Sinais ambíguos da civilização. Artigo de Edelberto Behs

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18 Agosto 2023

"A maneira com a qual indústrias e governos lidaram com o plástico e a maneira com a qual a sociedade o converteu em uma conveniência descartável de uso único transformou esta inovação em desastre ambiental mundial", escreve Edelberto Behs, jornalista. 

Eis o artigo.

- Índios produzem e usam plástico?

- Não, eles carregam o que coletam da natureza em cestas de vime.

- Mas que gente mais atrasada! É por isso que não progridem. Não só não progridem como atravancam o progresso.

Em Armas, Germes e Aço”, o autor, o biólogo Jared Diamond, não presume que “os Estados industrializados sejam ‘melhores’ do que as sociedades de caçadores-coletores, ou que a troca desse estilo de vida por uma civilização baseada no ferro (poderia dizer também no plástico) represente ‘progresso’ ou, ainda, que tenha resultado num aumento da felicidade humana. Minha impressão, após ter dividido minha vida entre cidades dos Estados Unidos e vilarejos da Nova Guiné, é que os chamados benefícios da civilização são ambíguos”.

Se Diamond desse uma caminhada pela Rua Vinte de Setembro, que corre ao lado da Av. Imperatriz, em São Leopoldo, fortaleceria ainda mais a sua ambiguidade. No córrego que flui paralelo à rua, ele vislumbraria as “maravilhas do mundo do plástico”.

Sacos de plástico vazios jogados na água dão um “lindo” enfeite às árvores, ao capim, à natureza. Esta é a civilização? Não sabemos descartar o plástico sem sujar o ambiente que nos rodeia.

Imagens cedidas pelo autor

Dados do Banco Mundial, num levantamento de 2019, apontou o Brasil, entre 200 países, como o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. No Brasil, cada habitante produz cerca de um quilo de lixo plástico a cada semana.

"O plástico", informa estudo da WWF, "não é inerentemente nocivo. É uma invenção criada pelo homem que gerou benefícios significativos para a sociedade. Infelizmente, a maneira com a qual indústrias e governos lidaram com o plástico e a maneira com a qual a sociedade o converteu em uma conveniência descartável de uso único transformou esta inovação em desastre ambiental mundial".

Os habitantes originários do Vale do Sinos foram, de acordo com o Instituto Anchietano de Pesquisas (IAP), de São Leopoldo, e o Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (Marsul), de Taquara, indígenas da chamada Tradição Umbu.

Indígenas da Tradição Umbu eram as comunidades nômades que perambulavam pelo Vale do Rio dos Sinos e no Campo dos Bugres, atual Caxias do Sul. Na época da chegada dos primeiros imigrantes alemães, em 1824, os principais grupos que habitavam a região eram os Kaingang, Charrua, Minuano e Guarani, que foram expurgados da área pelos “civilizados”.

Hoje, os “incivilizados” podem apontar para o habitat original e dizer: “Entregamos uma área saudável, com correntes de água doce potável e vocês as transformaram num depósito de lixo”.

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