04 Dezembro 2023
"Encolher os ombros agora, porque é muito difícil, negar todas as possibilidades, raciocinar em termos do aqui e agora – ou em termos de ganho eleitoral – significa assumir uma grande responsabilidade diante do curso da história: endossar, e não combater, ideias de destruição e morte. Eu insisto na minha tese: os cristãos do Oriente têm um papel enorme a desempenhar se quiserem ser protagonistas da mudança, não meras engrenagens de algum poder local arrogante!",escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 02-12-2023.
Um amigo da redação da SettimanaNews me pergunta: "O que está acontecendo agora, Riccardo, depois de alguns dias de trégua entre o Hamas e Israel? Qual é a perspectiva, na sua opinião?". Deixo a resposta para a minha página de diário, entre a dureza induzida pela razão e minha confiança que vai além dela.
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Uma lição histórica trágica – outra! – emerge do que aconteceu e continuará a acontecer. No mundo, todos concordam com o que Bill Clinton disse durante seu mandato: "It is all about economy, stupid!". "Tudo depende da economia, estúpido!". A frase se tornou muito famosa. As eleições são ganhas – ou perdidas – apenas no terreno dos resultados econômicos. Este é o sentido. Não é a justiça e ainda menos a honestidade da política internacional que determinam o sucesso.
Eu me pergunto por que no Oriente Médio – especialmente entre israelenses e palestinos – não deveria funcionar da mesma forma, como Bill Clinton nos convenceu. No entanto, o mundo está mudando.
Um sinal? Abramos os olhos: Roma fez papel de provinciana no jogo desigual com Riad, para a Expo. Por razões evidentes: os antigos condutores de camelos são hoje a nova porta de conexão econômica e ultramoderna entre Oriente e Ocidente. Em um processo de transformação tão tumultuado, como explicar, então, que a economia recua diante da guerra em Gaza – um tema relacionado – para dar espaço, mais uma vez, a ideologias e messianismos? Ao ouvir os telejornais, nos últimos dias, pareceria que a economia mundial não tem nada a ver com Gaza.
Mas há algum líder israelense que pode se apresentar para vencer as próximas eleições – quando, mais cedo ou mais tarde, acontecerem – dizendo aos seus concidadãos: "Vamos investir, com a comunidade internacional, no desenvolvimento de Gaza, para transformá-la em um lugar feliz, capaz de trazer parcerias econômicas, mais turismo e simpatia também em Israel"? Ele conseguiria alguns votos!?
Poderia surgir um líder palestino capaz de dizer, por outro lado: "Pedimos a Israel que invista, com a comunidade internacional, no desenvolvimento de Gaza, para torná-la um lugar feliz, capaz de trazer mais turismo e parcerias econômicas também aos israelenses"? Ele poderia obter consenso!? Se, também nós, mentalmente, respondemos "não", significa que não acreditamos, que eles não acreditam, que ninguém acredita. Ou estou enganado?
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Penso, no entanto, que fazer essa pergunta a ambos os protagonistas, assim como aos seus apoiadores internacionais, é uma obrigação. Pode haver novidades no horizonte: podem ser muito importantes. Mas ninguém ousa falar sobre isso. Seria, ao contrário, apropriado tentar. Refiro-me à Rota do Algodão e aos depósitos submarinos no Mediterrâneo Oriental. A Rota do Algodão é um projeto em plena discussão, que deveria trazer os produtos orientais da Índia para o Mediterrâneo, via marítima e terrestre, passando pela Arábia Saudita. O projeto inclui uma ferrovia até o porto de Haifa. E o porto de Gaza? Poderia ser, juntamente com Haifa, o terminal dessa nova geografia do Mediterrâneo!
Fazer de Gaza o terminal inferior da Rota do Algodão poderia agregar à visão global outros países, começando pelo Egito, talvez o Sudão. Juntamente com a exploração e comercialização comum dos recursos energéticos recentemente descobertos no Mediterrâneo, entre Gaza e Beirute, poderíamos pensar em Gaza como um polo comercial e industrial, capaz de torná-la um lugar habitável para seus dois milhões de habitantes, em parceria com israelenses, sauditas, jordanianos e egípcios. Um sonho? Por que não torná-lo claramente um possível e realista horizonte?
Por que fazer essa pergunta hoje desencadeia, nas emoções, algo atávico, profundo. De maneira desafortunada. Até em nós, ocidentais, "cristãos". Desde os tempos das Cruzadas, três interpretações doentias da história exigem que essa terra seja única, prometida e até sagrada para as três religiões. Portanto, essa terra não poderia ser simplesmente compartilhada.
A resposta extrema é sempre "não", um "não" para tudo. "Não" para a esperança, devido a uma razão superior, inalterável, que, na prática, continua a dizer "sim" apenas à destruição. Naturalmente, o efeito emocional funciona de um lado e do outro – e no terceiro – sem solução. Papa Francisco falou com razão de "paixões". Tudo funciona, exceto o que deveria ser o sentimento mais elementar: "Aqui estamos pelo menos em três: será justo encontrar uma maneira de compartilhar, não de nos destruir!"
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A quem importa a Unicidade, a Promessa ou a Santidade? Diz respeito àqueles que acreditam, não a todos os outros. Não faz sentido impor unilateral e de forma oposta esses termos. Exemplos: por que gastar tanto dinheiro para colonizar a Cisjordânia? Além disso, por que convocar à luta extrema aqueles que vivem em Gaza em nome da Mesquita de Jerusalém? Isso não faz sentido para mim. Ou, então, Unicidade, Promessa, Santidade podem assumir outros significados – proféticos – e se tornar um horizonte compartilhado por dois, três e mil?
Gaza, neste momento, demonstra o fracasso de visões desrespeitosas do homem, da história, da cultura, a ponto de transformar um pedaço de terra em um poço de sangue. Árabes, muçulmanos e cristãos habitam lá por séculos e séculos: quem diz que o judaísmo foi importado apenas recentemente está agindo de má-fé ou desconhece que Jerusalém, em todos os livros da era otomana, é descrita como uma cidade majoritariamente judaica. O Estado de Israel existe e tem o direito de existir, mas será mais reconhecido se dentro de limites definidos, respeitando outros limites. Ou não?
Não quero me aventurar em projeções e possíveis divisões. Mas a Confederação israelo-palestina é a perspectiva que vejo como a mais saudável: a do partenariado que, em uma parcela de terra como a que estamos discutindo, não tem alternativas. Mas para que funcione, o extremismo deve cessar de ambas as partes.
Darei outro exemplo. Hoje, diz-se que Israel não teria alternativas além da ocupação militar de Gaza, porque um contingente árabe de paz nunca poderá ser proposto pela comunidade internacional, considerando-os como uma força de apoio aos ocupantes.
Mas se Israel e Arábia Saudita, com Egito e Jordânia, aceitassem e anunciassem um acordo sobre o porto de Gaza como terminal regional da Rota do Algodão, juntamente com Haifa, e como centro da comercialização do gás dos depósitos no lado sul do Mediterrâneo Oriental – com Haifa sendo o centro do lado norte – a força árabe ainda seria percebida como uma força de apoio à ocupação? Não seria talvez percebida como foi por nós, a força dos aliados após as duas décadas do regime fascista e da guerra?
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Os habitantes de Gaza não são diferentes dos outros seres humanos. Eles não são amantes do sofrimento e da morte. Essa é apenas a representação racista e convencida da insanidade alheia. Mas os outros nunca são insanos. A esmagadora vitória de Riad no jogo da Expo prova isso. Eu imagino que, em 2030, executivos, homens e mulheres, estarão tomando coquetéis e tomando banhos de sol em Jeddah, para depois irem a jantares de gala, com champanhe e presunto de San Daniele, em Riad. Não excluo a possibilidade de, até lá, eles poderem visitar a Meca: sem presunto e sem champanhe, é claro.
Os fanatismos de maneira alguma acabaram, mas são, portanto, desafiáveis. Parece plausível afirmar que o curso da história pode virar as costas para eles. Eles ainda têm força do lado deles. Sua derrota pode vir do reconhecimento dos direitos e do bem-estar dos povos. Vamos começar pela verdade clintoniana – "it is all about economy, stupid" – uma verdade discutível, cínica e até perigosa, mas também premissa de um pragmatismo saudável. Isso não apagaria, mas recuperaria uma visão pura da Promessa de Deus e da Santidade da Terra: uma Terra para todos, para a glorificação da imagem do Deus da Misericórdia na humanidade.
Encolher os ombros agora, porque é muito difícil, negar todas as possibilidades, raciocinar em termos do aqui e agora – ou em termos de ganho eleitoral – significa assumir uma grande responsabilidade diante do curso da história: endossar, e não combater, ideias de destruição e morte. Eu insisto na minha tese: os cristãos do Oriente têm um papel enorme a desempenhar se quiserem ser protagonistas da mudança, não meras engrenagens de algum poder local arrogante!
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Diário de guerra (12). Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU