08 Fevereiro 2023
"O bispo de Roma falou aos congoleses e sudaneses do sul; mas, indiretamente, também à ONU, e portanto, ao mundo, para lembrar que a África não pode ser uma mina da qual se roubam os preciosos minerais, mas um parceiro com quem se deve colaborar respeitando sua dignidade", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 06-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Consolação, denúncia, esperança. Essas três palavras, talvez, possam condensar o sentido de viagem do papa no Congo e no Sudão do Sul, que terminou na última terça-feira, deixando para trás expectativas que, para se realizarem, requerem profundas transformações políticas e sociais.
E, para as Igrejas, exigem uma coragem extraordinária de viver realmente o Evangelho.
No opulento Ocidente, em suas viagens internacionais, o Francisco "peregrino" encontra fiéis que em geral vivem em situações econômicas garantidas e que raramente esperam dele consolação. E agora, na África, ele foi recebido festivamente como aquele que sabe consolar pessoas que, vítimas de guerras, abusos e injustiças, ouvem suas palavras como um bálsamo para poder enfrentar seus dramas. Mas a consolação também foi para o papa que, evidentemente amargurado pelos tantos eventos turbulentos que pairam sobre a Igreja Católica e a Cúria Romana, lá encontrou conforto em seu papel de bom pastor.
Até as palavras inflamadas (“Tirem as mãos da África, tirem as mãos do Congo”), pronunciadas por Bergoglio para denunciar as Potências, os Países e as rixas políticas em Kinshasa para apoderar-se dos enormes recursos minerais do país, financiando guerrilhas que enriquecem poucos e geram fome ou matam muitos, foram aplaudidas pela maioria dos congoleses, esmagados em sua pátria por políticas de rapina.
E assim, no Sudão do Sul, o pontífice implorou aos líderes do Estado para pôr fim a uma guerra civil que - por razões tribais e econômicas - está cobrindo de sangue o país (duas vezes maior que a Itália, e com doze milhões de habitantes) praticamente desde seu nascimento, em 2011, causando muitos milhares de vítimas e forçando dois milhões de pessoas a deixarem suas casas. Mas são precisamente estas que Francisco convidou a não cultivar o ódio, mas, ao contrário, a semente da reconciliação.
O bispo de Roma falou aos congoleses e sudaneses do sul; mas, indiretamente, também à ONU, e portanto, ao mundo, para lembrar que a África não pode ser uma mina da qual se roubam os preciosos minerais, mas um parceiro com quem se deve colaborar respeitando sua dignidade.
E para as igrejas? Ao Sudão do Sul o papa chegou acompanhado do arcebispo de Canterbury, primaz Anglicano, e pelo Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, que também contam com numerosas comunidades do país, de maioria cristã (enquanto o Sudão, do qual se separou, é muçulmano). No que diz respeito à Igreja romana, Francisco não se aprofundou em temas eclesiais que são muito debatidos hoje no Ocidente: mas alguns deles também são sentidos lá, como o status do clero e o papel das mulheres na Igreja. Talvez esses argumentos já apareçam no próximo Sínodo em outubro. E será muito difícil encontrar "remédios" que funcionem bem na África e no Norte do mundo.
O desafio é enorme; as hipóteses, são muitas vezes impossíveis de serem combinadas e, sobretudo, geradoras de divisão. A reforma da Igreja Católica não será um passeio no parque.
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A encíclica africana do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU