06 Mai 2019
Quem trabalha na Amazon deve ter muito cuidado com as pausas que faz durante o turno. Nos Estados Unidos, um sistema de rastreamento monitora a atividade dos funcionários e pode determinar automaticamente quem dispensar quando as metas de produtividade estabelecidas pela empresa não forem atingidas.
A informação é publicada por Business Insider Itália, 03-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nos armazéns italianos, a gigante do comércio eletrônico ressalta que apenas coleta e analisa dados agregados de produção, garantindo que no país não há demissões por motivos de desempenho. No entanto, a coleta de dados automatizada não exclui completamente a possibilidade de que, no futuro, sistemas semelhantes também possam ser empregados na Itália para decidir quem manter no emprego e quem, ao contrário, precisa ser substituído.
À medida que cresce o número de pessoas que fazem suas compras on-line, o desafio da gigante de tecnologia torna-se mais difícil: para atender no prazo todos os usuários e encaminhar os pedidos com eficiência, a grande máquina não pode travar. Por esse motivo, são definidos parâmetros objetivos, dos quais os trabalhadores não devem se desviar.
Como declarado em uma carta escrita por um advogado da Amazon para uma ação judicial contra um ex-funcionário e publicada pela The Verge, a eficiência do serviço na América do Norte é garantida por meio de uma "métrica proprietária", ou seja, um sistema de medição que, com base em parâmetros objetivos previamente estabelecidos, monitora e avalia a produtividade de cada trabalhador: o software pode emitir automaticamente avisos e estabelecer eventuais demissões sem a intervenção de um supervisor quando um empregado não atinge as metas de produção determinadas.
Mais especificamente, a máquina também leva em conta o Time Off Task (tempo de suspensão da própria função), que indica por quanto tempo os trabalhadores param durante as suas atividades, gerando um relatório que é avaliado pelos supervisores. Se for uma pausa razoável e motivada, como a necessidade de ir ao banheiro, a advertência é suspensa. Mas uma interrupção injustificada superior a duas horas pode levar a uma demissão, conforme expresso na carta.
Mesmo que se trate de um sistema de levantamento automático, o procedimento que leva à demissão não é instantâneo. Se o empregado receber duas advertências finais ou seis advertências em um período de 12 meses, o fim da relação de trabalho pode ser solicitada: trata-se, portanto, de infrações repetidas ao longo do tempo e, em qualquer caso, o funcionário sempre pode recorrer da decisão dirigindo-se ao gerente geral da divisão ou a uma comissão específica. Além disso, os supervisores podem ignorar o sistema e seus avisos automáticos.
A atenção à produtividade é, portanto, um princípio fundamental para a gigante de Jeff Bezos, e não só do outro lado do Atlântico. De fato, mesmo na Itália, a Amazon definiu metas de produção em nível local: parâmetros que são calculados com base nos valores de desempenho previamente alcançados e avaliados por um longo período de tempo. Como explica um porta-voz da empresa à Business Insider Itália, a empresa coleta e analisa os dados de forma agregada, não no nível da produtividade dos indivíduos, "com o objetivo de verificar o progresso do empreendimento".
Ao contrário dos Estados Unidos, portanto, essa tecnologia não é usada para efetuar demissões com base no desempenho: a baixa produtividade foi, de fato, a razão pela qual perderam o emprego mais de 300 funcionários na unidade de Baltimore em apenas um ano.
"Seria muito grave, ninguém se atreveria a fazer isso na Itália. No centro de triagem de Castel San Giovanni não houve demissões por esse motivo", afirma Fiorenzo Molinari, secretário do Films Cgil de Piacenza. "Os seres humanos são diferentes em termos de capacidade, não são máquinas todas iguais. Você não pode ser demitido porque não atendeu aos padrões: sempre há alguém que é mais rápido que outros", explica o sindicalista. E acrescenta: "É claro que tecnologia para avaliar o desempenho dos funcionários não falta à Amazon. A maioria dos funcionários que operam nesses setores estão "logados", em outras palavras, sei o quanto você produz, quanta distância você percorre, quantos pacotes você arrumou, quanta mercadoria colocou nas prateleiras e assim por diante".
Concorda com ele Massimo Mensi, sindicalista da CGIL, segundo o qual nas unidades da Amazon na Itália não se verifica o que aconteceu nos Estados Unidos: “Em geral, no setor de logística, são usados softwares de medição para calcular a produtividade, mas no nosso país não foi utilizado um sistema que rastreia o desempenho dos trabalhadores e estabelece automaticamente aqueles a serem demitidos com base na incapacidade de atingir determinadas metas".
No entanto, não se pode excluir que a abordagem mude no futuro. Não só porque a demissão por baixo desempenho é prevista pelo nosso sistema legal; mas também porque a Amazon tem o potencial tecnológico para implementar isso.
Um empregador pode, de fato, demitir um funcionário por baixa produtividade se conseguir provar que seu desempenho se desvia dos parâmetros de desempenho definidos por um período de tempo apreciável. Como nos explica o advogado Marco Aloisi, do escritório de advocacia LexNext, "o resultado alcançado pelo trabalhador deve ser menor que a média dos colegas com a mesma qualificação e cargo". Ao calcular o referencial de produtividade, portanto, deve ser levado em consideração todos os trabalhadores designados para as mesmas tarefas naquele departamento, não é possível fazer distinções entre jovens e menos jovens: deve-se calcular a média de todos aqueles que executam a mesma função. "Uma vez avaliada a diferença entre os dois valores - continua o especialista - isso deve ser atribuível apenas ao trabalhador e não à organização da empresa. Finalmente, a conduta deve ser persistente, portanto, considerada em um período de tempo razoável".
A Amazon reiterou à Business Insider Italia que os dados são coletados e avaliados de forma agregada e a análise leva em conta as características de todos os operadores. Em especial, a empresa obtém essa informação "exclusivamente através de instrumentos estritamente necessários para a realização dos trabalhos, como os scanners".
Ora, do ponto de vista jurídico, justamente as ferramentas necessárias para avaliar o desempenho do trabalho (como pistolas/leitores de código de barras) poderiam permitir à Amazon coletar legitimamente dados sobre a produtividade dos funcionários, mesmo na ausência de um acordo sindical específico e/ou uma autorização do órgão do trabalho competente local.
Para utilizar esses dados para fins disciplinares “bastaria fornecer informações adequadas aos trabalhadores envolvidos sobre as modalidades de funcionamento da ferramenta que a empresa disponibilizada, sobre a tipologia dos dados que podem ser coletados e, por último, sobre as possíveis finalidades de uso”, explica Marco Aloisi. Nesse ponto, a Amazon também poderia recorrer, inclusive na Itália, a um software que elabora os dados obtidos para identificar de forma automatizada aqueles que não mantêm os padrões prefixados.
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O robô da Amazon que demite os funcionários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU