23 Agosto 2023
O assassinato de Bernadete coloca em xeque programa de proteção a defensores dos Direitos Humanos na Bahia. Governador minimiza hipótese de crime encomendado por conflito fundiário.
A reportagem foi publicada por Clima info, 22-08-2023.
O governo da Bahia está revisando seus procedimentos de proteção de defensores de Direitos Humanos após o brutal assassinato da líder quilombola Bernadete Pacífico na última quinta-feira (17/8) em Simões Filho (BA). Mesmo fazendo parte de um programa especial de proteção, Bernadete estava sozinha com os netos no momento do ataque, sem qualquer agente de segurança pública ou monitoramento adequado das câmeras de segurança.
Segundo a Agência Brasil, a Bahia tem atualmente 94 defensores de Direitos Humanos sob proteção, incluindo lideranças quilombolas, indígenas e trabalhadores rurais. Um levantamento da Coordenação Nacional de Articulação dos Quilombos (CONAQ) indicou que, das 30 mortes de quilombolas registradas na última década no Brasil, 11 ocorreram na Bahia.
A morte de Bernadete levanta questionamentos sobre as garantias de proteção oferecidas pelo estado baiano para essas lideranças. O Brasil de Fato destacou as falhas do programa de proteção a defensores de Direitos Humanos no estado, incluindo rondas insuficientes e câmeras de segurança quebradas que deveriam monitorar sua residência 24 horas por dia.
Quanto às investigações, a Polícia Civil da Bahia ainda está trabalhando na identificação dos assassinos. O governador Jerônimo Rodrigues afirmou na segunda-feira (21/8) que a principal linha de investigação aponta para um conflito entre facções criminosas como motivação do crime. No entanto, essa hipótese contradiz o contexto do assassinato, que se deu em meio ao conflito entre quilombolas e fazendeiros por terras.
Pessoas próximas à Mãe Bernadete refutaram essa possibilidade, argumentando que a líder quilombola era frequentemente alvo de ameaças de fazendeiros e grileiros interessados em tomar terras do quilombo. Há suspeitas de que invasores de terras estivessem colaborando com um policial para facilitar a retirada ilegal de madeira do território.
Os familiares de Mãe Bernadete foram retirados do Quilombo Pitanga do Palmares como medida de proteção. Um dos netos da líder quilombola, Wellington dos Santos, compartilhou com o programa Fantástico (TV Globo) seus sentimentos de terror e revolta na comunidade. "Orunmilá nos ensina que a gente deve honrar nossos antepassados. Minha missão na Terra é essa: preservar a memória deles, não deixar aqui que essa história se apague", disse Wellington, que também é filho de Flávio Pacífico dos Santos (Binho do Quilombo), assassinado em 2017.
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Quilombolas cobram governo da Bahia por investigações sobre assassinato de Bernadete Pacífico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU