03 Janeiro 2023
"É tempo de restauração política! A partir dos esforços de todas as organizações democráticas, criou-se, durante o último período eleitoral, um cenário político favorável à reconstrução do país, que havia abandonado compromissos fundamentais com o meio ambiente, com o combate à fome e à pobreza, com a educação pública e com os trabalhadores".
O artigo é de Sandoval Alves Rocha, doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais pela Unisinos/RS, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (MG), membro da Companhia de Jesus (jesuíta), trabalha no Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), em Manaus.
Vivenciamos um tempo importante de revisão, aprendizagem e reconstrução. Todos os fatos apontam para essa direção. Precisamos aproveitar esse clima para favorecer mudanças profundas na nossa maneira de pensar e agir, alimentando sonhos e protagonismos positivos, mesmo diante das dificuldades que já vivenciamos ou podemos vislumbrar no horizonte.
Influenciada pelo cristianismo, nossa sociedade comemora as festas natalinas, tendo a oportunidade de atualizar o mistério da presença do divino através do nascimento de Jesus Cristo. A chegada de Deus através de um recém-nascido sugere uma mensagem de otimismo e alegria, mostrando que o divino não somente criou a humanidade, mas também quer permanecer junto dela.
Nascendo e permanecendo pobre durante toda a sua vida, esse divino participa da construção da história humana a partir das populações marginalizadas da sociedade. Escolhendo esse lugar, ele transmite uma mensagem de esperança para os últimos da sociedade, mas também indica um caminho a ser seguido para todos os homens e mulheres. Assim, ele resgata a humanidade começando pelos mais esquecidos, restaurando dignidades feridas pelos autoritarismos e por todo tipo de violência.
Trata-se de uma mensagem de reconstrução diante de muitos atos de destruição. Nesse ato de restauração, nos recordamos dos povos indígenas e negros atingidos pela discriminação e escravidão. Nós remontamos às populações das periferias e ocupações urbanas, marcadas pela pobreza e pela falta de serviços públicos. Nós nos fixamos nos moradores de rua, que perambulam sem destino pelas avenidas e becos. Ao nascer pobre e rejeitado, Jesus Cristo se solidariza com toda essa gente, projetando sobre toda a humanidade a esperança de um mundo diferente. A visita de Deus não deixou a humanidade incólume!
É tempo de restauração política! A partir dos esforços de todas as organizações democráticas, criou-se, durante o último período eleitoral, um cenário político favorável à reconstrução do país, que havia abandonado compromissos fundamentais com o meio ambiente, com o combate à fome e à pobreza, com a educação pública e com os trabalhadores. Resgatamos a esperança de sermos novamente um grande país, que busca superar as mazelas históricas causadoras de morte e sofrimento.
Neste novo ciclo recuperamos as expectativas de preservação e cuidado da Amazônia e dos seus múltiplos povos. Reavivamos a esperança de que serão levados em consideração os povos e biodiversidades do sertão, da caatinga, da Mata Atlântica, do Cerrado e dos Pampas. Os indígenas e comunidades tradicionais terão suas terras demarcadas, com a garantia de suas vidas e culturas. Os jovens poderão novamente começar e terminar a faculdade. A educação não será privilégio de poucos, mas será assegurada pela sociedade e pelo Estado, cuja principal função é cuidar do povo. E a saúde? A moradia? E o saneamento básico?
Percebe-se no ar uma sensação de mudança! A esperança domina o ambiente. Quiçá ela nos abra o espírito para engendrar mudanças significativas, pois elas acontecerão somente se nos envolvermos pessoalmente e nos dispormos para que elas ganhem espaço e concretude.
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Tempo de restauração! Artigo de Sandoval Alves Rocha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU