14 Novembro 2024
Manchete de página inteira: ”O pogrom de Amsterdã”. Paralelismos históricos de arrepiar.
A reportagem é de Umberto De Giovannangeli, publicada por L’Unità, 12-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Assim escreve sobre isso o jornalista israelense Gideon Levy. “Um pogrom criminoso contra torcedores israelenses aconteceu em Amsterdã na quinta-feira. Pogroms semelhantes, perpetrados por colonos, ocorrem quase diariamente na Cisjordânia. Os pogroms de Hawara, por exemplo, superaram até mesmo o Holocausto de Amsterdã em dimensão e violência. No dia seguinte ao pogrom nos Países Baixos, os colonos se enfureceram em Surif; dois dias antes, haviam se enfurecido em Al-Maniya”.
Não é suficiente, como lembra Levy: “Enquanto os israelenses eram espancados em Amsterdã, dezenas de pessoas eram mortas indiscriminadamente na Faixa de Gaza, inclusive muitas crianças, como todos os dias. Os pogroms cotidianos na Cisjordânia e, é claro, a guerra em Gaza não foram comparados ao Holocausto; o presidente do Yad Vashem não foi entrevistado a respeito; nenhuma força de socorro foi enviada para salvar as vítimas; o ministro das Relações Exteriores de Israel e o presidente do Knesset não os viram como uma oportunidade para tirar uma foto. Esses pogroms acontecem todos os dias e ninguém se preocupa em relatar a maioria deles”.
Uma crítica que se dirige frontalmente à comunicação mainstream italiana. Levy reitera: “Na quinta-feira, Israel estabeleceu outro recorde para a autovitimização de que tanto gosta, e as mídias estabeleceram outro recorde para a demonização, o exagero, a incitação ao medo e, acima de tudo, a ocultação das informações que não se encaixam com a narrativa que agrada a seus consumidores. Amsterdã ofereceu uma oportunidade imperdível: mais uma vez, os judeus estão sendo atingidos na Europa.
Um torcedor do Maccabi Tel Aviv contou que, no dia anterior, havia visitado a Casa de Anne Frank - que coincidência arrepiante - e o apresentador de rádio quase foi às lágrimas. A correspondente da propaganda israelense de direita e ultranacionalista na Alemanha, Antonia Yamin, explicou que “a Europa não entende o problema”: no último ano, 300 membros de uma família de Khan Yunis vieram para Berlim e alguns deles já são conhecidos da polícia. Gaza também é culpada por Amsterdã. Yamin se esqueceu, obviamente, de mencionar o inferno de onde essa família veio e quem o criou”. A narrativa retórica que apaga a realidade. “É assim - destaca Levy - quando se vive na bolha quente e aconchegante, completamente desconectada da realidade e em total negação, que as mídias israelenses constroem para nós: somos sempre as vítimas e as únicas vítimas; houve um único massacre em 7 de outubro; toda Gaza é culpada; todos os árabes são sedentos de sangue; toda a Europa é antissemita.
Você tem alguma dúvida? Veja "A Noites dos Cristais em Amsterdã”.
Então vamos ver, escreve Levy, a noite Amsterdã, mas com toda a sua gênese.
“E agora os fatos: em Amsterdã alguns torcedores israelenses foram à loucura nas ruas já antes do pogrom: os repugnantes coros de ‘que se danem os árabes' (em hebraico) e a remoção de uma bandeira palestina legitimamente pendurada na sacada de um edifício, quase nunca foram mostrados pelas mídias israelenses, pois poderiam estragar a imagem de antissemitismo.
Ninguém se fez a primeira pergunta que a visão da violência e do ódio em Amsterdã deveriam ter levantado: por que eles nos odeiam tanto? Não, não é porque somos judeus. Não é que não existe antissemitismo: é claro que existe e deve ser combatido, mas a tentativa de atribuir a ele toda a culpa é ridícula e mentirosa. Um vento anti-israelense soprou em Amsterdã na quinta-feira e foi isso que desencadeou o pogrom. Os imigrantes do norte da África, os árabes e os holandeses que se rebelaram viram os horrores de Gaza no último ano. Não estão dispostos a permanecer em silêncio”.
E eles gritam isso bem alto também para aqueles que não têm mais voz em Gaza, porque perderam a vida.
“Para eles”, enfatiza Levy, ”as vítimas são seus irmãos e seus compatriotas. E quem pode ficar indiferente quando seu próprio povo é massacrado de forma tão cruel? Cada garçom marroquino em cada remota cidadezinha holandesa viu Gaza muito mais do que os especialistas em questões árabes em Israel. Nenhuma pessoa decente poderia ficar indiferente às imagens de Gaza. Os revoltados de Amsterdã cometeram uma violência flagrante e merecem ser condenados e punidos. Nada pode justificar um pogrom, nem em Amsterdã nem em Hawara. Mas os tumultos de Amsterdã também têm um contexto e Israel não está disposto a enfrentá-lo. Prefere enviar um guarda-costas com cada torcedor israelense que viajar para a Europa a partir de agora, em vez de se perguntar por que nos odeiam tanto e como esse ódio pode ser aplacado. Afinal de contas, não explodiu dessa forma antes da guerra em Gaza.
Esse é outro custo da guerra em Gaza que deveria ter sido considerado: o mundo nos odiará por isso.
Cada israelense no exterior será, a partir de agora, um alvo de ódio e violência. Isso é o que acontece quando se matam quase 20.000 crianças, se faz limpeza étnica e se destrói a Faixa de Gaza. É uma pequena peculiaridade do mundo: ninguém gosta de quem comete esse tipo de crimes”.
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Levy: “Antissemitismo em Amsterdã? O mundo nos odeia pelos crimes em Gaza” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU