16 Mai 2019
O Dia D contra os cortes na educação marcou o início da resistência popular contra a política de ataques aos direitos conduzida pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) e tem tudo para ser um prelúdio para a greve geral de 14 de junho convocada pelas centrais sindicais. A avaliação é do professor Nilton Brandão, presidente da federação de sindicatos de docentes da rede federal de ensino superior e do ensino básico técnico e tecnológico (Proifes).
A reportagem é de Cida Oliveira, publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 15-05-2019.
"Eu tenho a impressão de que as pessoas acordaram. Ou estão acordando. Mesmo aquelas que votaram no governo estão acordando. A mobilização de hoje (15) é uma amostra disso. Houve a demonstração de que a sociedade está unida e disposta a lutar. O metalúrgico, o pedreiro, o trabalhador que está procurando emprego e está quase desistindo. Esse povo tem de saber que existe um projeto de desmanche do Brasil e que o país precisa ser resgatado para sua esperança de futuro", disse.
O engajamento de estudantes, pesquisadores, professores e demais trabalhadores da educação, que lotaram ruas, avenidas e praças em todo o país, pela manhã, tarde e noite, surpreendeu o dirigente. “É um movimento forte, que não se via há muito tempos nas universidades. Nós estamos vindo de um momento de retração do movimento sindical, dos movimentos sociais no seu conjunto; greves entraram em decadência, há muita dificuldade para todo e qualquer tipo de mobilização; as assembleias estavam literalmente esvaziadas e o discurso era para meia dúzia de pessoas, que caía em um vazio apesar de todos os ataques que a gente vem sofrendo desde o golpe de 2016”.
Ataques, segundo ele, que até então pareciam não ser suficientes para tirar as universidades e institutos federais de sua zona de conforto.
"A educação mostrou hoje para o governo Bolsonaro que a universidade não morrerá calada. E isso pode ajudar a sociedade brasileira a sair da letargia, para reagir aos ataques sistemáticos aos direitos dos trabalhadores. É impossível que uma nação seja condenada à miséria por causa de propostas do governo que são totalmente contra os cidadãos. Não dá pra aceitar que o pobre vai ter de ficar mais pobre, morrer na miséria, sem ter a educação como meio de melhorar de vida. Não dá para aceitar que a educação, que é o seu principal insumo de desenvolvimento seja renegada a cortes que a inviabilizará. Não dá para aceitar e ficar quieto".
Para Brandão, a multidão em defesa da educação acordou o conjunto da sociedade brasileira, em especial a classe média, que apesar de ter votado em Bolsonaro possa perceber que cometeu um erro e que precisa corrigi-lo.
Conforme o dirigente, os impactos dos cortes orçamentários são violentos e têm efeitos devastadores sobre a rede federal de ensino superior, que pode ser inviabilizada.
Todos os anos, a partir de agosto, é comum as universidades ficarem de "pires na mão" devido aos contingenciamentos. Ficavam impedidas de comprar mobiliário, computadores e pagar viagens, por exemplo. "Mesmo assim, de uma forma ou de outra, conseguiam chegar ao final do ano. Agora não será mais assim, porque o corte atinge recursos para o custeio. Não poderão ser contratados serviços terceirizados, não haverá recursos para pagamento de conta de luz, de água. De que jeito vão funcionar os cursos noturnos?", questiona.
Brandão chama atenção para o fato de que faltará o serviço de limpeza, de manutenção, portaria. As universidades serão então ambiente insalubre e inseguro já a partir de setembro próximo se nada for revertido. Muitos cursos serão fechados tanto nas universidades como nos institutos federais.
Na área de pesquisa, conforme destaca, o corte de 79% na Ciência e Tecnologia retira praticamente toda a verba, extinguindo diretamente 110 mil bolsas.
"Vão interromper projetos de pesquisa históricos, que serão jogados na lata do lixo. Mais do que ficar defasada, nossa pesquisa será perdida. Vamos ser um país sem perspectiva de soberania. É triste, ruim, desesperador", diz.
A política de desmonte, para o dirigente, antecede a privatização, que vai afetar em cheio a classe trabalhadora, que representa a quase totalidade dos alunos dos institutos federais e mais de 70% daqueles matriculados nas universidades federais. "Quem vai sofrer é o pobre. E esse ataque todo se faz justamente porque a elite está percebendo que o ensino superior federal deixou de ser um espaço seu. Ao privatizar, dá-se um voucher para o estudante, uma bolsazinha para ele cursar o que for possível pagar, de segunda categoria, porque os outros vão ser caros. E vai se fazer uma seleção de tal modo que a elite volta a tomar conta da universidade".
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Dia D contra os cortes na Educação: prelúdio para a greve geral de 14 de junho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU