“Spes contra spem”, o lema paulino de católicos e leigos

A expressão ‘esperança contra toda esperança’, em latim spes contra spem, provém do Novo Testamento e, mais precisamente, da Epístola de São Paulo aos Romanos (4,18).

A reportagem é de Antonio Carioti, publicada por Corriere della Sera, 25-02-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

O Apóstolo dos Gentios se refere à fé inabalável demonstrada pelo patriarca Abraão, a quem Deus, de acordo com o Livro do Gênesis, prometeu uma copiosa descendência, embora ainda não tivesse tido filhos e já estivesse em idade avançada, com cem anos, assim como sua esposa Sara. De fato, Isaac nasceria mais tarde e Abraão se tornaria, como escreve São Paulo, “pai de muitos povos”, em conformidade com a palavra divina.

Como outras fórmulas da Bíblia, essa também se tornou proverbial: resume de forma icástica a atitude daqueles que não se rendem diante das circunstâncias adversas e continuam obstinadamente a ter esperança, apesar de a razão levar a crer que não há mais nada a ser feito numa determinada direção.

Na década de 1950, o lema paulino spes contra spem foi adotado por Giorgio La Pira, prefeito católico de Florença animado por uma intensa fé religiosa e particularmente comprometido com o tema da paz mundial. Apesar das nuvens ameaçadoras que se acumulavam sobre o nosso planeta devido à Guerra Fria, com as relativas alarmantes tensões entre as superpotências nucleares, La Pira estava convencido de que não se deveria parar de se empenhar e esperar em um futuro de convivência fraterna entre os povos da Terra, alimentando o diálogo entre as partes opostas em nome da pertença comum ao gênero humano.

Deve-se acrescentar que o ideal de “esperança contra toda esperança” não foi adotado apenas por crentes. Até mesmo um leigo por excelência, como o líder radical Marco Pannella, o evocava para dar força às suas batalhas contracorrente em relação à opinião comum, por exemplo, contra a fome no mundo e pelos direitos dos prisioneiros.

A expressão spes contra spem aparece também em uma carta escrita por Pannella ao Papa Francisco pouco antes de sua morte, em 22 de abril de 2016.

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