicada por La Croix, 13-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Colocado online na semana passada na internet, um vídeo mostra oito jovens de Hong Kong enquanto participam de um exercício de tiro com pistola de ar comprimido e levantam uma bandeira norte-americana, no telhado de uma escola secundária diocesana, o Colégio Memorial Yu Chun Keung. Não foi preciso mais nada mais para que o jornal chinês Ta Kung Pao (O Imparcial), dirigido pelo Partido Comunista Chinês (PCC) acusasse essa instituição católica de organizar "treinamento para a violência" e o advertisse por ter se tornado "um centro de formação para as massas".
O Colégio Memorial Yu Chun Keung, no entanto, emitiu um comunicado no domingo 11 de agosto para salientar que aquele vídeo, gravado em 5 de agosto, simplesmente mostrava as atividades de seu clube de tiro e não representava de forma alguma as opiniões da escola sobre o protesto geral que abala, desde 31 de março passado, a ex-colônia britânica retornada à China em 1997. Protestos que inicialmente eram contra o projeto de lei do governo que visava facilitar as extradições para a China continental. Mas isso não impediu Kung Pao, o mais antigo jornal de língua chinesa em Hong Kong, de relacionar esse vídeo ao fato de que a paróquia da Mãe do Bom Conselho, durante os confrontos na noite de 3 de agosto entre policiais e manifestantes, tinha aberto suas portas a estes últimos para que pudessem se refugiar em seu interior.
"A igreja acolhe a multidão vestida de preto [alusão às roupas de militantes pró-democracia] e os vizinhos temem que ela colabore com os manifestantes", disse Ta Kung Pao. Citando moradores do bairro, o jornal chinês também afirma que a paróquia católica "se tornou uma base para aqueles que são contra a China".
Não é a primeira vez que a mídia chinesa acusa a Igreja Católica de se envolver do lado dos manifestantes. É verdade que, desde o início dos protestos em Hong Kong, várias paróquias estiveram fortemente envolvidas: os sacerdotes convidaram a jejuar e rezar para apoiar o movimento; alguns líderes estudantis reivindicaram sua fé cristã ... Inclusive apareceram cartazes com a mensagem: "Chega de espancamento, senão cantamos Aleluia ao Senhor". Uma ameaça irônica destinada aos policiais, em referência ao cântico que se tornou um grito de protesto para os manifestantes. Lembramos que em Hong Kong a prática religiosa é livre, a diferença do resto da China continental.
Imagem: Reprodução | UCA News
Outro jornal dirigido pelo PCC em Hong Kong, Wen Wei Po, já havia declarado em 7 de agosto que ter uma capela em uma escola católica permitia que os manifestantes "usassem a religião como uma cobertura para desviar os estudantes". Tanto é assim que na segunda-feira 12 de agosto um voluntário da paróquia declarou ao Wen Wei Po que, após a publicação desse artigo crítico, foi tomada a decisão de fechar todas as portas da igreja após a missa. "A igreja estará aberta apenas aos paroquianos que tiverem um compromisso e com a aprovação do serviço de segurança", declarou o voluntário.
No mesmo artigo, Wen Wei Po também implica com o centro católico e com a livraria diocesana por inserir no Facebook, no dia 2 de agosto, uma animação em que vemos Jesus abraçando dois jovens que têm capacetes e roupas pretas, dizendo a eles: "Meus filhos, estão cansadas? Venham até a minha porta!” O jornal definiu essa inserção por parte dos católicos como um "sinal de conivência com manifestantes violentos".
De acordo com um membro da equipe diocesana, entrevistado pela Ucanews, "na atual situação em Hong Kong, os ataques da mídia não são uma surpresa". Apesar de negar que a diocese tenha tomado posição a favor dos manifestantes pró-democracia, aquele funcionário da diocese explicou: "A mensagem da animação é muito terna. Mostra simplesmente que Jesus oferece abrigo e ajuda aos necessitados".
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Hong Kong. Os católicos como alvos da mídia chinesa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU