24 Abril 2018
O domingo é um tempo não para estar em produtividade, mas para estar em contemplação, diz o padre François Wernert.
A reportagem é de Élodie Maurot, publicada por La Croix Internacional, 21-04-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para o padre François Wernert, teólogo da Universidade de Estrasburgo, a Igreja carece de uma teologia do lazer para repensar as propostas em torno do domingo.
Em poucas décadas, a pausa dominical desapareceu. Como o senhor explica isso?
Primeiro, há a questão da gratuidade. O domingo era um dia que não era marcado pelo trabalho, pela industrialização, pelo comércio, mas a relação da nossa sociedade com a gratuidade mudou. A segunda razão está ligada com a Igreja. Nos anos 1990, os bispos da França perderam uma oportunidade ao frear as assembleias dominicais na ausência de padres, a pedido de Roma. A partir desse momento, lentamente perdemos a proximidade com os fiéis. Passamos para o “tudo-eucarístico” ou nada. Acreditamos que os fiéis se moveriam, deixariam seus vilarejos para irem à missa longe de suas casas. Não foi o que aconteceu. Os bispos subestimaram as resistências ao deslocamento. Isso fragilizou a pausa dominical.
Paralelamente, o domingo foi investido de todos os tipos de atividades...
O homem contemporâneo continua apreciando muito o domingo, mas agora o vê de maneira privada. O domingo é para o repouso, o bem-estar do corpo, o esporte, a família... Como a Igreja ainda não entrou nesse mundo, ela continua sendo exterior àquilo que afeta os nossos contemporâneos. Falta-nos uma teologia do lazer. Se refletíssemos sobre esse assunto, teríamos uma relação mais positiva com aquilo que o homem contemporâneo vive no domingo. Além disso, a proposição dominical da Igreja certamente não era mais muito nutritiva, tanto na celebração quanto nas pregações, para enfrentar as alternativas que a moderna sociedade do lazer desenvolveu.
Como podemos recuperar o sentido da pausa dominical?
O fundamental do domingo é fazer memória. A ideia do sabbat, do dia livre, não é somente uma obrigação de parar, uma proibição. É uma maneira de fazer memória situando o homem em uma aliança com Deus, com os outros e com a Criação, onde ele está enraizado e é livre. Hoje, parece-me que a abordagem ecológica é uma oportunidade para nós. A dimensão ecológica é também parar para contemplar, dar graças pela vida que estará lá na nossa frente e depois de nós. O domingo é um tempo para não estar em produtividade, mas em contemplação.
A pausa dominical funcionaria como um rito, com uma dimensão repetitiva e coletiva. Existe aí uma dificuldade particular para o homem moderno, que gosta da novidade e vive de maneira mais individualizada?
O homem moderno, de certo modo, manteve os ritos à distância, mas, paradoxalmente, continua sendo um animal ritual. No domingo, muitas vezes, são as mesmas pessoas que lavam seus carros, nos mesmos lugares, no mesmo momento... O homem moderno precisa de ritos, mas, sem dúvida, mais flexíveis do que no passado. Seria interessante que a Igreja refletisse sobre novos ritos dominicais. Por exemplo, que ela pudesse propor tempos de contemplação, uma oração mais aberta, com um gesto ritual, em que as famílias sejam acolhidas tal qual são hoje. A demanda espiritual é enorme. A necessidade de uma pausa também.
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A Igreja deveria repensar seus ritos dominicais. Entrevista com François Wernert - Instituto Humanitas Unisinos - IHU