23 Novembro 2018
Cinco anos após seu sequestro pelo Isis em Raqqa, na Síria, o destino do jesuíta italiano Paolo Dall'Oglio permanece um mistério. Testemunhas, nunca ouvidas, acusam as autoridades italianas de ter abafado o dossiê, de ter deixado livres os sequestradores conhecidos e até mesmo de ter escondido aos parentes por quatro anos os pertences do padre, retirados do califado por amigos.
A reportagem é de Jérémy André, publicada por La Croix, 15-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nos últimos sete anos, dezenas de milhares de pessoas desapareceram na Síria. Simplesmente desapareceram, nem mortas nem vivas, desaparecidas na névoa da guerra. Entre eles, também está um gigante: o padre Paolo Dall'Oglio. Pode parecer incongruente, mas foi feito desaparecer um gigante, um colosso de ombros largos, uma torrente de vida, um autêntico romano, falador, apaixonado, sanguíneo, um tipo que não desaparece facilmente. Desde jovem, sua desmedida alma havia sido chamada pela imensidão do deserto da Síria, como se Deus quisesse fazer dela sua "Gargantua". Durante trinta anos, seu mosteiro, Deir Mar Moussa, uma espécie de "Abbaye de Theleme" (ndr, mosteiro utópico descrito por Rabelais no final de "Gargantua") na estrada para Damasco, acolheu toda a Síria, intelectuais, camponeses, turistas, peregrinos, ativistas, sunita, alauítas, católicos, cristãos ortodoxos, marxistas, ateus, famílias, hippies, homossexuais, adversários, lealistas, inimigos e agentes de Assad ... O gigante Paolo havia se empenhado em um desafio digno de sua envergadura: unir cristãos e muçulmanos. A louca esperança da "Primavera Árabe" evidentemente galvanizou esse sedento de ideal - chegando ao ponto de apelar para pegar em armas. Um padre revolucionário, como não se encontram apenas nos livros! Então, como em um romance inacabado, sua vida parou no meio de uma frase: "Saudações a todos de Raqqa. Na Síria livre! ", escreveu para seus amigos na noite de 27 de julho de 2013 em seu último e-mail. É então que ele tem um encontro com o Isis.
A organização jihadista nunca reivindicou seu sequestro ou sua execução. Ninguém sabe o que aconteceu com ele. Muitas vozes circularam: morto, prisioneiro, entregue a Bashar Al Assad. Tudo é possível, mas sem fundamento. O mistério de Paolo parece impenetrável.
Em dez meses de investigações, La Croix, no entanto, encontrou testemunhas diretas, que dão os nomes dos sequestradores, chefes do Isis, bem conhecidos. Um deles foi inclusive preso pela coalizão e liberado no último verão. Mas as autoridades italianas não tentaram interrogá-lo nem ouvir aqueles que o acusam. O caso foi esquecido há quatro anos. Tirados do país secretamente, em maio de 2014, os pertences pessoais do padre foram postos de lado e até escondidos da família. Desde o início, o Vaticano e o governo italiano observam o maior silêncio: contatados por La Croix, eles sempre se limitam a garantir que seguem o dossiê. Os parentes não se atrevem a se manifestar publicamente. As testemunhas estão espalhadas, na Síria, na Turquia, em Roma, em Paris, em Berlim, em Estocolmo e em dez pequenas cidades da Europa. Em Raqqa, as provas e os lugares foram atingidos por bombardeios. Tudo contribui para criar o mistério.
Desde o início, a viagem de Paolo ao norte da Síria é um segredo bem guardado. Muito poucas pessoas foram avisadas. No entanto, ele havia falado sobre seu projeto desde a primavera de 2013, por ocasião de um jantar de opositores sírios em Paris. Nada de estranho para "Abuna Paolo", como é chamado em árabe. Desde que o regime o baniu, em junho de 2012, ele só pode retornar à Síria de forma clandestina, portanto secretamente. Está incessantemente em caminho. Ele faz várias idas e vindas entre seu novo mosteiro A Souleimaniyé, no Curdistão iraquiano e a Europa, onde milita pela revolução.
Em seu último e-mail para os parentes, ele explica as razões de sua viagem a Raqqa. Ele quer ajudar seu amigo doutor Mohammed Haj Saleh, nativo de Daqqa. Este último é o mais velho de vários irmãos, um dos quais é o escritor Yassin Al Haj Saleh, famoso opositor comunista aprisionado pelo regime de 1980 a 1996. Dois de seus irmãos, Ahmed e Firas Al Haj Saleh foram presos pelo Isis. "Eu também estou aqui para interceder por eles com o pessoal da Al Qaeda" (não faz diferença com o Isis), explica Paolo à sua família. Ele então anuncia seu plano de viajar para Deir-Ez-Zor, 150 km a sudeste de Raqqa na direção do Iraque, em 29 de julho, por dois dias.
Enquanto isso, Paolo é convidado pelo editor de uma revista local, Youssef Daas, amigo de Al-Haj Saleh. "Aconselhamos a ele que não viesse, mas ele já estava em viagem na Turquia", lembra aquele repórter da velha escola, fumante inveterado, muçulmano pouco praticante, espantado ao receber um padre católico que respeita estritamente o Ramadã, iniciado em 10 de julho de 2013. Youssef é um dos últimos a ter entrevistado Paolo. Agora ele mora no sul da Turquia, em um prédio bastante decrépito, lotado de famílias sírias. Por que queria dissuadir Paolo de vir?
Claro, o regime havia se retirado de Daqqa em março de 2013, mas a "lua-de-mel" da revolução acabou logo. Grupos armados entram em conflito, reprimem manifestações, atacam as minorias, sequestram os ativistas locais e os jornalistas estrangeiros. O francês Nicolas Hénin foi sequestrado pelo Isis em 22 de junho de 2013. Ele revelou isso no Facebook em julho de 2015: Paolo, amigo de sua família, também foi negociar sua libertação.
Os reféns não são a única missão do padre. "Ele pretendia ir para a província de Anbar, no oeste do Iraque", continua Youssef Daas. "Era lá que estavam os chefes do Estado Islâmico. Ele queria se encontrar com Abou Bakr Al Baghdadi. (Este último se proclamaria califa apenas um ano mais tarde, na época era apenas o chefe de um grupo armado iraquiano que havia se inserido a guerra civil na Síria). Talvez para uma negociação entre curdos e o Isis, de que falava Le Monde, em agosto de 2013. Youssef não sabe mais nada: "Ele tinha uma mensagem de Massoud Barzani, o presidente do Curdistão iraquiano, mas manteve isso em segredo."
O padre há tempo apoia e pratica o diálogo com os islamistas, mesmo os mais radicais. Em fevereiro de 2013, ele persuadiu a Al Qaeda a libertar reféns em Qousseir, perto de Homs. Mas ele sabe muito bem que os jihadistas são uma ameaça porque, segundo ele, Damasco os manipula. É justamente o tema de seu mais recente artigo publicado logo após seu desaparecimento, no número de agosto-setembro de 2013 de Popoli, a revista da Companhia de Jesus. Ali denuncia o assassinato do padre François Mourad, em junho de 2013, por um grupo de jihadistas perto de Homs, "controlado pelos serviços secretos dos aliados iraniano-sírios-russos".
Em Raqqa, onde quer que Paulo pise, ele sente um ar que não augura nada de bom. No café Apple, um ponto de encontro dos revolucionários, ele discute com jovens ativistas laicos. "Por que você veio? É uma estupidez!", diz a ele o jovem Hamudi, certa época frequentador de Mar Moussa. Homossexual, Hamudi foi posteriormente capturado pelo Isis. Condenado a ser jogado do alto de um prédio, foi libertado na última hora pelo exército sírio livre. Hoje vive em Berlim. "Eu estava com raiva de Paolo. Na televisão, ele dissera que, se a revolução tivesse levado a um regime islâmico, era necessário aceitá-lo, porque isso é democracia. Ele era uma ótima pessoa, mas ele não tinha senso político".
Paolo também não agrada aos islamistas. Na corte islâmica da cidade, foi atacado por um notável, segundo o qual um cristão não deve se intrometer nos assuntos internos da Síria. E é simplesmente tratado como infiel por um líder de Ahrar Al-Cham, um grupo jihadista que Paolo conheceu em sua sede, onde esperava ser bem recebido. Da parte do Isis, ele inicialmente se recusa a recebê-lo. Os terroristas ocupam a sede da província de Raqqa, um imponente edifício transformado em 2017 em ruínas de concreto pelo bombardeio norte-americano. Em 28 de julho de 2013, após o Iftar, o rompimento do jejum, Paolo foi lá para negociar com os guardas. "Disseram a ele para voltar no dia seguinte ao meio-dia para encontrar o chefe de Raqqa", lembra Youssef Daas, que estava esperando por ele no café Apple. O "governador de Raqqa" - título pomposo dado que o Isis não governa absolutamente a cidade - é o grande chefe do Isis na região, Abu Luqman Al Raqqawi, um dos pais do futuro califado. Nascido em 1973, Abu Luqman é na verdade chamado Ali Moussa Al Ahawakh. Ele é o chefe da espionagem da organização. Ele criou a Amniyat ("segurança" em árabe), os serviços secretos do Isis, responsáveis pelo terror interno e externo, uma espécie de Gestapo dos terroristas.
Com tal encontro marcado, "Paolo se joga em um covil de víboras", lamenta Youssef. Depois de passar pelo Isis, "Abuna" encontrou seus amigos no café Apple. Juntos, eles se juntam a uma manifestação de estudantes. Ele profere um discurso e grava algumas entrevistas. Esses vídeos, os últimos, o mostram "sempre a mil", ele sorri ao rever um de seus discípulos, padre Jens, agora encarregado do mosteiro Souleimaniyé no Iraque.
Mas, na realidade, Paolo está nervoso. No dia seguinte, 29 de julho, na hora de sair, ele reflete por um longo tempo, caminha de um lado ao outro, depois dá suas instruções. "Ele me entregou duas malas: uma sacola e uma mochila", explica Youssef Daas. Ele me disse: 'Se eu não voltar, leva as duas para o padre Jens em Souleimaniyé. Mas espera três dias antes de alarmar as pessoas". No final, outro amigo de Paolo, Mohammed Al Haj Saleh, leva-o ao encontro e deixa-o um pouco antes do edifício do governo, por precaução.
Paolo Dall'Oglio nunca mais reaparece. No meio da tarde, Youssef Daas envia seu filho Iyas e um amigo a perguntar junto a Isis. "Um guarda nos levou ao porão", diz Iyas Daas. Após cinco minutos, Abdulrahman Al Faysal chegou com uma escolta pessoal. Estava com uma balaclava, ele nos ameaçava com sua arma e tinha um colete explosivo (...) ". Também chamado de Abu Faysal, o terrorista que recebe Iyas Daas faz parte do grupo mais próximo de Abu Luqman. "Ele jurou que não tinha visto o padre Paolo e nós saímos, desapontados."
Apesar das instruções de Paulo, a confusão começa desde a noite do dia 29. As redes sociais se agitam. Mesmo sem qualquer equipe no local, a televisão síria de Staot e Reuters confirmam a notícia. Adversários que nunca estiveram em contato com Paulo desmentem.
Outros asseguram que ele foi sequestrado, mas não pelo Isis. Finalmente, conta-se que já foi executado. Os dias passam, o Isis não reivindica, e nenhuma testemunha direta emerge. Nem nunca aparecerá.
Em Raqqa, os amigos de Paolo logo param de procurá-lo. A cidade está a ferro e fogo. O Isis é expulso por um breve período no final do ano, mas improvisamente bate todos os adversários, em janeiro de 2014. Difícil investigar naquelas condições ... "Imediatamente, os homens do Isis nos disseram que tinham matado o padre Paolo, lembra Youssef. Eles disseram que ele teve uma briga com um membro do Isis, Abu Mohammed Al Jezraoui, um saudita. Ele o teria levado de carro e assassinado no caminho". Mas é sempre possível que os sequestradores tenham lhe mentido para acabar com as perguntas.
Em Roma, o centro de crise do Ministério das Relações Exteriores está encarregado do dossiê. O Estado italiano mantém um segredo absoluto. "Na Itália, os serviços não dizem nada à família", explica um membro da família, sempre em contato com os investigadores. Um deles deu-lhe uma razão bastante estranha: "Segundo ele, na Itália ninguém sabe guardar segredo e tudo acabaria nos jornais". Mas se as autoridades estão em silêncio, é também porque não sabem quase nada. "Procuramos por ele ativamente ao longo do primeiro ano, mas não conseguimos nada", confessa Mario Giro, subsecretário de Estado, depois vice-ministro das Relações Exteriores de maio de 2013 a junho de 2018. Uma busca que leva muito a sério, pois se considera "um amigo pessoal" de Paolo.
Desde 1990, esse ex-sindicalista é também um mediador da paz da comunidade de Sant'Egidio. O jesuíta desaparecido sempre foi convidado para conferências organizadas por esse cenáculo de especialistas em assuntos internacionais próximo da Igreja. Muitas vezes envolvida na diplomacia do Vaticano, a associação tenta encontrar testemunhas e iniciar negociações. Em vão.
"O assunto ainda estava quente demais para que algumas pessoas falassem", continua Mario Giro. Mas, acima de tudo, da mesma forma que com os dois bispos sírios que haviam desaparecido alguns meses antes, tudo acaba em uma névoa impenetrável". Em 2013, Sant'Egidio também estava procurando dois bispos ortodoxos que foram sequestrados em 22 de abril perto de Aleppo. "Em ambos os casos, inúmeras testemunhas falsas aparecem, atraídas pelo dinheiro. A verdade está enterrada nesses falsos testemunhos". No início de 2014, Sant'Egidio abandona a busca. "Agora o Vaticano está lidando com isso", conclui Mario Giro.
Quando a investigação termina, novas testemunhas diretas fogem da Síria. Na primavera de 2014, Youssef Daas quer fugir de Raqqa, antes que seja tarde demais. Abre as malas que Paolo lhe dera e encontra celulares, um tablet, alguns cadernos, alguns documentos misturados, algum dinheiro. Ele se livra do supérfluo, ou seja, as roupas, e esconde o resto em sua bolsa. Nas quatorze horas de estrada para deixar o território de Isis, com inúmeros postos de controle jihadistas, teme constantemente de ser revistado e de que seja encontrado o que ele está transportando.
Finalmente chega à Turquia e encarrega um amigo de enviar aquelas malas para as autoridades italianas. "Depois de ter despachado as malas, pensei que a embaixada italiana teria pedido para me encontrar. Mas isso nunca aconteceu". No entanto, os pertences pessoais do padre realmente foram entregues às autoridades italianas, no verão de 2014. Mas o amigo de Youssef Daas não os levou ao consulado mais próximo, como lhe fora dito, mas os vendeu a um intermediário, que verificou todos e depois os remeteu como pacote ... para Paris.
Em Paris, um famoso opositor sírio no exílio finalmente entregou-os a "funcionários da embaixada italiana na França". "Eles não deram a impressão de querer investigar. É como se quisessem fazê-los desaparecer", reconhece aquele homem que conhecera Paolo antes da guerra. Todos esses intermediários recebem pagamento por seus serviços e, sem dúvida, por seu silêncio. A família e a comunidade não saberão nada sobre isso. Eles só vão descobrir isso com assombro no início de 2018, e terão que insistir por meses no centro da crise e com juízes para reavê-los. Enquanto isso, os dispositivos eletrônicos foram formatados. Um dos cadernos continha todos os códigos de acesso eletrônicos. Uma cópia havia sido feita por um dos intermediários e pode circular secretamente, tornando possível o acesso à caixa de e-mail, as contas do Facebook e do Skype de Paolo.
Os parentes continuam a ser profundamente assombrados: os suspeitos foram deixados soltos! Abu Luqman ainda está vivo, de acordo com um pesquisador americano, ele até mesmo teria viajado para a Turquia, Iraque e Líbia, em 2017. Quanto ao seu tenente Abdulrahman Al Faysal, reapareceu e viveria pacificamente em sua aldeia. Ele tinha subido de posto no califado e foi justamente governador de Raqqa em 2016. Em meados de junho de 2018, uma rede de ativistas, "Raqqa é massacrada em silêncio", revela que foi preso pelas Forças Democráticas sírias (FDS), a aliança árabe-curda que retomou Raqqa no final de 2017 ... e que as FDS o libertaram!
A Itália não moveu um dedo. A investigação já foi esquecida há muito tempo. "Por que o Vaticano ou os italianos nunca me interrogaram sobre Paolo?", pergunta Youssef Daas, pouco ciente dos poderes do Vaticano nessa área. Outra testemunha importante reapareceu: Ahmed Al Haj Saleh, aquele que Paolo encontrou para negociar a libertação. Talvez até mesmo com sucesso, já que foi solto duas semanas depois, em meados de agosto de 2013. Desde 2014 vive em uma cidade do centro da França, como Raqqa atravessada como por um grande rio ... "Na prisão, ninguém me disse nada, nem sobre o meu irmão Firas, nem sobre o padre Paolo", explica.
No entanto, o testemunho de Ahmed é interessante: ele conheceu diretamente Abu Luqman e seus homens, incluindo dois sauditas. "Abu Mohammed Al Jezraoui estava no comando da sede, do governo, ele explica. Outro saudita, Abu Joulaibi, tinha autoridade sobre o salão de recebimento. Um homem pequeno e magro, de pele muito escura e particularmente cruel. Eu o vi matar um homem enfiando a perna de uma cadeira em seu olho". De acordo com Ahmed Al Haj Saleh, Abu Mohammed e Abu Joulaibi são aqueles que receberam Paolo quando ele chegou ao prédio. Apesar desses novos elementos, ninguém fala em Roma. Por medo de arruinar uma de suas últimas esperanças, os familiares não se atrevem a criticar a inação do Ministério das Relações Exteriores italiano. Quando perguntado sobre as testemunhas esquecidas e o desaparecimento dos pertences pessoais, o ministério limita-se a responder que "seguimos o caso do padre Dall'Oglio desde o início e com o máximo cuidado, mantendo contato com sua família." Por que as autoridades italianas teriam abafado a investigação? Alguns amigos de Paolo apontam para a proximidade do Estado italiano ao regime de Bashar Al Assad. Apesar de um mandado de captura internacional, Ali Mamlouk, chefe dos serviços nacionais da Síria, teve até oportunidade de se reunir com seus homólogos do serviço secreto italiano em Roma, em janeiro de 2018.
Nem mesmo a Santa Sé deseja comentar o caso. Na Igreja Católica, o caso Dall'Oglio divide. Cristãos sírios próximos ao regime e seus partidários entre os clérigos do Ocidente não perdoaram Paolo. Somente o ex-provincial da Companhia de Jesus no Oriente Médio na época dos acontecimentos, padre Victor Assuad, concorda em falar. Deplora uma "falta de vontade em nível político". Todo mundo tem interesse em evitar que o caso seja esclarecido", admite ele.
Padrei Paolo, fundador da comunidade Al-Khalil, tinha retomado a sua independência da Companhia de Jesus. Seu compromisso radical com os revolucionários sírios havia chocado até mesmo um amigo de trinta anos, como o padre Victor. Mas a cúria jesuíta em Roma deplora que tenha caído no esquecimento. "Quanto tempo temos que esperar para pranteá-lo?", pergunta aquele cristão sírio, que se tornou romano - o caminho inverso daquele de Paolo Dall'Oglio.
Para o quinto aniversário de seu desaparecimento, ao contrário do que é previsto para outros padres vítimas da guerra civil, Paolo não teve direito a nenhuma comemoração oficial. "Agora precisamos cuidar de seu legado, espera padre Victor Assuad, desenvolver o que ele nos deixou, ao invés de nos concentrar sobre o que será talvez para sempre um mistério".
Março de 2011. A guerra na Síria começa na cidade de Deraa, na fronteira com a Jordânia, quando um grupo de adolescentes é preso e torturado depois de escrever nos muros slogans hostis ao regime.
Vítimas. O seu número é estimado em mais de 350 000.
Número de pessoas deslocadas. No país que contava com 23 milhões de habitantes antes do conflito, metade da população teve que deixar suas casas por causa dos combates. Entre as pessoas que restam no país, cerca de 3 milhões vivem em áreas de difícil acesso ou em cidades sitiadas.
Número de refugiados. Mais de 5 milhões de sírios encontraram refúgio no exterior, a maioria nos países vizinhos. A Turquia acolhe a maioria deles, ou seja, cerca de 3,6 milhões. Seguida pelo Líbano (mais de 1 milhão), Jordânia (673.000), Iraque e Egito. Algumas dezenas de milhares de refugiados sírios também se dirigiram para a Europa, especialmente para a Alemanha (600.000).
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O que aconteceu com padre Paolo na Síria? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU