13 Abril 2025
"A sabedoria popular alerta: "a mão que afaga é a mesma que apedreja". Aprendamos com ela: nem a ilusão da fama, do aplauso, do sucesso, nem a depressão com derrota, fracasso, desprezo... Importa mais a felicidade de saber cair e levantar, perder mas reencontrar", escreve Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, comentando o relato de Lucas, 19, 28-44, lido nas celebrações do Domingo de Ramos.
O domingo de Ramos abre a Semana Santa. Nesse Brasil cada vez mais dessacralizado - ou com religiões de rebanho e "prosperidade" individualista - a alegria chega com a proximidade do... "feriadão".
Numa dimensão mais espiritualizada, devia ser bem mais que isso: tempo de reflexão sobre a dialética da nossa existência, marcada por Vida, Morte e Ressurreição.
Os evangelhos não são compêndios doutrinários ou normativos, mas relatos de episódios concretos vida de Jesus de Nazaré.
Por isso me atraíram, desde menino. Ao ouvir as histórias, logo as imaginava, como num filme. Essa, da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, às vésperas da Páscoa judaica, aclamado pelo povo simples, de todas as idades, montado num jumentinho, sempre foi especialmente fascinante (Lucas, 19, 28-44).
Mantos e galhos com folhas verdes agitando a chegada de Quem vem em nome do Senhor. E não num fogoso cavalo, como o Imperador Romano ou o governador da província, com seu séquito armado.
"Pisando ramos, o guerrilheiro da Paz", definiu o poeta Murilo Mendes (1901-1935). "Da boca das criancinhas de peito arranquei um louvor", lembrou o próprio Jesus, após expulsar os vendilhões do Templo, ouvindo os "hosanas" entusiasmados da meninada e dos desvalidos (cf Mateus, 21, 16).
O sentimento trágico da vida - título de um livro do filósofo Miguel de Unamuno (1864-1936), que herdei de meu pai - amadureceu em mim com o passar dos anos (e a percepção do lado obscuro de ser e estar).
De novo a narrativa dos evangelhos: o mesmo Jesus aplaudido, louvado e aclamado, pouco depois será preso, debochado, torturado e morto. Os que estavam ao seu lado somem, exceto uns poucos.
A sabedoria popular alerta: "a mão que afaga é a mesma que apedreja". Aprendamos com ela: nem a ilusão da fama, do aplauso, do sucesso, nem a depressão com derrota, fracasso, desprezo... Importa mais a felicidade de saber cair e levantar, perder mas reencontrar. Caminhar!
Por dever de fé, nunca desistamos do ser humano... Há Páscoa!