18 Fevereiro 2025
Presidente disse que Marina Silva “jamais será contra” explorar combustíveis fósseis na região, mas ministra lembrou que há um compromisso assumido na COP28 de eliminá-los.
A informação é publicada por ClimaInfo, 17-02-2025.
Desde que Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) assumiu a presidência do Senado, o presidente Lula não para de defender a exploração de petróleo e gás fóssil na foz do Amazonas. Para fazer valer sua promessa a Alcolumbre de destravar a licença do Ibama para a Petrobras perfurar um poço exploratório no bloco FZA-M-59, no litoral do Amapá, Lula constrangeu publicamente a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Mas, se o presidente e os defensores da exploração de petróleo no Brasil “até a última gota” pressionam cada vez mais o órgão ambiental, servidores de carreira da área de meio ambiente do governo e representantes da sociedade civil lembram que se trata de uma decisão técnica, e não política. Além disso, ampliam os protestos contra o aumento da exploração de combustíveis fósseis, principais causadores das mudanças climáticas.
Na 6ª feira (14/2), no segundo dia de sua visita oficial a Belém, Lula deu uma entrevista pela manhã à Rádio Clube, do Pará. E se semanas antes o presidente isentou Marina de qualquer responsabilidade sobre o suposto “atraso” na licença do Ibama, dessa vez resolveu constrangê-la.
“A gente quer mostrar para o Ibama e para a companheira Marina que é plenamente possível fazer a prospecção de petróleo”, disse Lula. “Eu tenho certeza que a Marina jamais será contra, porque a Marina é uma pessoa muito inteligente”, completou o presidente.
Marina não se fez de rogada. Mais tarde, a ministra participou de um evento no Mercado de São Brás para anúncio de investimentos na preparação da COP30. Ao discursar, lembrou que existe um compromisso de fim do uso dos combustíveis fósseis, definido na COP28 e endossado pelo Brasil: “Ficamos 33 anos discutindo, fazendo regras, criando estrutura. Agora não tem para onde fugir. A decisão foi tomada na COP28: triplicar energia renovável, duplicar eficiência energética, fazer a transição para o fim do uso de combustível fóssil. O Brasil pode ser o endereço dos melhores investimentos. Tem energia limpa e tem de continuar investindo na descarbonização de sua matriz energética, inclusive com hidrogênio verde”.
Durante o evento no Mercado de São Brás, ativistas ambientais e comunidades locais protestaram contra a exploração de petróleo na foz do Amazonas. A manifestação ocorreu com faixas e embarcações de moradores ribeirinhos e organizações sociais, como 350.org, Observatório do Marajó, Rede GTA, Engajamundo e Coletivo Pororoka, informa o Um só planeta. A manifestação destacou os riscos do projeto da Petrobras, incluindo danos irreversíveis ao ecossistema local e à sobrevivência das Comunidades Tradicionais.
Diretor da 350.org para a América Latina e o Caribe, Ilan Zugman afirmou que o governo espalha desinformação ao justificar a necessidade de mais petróleo para financiar a transição energética: “Mais de 80% dos incentivos fiscais oferecidos pelo governo federal para o setor de energia são direcionados para os combustíveis fósseis. O governo federal investe mais de R$ 80 bilhões em subsídios para combustíveis fósseis”.
g1, Correio Braziliense, UOL, InfoMoney, Poder 360 e CNN também repercutiram as falas de Lula e Marina.
Em tempo 1: As artimanhas governamentais para aprovar a fórceps a exploração de petróleo na foz do Amazonas envolvem também eventos públicos com claque formada por defensores dos combustíveis fósseis. Segundo a CNN, o governo Lula planeja fazer um ato pró-exploração de petróleo na foz na inauguração da Unidade de Estabilização e Despetrolização (UED) da Petrobras em Oiapoque (AP), cujas obras devem ser concluídas até o fim de março. O governo planeja inaugurar a UED com a presença de autoridades que defendem a exploração da foz, como o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Segundo a Petrobras, a UED é o que falta para o Ibama liberar a licença. Mas o presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, já disse que tudo precisa ser avaliado por sua equipe técnica, que dará a palavra final. E sem prazo, frisou Agostinho.
Em tempo 2: Com as críticas crescentes à exploração de petróleo no litoral da Amazônia, os defensores dos combustíveis fósseis no governo vêm tentando mudar e “apagar” determinadas referências para tentar diminuir o impacto negativo na opinião pública. Um levantamento do Intercept Brasil nos sites governamentais, no Google Trends e em reportagens expõe essa estratégia sutil – porém impactante – de suavizar o polêmico projeto para explorar petróleo em plena Amazônia. Assim, a exploração da “foz do Amazonas” sumiu de sites do governo, da imprensa e até do Google, dando lugar à expressão “Margem Equatorial”. A própria Petrobras, em seu Plano de Negócios 2025-2029, usa “Amapá Águas Profundas” em vez de foz. Sem falar na insistência de Lula e companhia de chamar de “pesquisa” o que é “exploração” de combustíveis fósseis.