09 Setembro 2011
Padre François Wernert, premiado semana passada por seu livro O domingo em retrocesso (1), retêm que, em 1990, os bispos franceses não tenham "avaliado adequadamente" as "Assembléias dominicais na ausência do padre" (Adap).
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada no jornal francês La Croix, 05-09-2011. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
Em seu estudo publicado em 2010, intitulado O Domingo em retrocesso, o senhor apresenta um quadro muito lúgubre do número de fiéis que freqüentam as igrejas em cada domingo. Por quê?
Esta situação é certamente fruto da secularização, mas não só. A própria Igreja deveria interrogar-se sobre aqueles que eu defino como "encontros falhados". Em 1990, a Conferência episcopal [francesa] não avaliou adequadamente as "Assembléias dominicais na ausência do padre" (Adap), que se tinham difundido de maneira considerável entre 1970 e o fim dos anos 80. Pelo contrário, insistiu no "recentramento" em torno da Eucaristia, em detrimento das pequenas entidades. Esta decisão foi tomada dois anos após a adoção em Roma de um documento, em 1988, que regulamentava as Adap, sem, no entanto, encorajá-las. Os bispos tiveram medo? Sem dúvida. No entanto, nada os impedia de prosseguir naquela direção. Segundo encontro que falhou: durante certas reestruturações diocesanas, a partir de 1985, foi proposto aos fiéis deslocarem-se aos centros mais importantes para assistir à Eucaristia, e nas igrejas menores se organizaram missas em ritmo irregular. Mas, estas missas são sempre mais escassas, porque os padres são sempre menos numerosos. Organizando aquelas estruturas, os bispos talvez tenham sub-valorizado as reticências dos fiéis em se deslocarem. Os católicos ainda estão ligados ao seu campanário.
A reflexão sobre este problema está em evolução?
No episcopado francês está avançando uma tomada de consciência. Em abril de 2010, os bispos franceses criaram uma comissão dedicada às assembléias dominicais, à qual me solicitaram intervir como especialista. Em muitas dioceses, os bispos recolocam o acento sobre a "proximidade eclesial". Hoje é preciso estar atento à preservação da proximidade entre a Igreja e os seus fiéis, sem, todavia, transcurar o tecido eclesial mais amplo.
Em seu livro, o senhor também afirma que os cristãos devem desfrutar do domingo para dialogar com o mundo.
De fato, é nesse dia que os cristãos podem criar pontos de encontro com associações ou movimentos sócio-culturais que põem o acento na abertura ao outro. Na minha paróquia, encontro regularmente artistas extremamente sensíveis à dimensão estética e à dimensão do repouso e da inspiração. Ora, a Igreja tem um patrimônio artístico formidável. Nesta perspectiva, um diálogo é possível e se pode dizer: "Se procurais repouso e beleza, a Igreja tem algo a propor-vos".
Como podem evoluir as coisas?
Não creio numa mudança repentina, no fato de as igrejas poderem de vez novamente encher-se, pelo menos num breve período. Os bispos estarão mais atentos às pequenas assembléias locais e deixarão de fechar as igrejas? Devemos recordar o Evangelho de Mateus: "De fato, quando dois ou três estão reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles" (Mt, 18,20).
Notas:
1. Le Dimanche en déroute, les pratiques dominicales dans le catholicisme français au début du troisième millénaire [O Domingo em retrocesso, as práticas dominicais no catolicismo francês no início do terceiro milênio], ed. Médiaspaul, 488 pp, 2010. A Associação Europeia de Teologia Católica (AETC), reunida em Viena, lhe conferiu aos 29 de agosto o prêmio de melhor livro de teologia.
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"A escassa frequência dominical é resultado de dois encontros falhados". Entrevista com François Wernert - Instituto Humanitas Unisinos - IHU