Em palestra no espaço do IHU ideias, às 17h30, projeto será detalhado com o objetivo de aprofundar as reflexões sobre a poluição urbana da região
No cenário nacional, a eleição do presidente Lula, a volta de Marina Silva para o Ministério do Meio Ambiente e a criação do Ministério dos Povos Indígenas, com Sônia Guajajara à frente, pareciam trazer ventos favoráveis para as pautas ambientais. Porém, com as tentativas de enfraquecimento de ambos os ministérios, com as críticas ao Ibama por não ter fornecido licenças de exploração de petróleo na Foz do Amazonas e com a aprovação do Marco Temporal pela Câmara dos Deputados, ergue-se uma espécie de barreira que tenta conter a mudança de ventos. Por isso, tão importante quanto seguir nessas lutas é compreender que meio ambiente não é só assunto de Brasília ou da Amazônia. Aqui mesmo em São Leopoldo, o Rio do Sinos vem se revelando como uma das fragilidades no desenvolvimento socioambiental da região.
Todos ainda devem trazer na memória as tristes imagens das 90 toneladas de peixes mortos que foram recolhidas do rio. O fato, ocorrido em 2006, ainda é considerado um dos maiores desastres ecológicos do Rio Grande do Sul, pois, além dessas 90 toneladas, a Fundação de Proteção Ambiental do estado, a Fepam, estimou que a quantidade de peixes mortos possa ter chegado a 200 toneladas. Denúncias, investigações e alguns poucos indiciamentos e condenações concluíram que toda a Bacia do Rio do Sinos é vítima do desenvolvimento urbano desordenado, do lixo doméstico e resíduos industriais que a população dos 30 municípios que compreendem a região insiste em despejar em afluentes, efluentes e no próprio rio.
Tendo em vista todo esse cenário nacional e o desejo para que imagens como as de 2006 não sejam vistas novamente, o Programa de Preservação Hídrica e das Sub-bacias do Sinos, o chamado Pró-Arroios, tem sido incrementado. O Programa, estruturado ainda em 2019, durante o Primeiro Encontro do Fórum dos Arroios e Parques Ambientais, visa conhecer em detalhe esses efluentes e afluentes do Sinos. Para se der ideia da importância desta ação, na mortandade de 2006 a contaminação chegou ao leito do Sinos através de um arroio.
Em 2005, havia 80 quilômetros de arroios mapeados. Mas, além de ampliar essa rede, o Pró-Arroios busca conhecer cada um dos pequenos riachos. Assim, mais recentemente se detectaram oito microbacias, contendo cerca de 200 nascentes. E, destas, 50 eram desconhecidas.
Grupo conhecendo um dos arroios, ainda em mata vigem, da Bacia Hidrográfica do Rio do Sinos. (Foto: DEAPPA - São Leopoldo)
Todo esse trabalho, que nasce da mobilização da sociedade civil e do poder púbico, é fundamental tanto para ações de preservação como para buscar recursos a projetos de saneamento. É por isso que o chefe do Departamento de Áreas Protegidas e Parques Ambientais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura de São Leopoldo, Darci Zanini, apresentará os principais avanços do Pró-Arroios. A atividade, transmitida por videoconferência, ocorre dentro do espaço do IHU ideias, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU a partir das 17h30. O evento pode ser acompanhado pelo canal do IHU no YouTube e é aberto a toda comunidade.
A Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos possui cerca de 4.000 km² e integra o Sistema Hidrográfico Jacuí/Guaíba. Ela é basicamente alimentada pelo Rio dos Sinos, fonte de abastecimento de água de aproximadamente 20% da população do Rio Grande do Sul.
Os principais afluentes do Rio dos Sinos são: o Rio Rolante, o Rio da Ilha, o Rio Padilha e o Rio Paranhama. Outros afluentes com menor volume de água como os arroios Sapiranga, Campo Bom, Pampa, Preto, Quilombo, Portão e Sapucaia integram o conjunto da Bacia Hidrográfica dos Sinos.
Esta é uma Bacia que está imersa em um processo de urbanização comprometedor especialmente pela poluição, sobretudo nas cidades de Novo Hamburgo e São Leopoldo. A poluição das águas da Bacia Sinos é provocada por diversos fatores, dentre os quais cabe destacar:
(1) os agrotóxicos usados na produção de arroz na parte mais elevada do curso do Rio dos Sinos nas cidades de Santo Antônio da Patrulha, Rolante e Taquara;
(2) os resíduos gerados pela indústria coureiro-calçadista nos municípios do curso médio do Rio dos Sinos, em Igrejinha, Três Coroas, Parobé, Sapiranga, Nova Hartz e Campo Bom;
(3) os resíduos industriais procedentes de Estância Velha, Portão, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Sapucaia, cidades localizadas na parte mais baixa do Rio dos Sinos;
(4) a ocupação desordenada, com expressivo volume de esgotos não tratados, o que ocorre em toda a bacia.
Mas, infelizmente, todos os municípios que formam a Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos contribuem de alguma forma para a poluição hídrica das águas na região e não podemos medir com exatidão a porcentagem de resíduos químicos ou orgânicos gerada por cada cidade. O que se sabe, com base nos dados científicos produzidos por diferentes instituições, é que os índices de poluição crescem expressivamente nas cidades de Novo Hamburgo, São Leopoldo e Sapucaia do Sul, municípios com elevada concentração industrial e com acentuada densidade demográfica.
A pesquisa busca ampliar a compreensão sobre as ações do poder público frente a ampliação dos riscos da poluição hídrica na região e sua interação com as reações e demandas da sociedade civil organizada em diferentes temporalidades.
No dia 30-05, última terça-feira, foi realizada uma visita técnica dentro do projeto do Pró-Arroios. Confira a descrição feita por Darci Zanin:
“A programação da Semana do Meio Ambiente 2023 do município de São Leopoldo inclui nesta terça 30/05, vista técnica do Pró-Arroios nos afluentes do Kruse, com a participação de Servidores da Secretaria Municipal de Meio Ambiente – Semmam, do Serviço Municipal de Água e Esgotos – Semae e Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social – Sedetec, todos de São Leopoldo, além do Fórum dos Arroios.
A primeira parte da visita foi feita nas nascentes da Sub-Microbacia do Arroio Vila Nova, seguindo o percurso do Arroio até a Microbacia do Arroio Daudt, junto a AEIIA da AFM-SL. A segunda parte foi feita na Praça Josias com a visita na Sub-Bacia do Arroio Kruse, fechando assim o trajeto do curso d'água desde as nascentes até a sub bacia”.
Visita técnica em área que compreende a Bacia do Sinos (Foto: DEAPPA - São Leopoldo)
Darci Zanini (Foto: Prefeitura Municipal de São Leopoldo)
Engenheiro mecânico, é também especialista em Saneamento Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente de São Leopoldo por três gestões. Foi secretário do Meio de Ambiente de São Leopoldo. Representante da Associação Nacional dos Órgãos Municipais de Meio Ambiente (ANAMMA), no Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). É chefe do Departamento de Áreas Protegidas da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMAM) de São Leopoldo.