Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações, músicas e versos de diferentes espiritualidades e religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade.
Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Poema Espiritual
Eu me sinto um fragmento de Deus
Como sou um resto de raiz
Um pouco de água dos mares
O braço desgarrado de uma constelação.
A matéria pensa por ordem de Deus,
Transforma-se e evolui por ordem de Deus.
A matéria variada e bela
É uma das formas visíveis do invisível.
Na igreja há pernas, seios, ventres e cabelos
Em toda parte, até nos altares.
Há grandes forças de matéria na terra no mar e no ar
Que se entrelaçam e se casam reproduzindo
Mil versões dos pensamentos divinos.
A matéria é forte e absoluta
Sem ela não há poesia.
Fonte: Murilo Mendes. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 296
Murilo Mendes (Foto: Acervo MAMM)
Murilo Mendes (1901-1975): Poeta brasileiro nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, participou do Modernismo brasileiro. Foi condecorado com o Prêmio Graça Aranha pela obra Poemas (1930) e integrou o Movimento Antropofágico, que resgatava os valores e as cosmologias dos povos nativos do Brasil como inspiração ética e estética, fora do esquema colonialista tradicional os movimentos artísticos do início do século XX. Mendes teve sua obra marcada por elementos que tratavam de mística, espiritualidade e das crenças populares brasileiras, fato que o levou a ser um dos representantes mais importantes da poesia religiosa. O poeta encontrou na sua conversão ao catolicismo essa visão de religiosidade. Além disso, o poeta é o principal representante surrealista brasileiro, fato evidenciado com a publicação do livro Visionário (1941), onde o autor mistura imaginário e cotidiano.
Entre suas obras, destacamos: História do Brasil (1932), Tempo e Eternidade em colaboração com Jorge de Lima (1935), O Discípulo de Emaús, prosa (1944), Retrato Relâmpago (1973) e as publicações póstumas de A Invenção do Finito (2002) e Janelas Verdes (2003).