11 Julho 2023
“O Mediterrâneo está cheio de cadáveres e todas as cidades centrais já possuem um cinturão de bairros marginalizados, onde se começa a preparar, sob diferentes modalidades, novos tipos de confrontos”, escreve Jorge Alemán, psicanalista e escritor, em artigo publicado por Página/12, 09-07-2023. A tradução é do Cepat.
Sem dúvida, o tabuleiro político mundial será cada vez mais complexo. A forma do inevitável confronto que se dará entre os Estados Unidos e a China para disputar a hegemonia do capitalismo ainda não mostrou seu verdadeiro alcance. Este será, sem dúvida, um conflito geopolítico de primeira grandeza. Mas, junto a isso, prepara-se uma nova versão contemporânea de uma espécie de “protoluta de classes”.
Em tempos de expansão do capital fordista, era necessário que as sociedades ocidentais, tanto as centrais quanto as periféricas, tentassem integrar o chamado por Marx “exército de reserva”, com imigrantes e mão de obra barata de diversos lugares. No entanto, a expansão do Capital em sua modalidade tecnofinanceira começa a desacelerar sua marcha.
O neoliberalismo mundial fracassou em suas diferentes estratégias de “integração cultural”. Em diferentes lugares do mundo, proliferam Estados falidos que contêm guetos, cidades marginalizadas e gangues que há várias gerações já não possuem qualquer contato com a vida política e cultural dos Estados em que vivem.
Uma grande multidão de mulheres e homens de diferentes cores, religiões e línguas começa a entender que não terão mais lugar no ocidente cultural. Por isso, o Mediterrâneo está cheio de cadáveres e todas as cidades centrais já possuem um cinturão de bairros marginalizados, onde se começa a preparar, sob diferentes modalidades, novos tipos de confrontos.
Embora seja verdade que o capitalismo prossegue com sua reprodução ilimitada, na imbricação tecnofinanceira, por outro lado, não se produz criação de sociedade, nem de comunidade, no sentido político do termo.
As novas direitas com argumentos neonazistas que chegam ao poder, em diferentes partes do mundo, constituem a nova máquina de guerra construída em uma férrea lógica identitária, que sempre fala aos verdadeiros “nacionais” invocando a anulação, o desprezo e a rejeição com ódio ao Outro estrangeiro.
Essa questão ainda não assumiu a forma definitiva de um antagonismo político e se mantém na ordem das tensões violentas de diferentes tipos. Contudo, não demorará para que esse conflito social adquira um novo patamar em sua escalada violenta. Uma forma política que embora possamos intuir em nossa imaginação, ainda desconhecemos.
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O antagonismo mundial que vem. Artigo de Jorge Alemán - Instituto Humanitas Unisinos - IHU