12 Julho 2022
“O capitalismo em sua essência é uma máquina acelerada que nenhum desastre, seja ecológico, sanitário ou militar, pode frear. Em todos os cenários, nos mais horrendos, o mercado pode continuar e a redução da vida à equação custo-benefício também”, escreve Jorge Alemán, psicanalista e escritor, em artigo publicado por Página/12, 10-07-2022. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Já se sabe que o futuro não constitui enigma algum. A prova é que qualquer série distópica acerta em seus prognósticos. A partir do momento em que a imaginação política não pode mais conceber uma sociedade pós-capitalista e de um modo veraz dar conta da saída dessa ordem de dominação, o mundo parece se dividir apenas entre os que aceleram a destruição e os que tentam preveni-la. Aqueles que mantêm uma atitude preventiva frente à catástrofe potencial em que se vive vão perdendo a batalha frente aos que aceleram a catástrofe.
Na medida em que esse confronto ocorre dentro do capitalismo, no que poderíamos chamar de seu ecossistema, é difícil vencer a batalha contra a aceleração. O capitalismo em sua essência é uma máquina acelerada que nenhum desastre, seja ecológico, sanitário ou militar, pode frear. Em todos os cenários, nos mais horrendos, o mercado pode continuar e a redução da vida à equação custo-benefício também. Portanto, o célebre freio de mão defendido pelas esquerdas e os movimentos populares e nacionais continuarão funcionando cada vez mais acentuadamente de um modo intermitente, no interior de um regime existencial de direitas.
Assim como a pandemia não freou a deriva capitalista, agora a guerra é o novo cenário. Uma cena que consegue mimetizar com o próprio capitalismo. Pela primeira vez, o mundo se envolve com algo cujo limite é desconhecido, não se sabe para onde conduz, nem qual é o seu final.
O foco aparente do grave conflito militar entre Ucrânia e Rússia nada mais é do que a localização de uma guerra no mundo entre aqueles que estão em condições de disputar a dominação mundial do capitalismo: os Estados Unidos e a China. O imperialismo norte-americano, com sua terrível histórico de massacres mundiais, e a expansão tecnológica comercial chinesa, cujo ponto de realização é uma exploração material do mundo, sem se interessar, em razão de sua própria história, pela colonização cultural. Em princípio, esse seria seu principal limite nessa disputa.
Por tudo isso, a grande questão é como, por um lado, mantém-se o freio de mão que impede a ruína dos Estados que ainda assumem suas responsabilidades frente aos setores espoliados e, por sua vez, qual é o ponto de fuga, o novo grande êxodo de uma ordem para a qual agora só resta a guerra mundial para prosseguir sua marcha.
A “racionalidade” das medidas que sirvam para a manutenção do freio de mão, distribuição da riqueza, salários universais etc., não deve temer ser acompanhada de um mito salvífico de natureza emancipatória.
Capitalismo: crime perfeito ou emancipação.
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Capitalismo e militarização do mundo. Artigo de Jorge Alemán - Instituto Humanitas Unisinos - IHU