30 Novembro 2022
O padre Felipe Berríos, que está suspenso de seu ministério, renunciou à Companhia de Jesus para voltar a Antofagasta. “É dolorido contar que me senti maltratado pelo governo da Companhia, que tanto quero bem. Suas declarações ambíguas à imprensa foram condenatórias”, criticou.
Felipe Berríos apresentou sua renúncia aos jesuítas para poder voltar a uma ocupação no setor La Chimba, de Antofagasta, na região norte do Chile, como confirmou uma carta enviada a pessoas próximas.
O religioso foi suspenso do seu ministério sacerdotal no último mês de maio, após vir a público uma denúncia por fatos de conotação sexual e, portanto, fixou residência em Santiago, capital chilena, como medida cautelar.
A reportagem é de Alberto González, publicada por BioBio, 24-11-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O sacerdote vivia desde 2014 na Ocupação Luz Divina, no setor La Chimba de Antofagasta, lugar do qual teve que sair após o início da investigação canônica.
No entanto, depois de sete meses sem exercer o ministério, Berríos decidiu acabar com a restrição renunciando à Congregação para voltar a viver no norte do país.
Isto foi comunicado através de uma carta enviada a pessoas próximas, onde garantiu que “este ano tem sido complexo. Por um lado, fui denunciado por atos que não cometi; por outro, estão atribuindo aos meus gestos e palavras conotações que nunca tiveram”.
Nesse sentido, questionou as autoridades de sua congregação, a Companhia de Jesus.
“Uma coisa é que minha forma de ser padre, horizontal e direta, pode ter incomodado ou sido considerada inadequada por alguém, mas não entendo por que o governo provincial insinua em suas declarações que fui investigado por atos que poderiam constituir crimes graves”, criticou.
Nessa linha, ele acusou violações de seus direitos fundamentais, apontando um processo pouco transparente.
“É inaceitável que um cidadão deste país seja submetido a um processo legal que não seja o Estado de Direito. Os meus direitos fundamentais não foram respeitados, em um processo pouco transparente, com tempos ilimitados, meio secreto e meio público, em que sou impossibilitado de me defender em igualdade de condições com os que me acusam”, acusa.
“Por isso, ao mesmo tempo, levei o assunto à justiça penal, à qual todos os chilenos estão sujeitos e que garante processos transparentes e públicos”, afirma.
“Dói dizer a vocês que me senti maltratado pelo governo da Companhia, que tanto amo. Suas declarações ambíguas à imprensa foram condenatórias. Tudo isso em um processo de mídia com vazamentos intencionais que me prejudicaram”, acrescenta Berríos.
Da mesma forma, acusa o Provincial de ter optado mais pelo cuidado da imagem da instituição e da própria pessoa, do que pela busca da verdade e da justiça.
“Pede-me uma obediência que viola a minha liberdade de consciência e atrofia a minha vocação. Nunca deveria ter havido esse dilema; que para viver a minha vocação de jesuíta devo renunciar a ser jesuíta”, lamenta.
“Não estou pedindo tratamento especial, não me parece que querer continuar trabalhando com minha comunidade do norte seja algo que vá atrapalhar a investigação canônica em que estou envolvido, até porque sempre estive disposto a colaborar em tudo o que me foi pedido para esclarecer os fatos”, afirma.
“Devo renunciar a ser jesuíta”, insistia na carta, acrescentando que “é com dor que deixo a Companhia que tem sido a minha família, mas a própria Companhia não me deu outra opção”.
Confira a carta de renúncia de Felipe Berríos.
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Chile. Felipe Berríos renuncia à Companhia de Jesus após ser acusado de abuso sexual e não se sentir apoiado pela congregação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU