22 Novembro 2022
A comunidade está ao redor da mesa eucarística. Atrás dela, está o pároco Werner Otto. Juntos, formam um grande círculo, não é uma posição frontal com o sacerdote de um lado e os fiéis do outro. Essa disposição circular é possível na espaçosa igreja de Sankt Bonifatius, de nave única, com largos arcos ogivais feitos de concreto, um exemplo do expressionismo na arquitetura de Frankfurt.
Na área elevada da abside, está o altar original, que pode ser acessado por meio de uma escada. Durante a celebração eucarística, duas mulheres e um jovem da comunidade explicam a essência dos textos aprovados durante a quarta assembleia do Caminho Sinodal.
A entrevista é de Paola Colombo, publicada por Settimana News, 18-11-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Pe. Werner, você é pároco da Sankt Bonifatius e também delegado do Caminho Sinodal. Em particular, faz parte do primeiro fórum “Poder e divisão dos poderes na Igreja”. Como foi a experiência da assembleia de setembro, especialmente depois da rejeição do texto-base do quarto fórum sobre a sexualidade humana?
Foi um momento muito difícil para o Caminho Sinodal, porque a rejeição do texto-base do fórum “Viver relações bem-sucedidas” feriu as pessoas do Caminho Sinodal que haviam revelado sua homossexualidade ou sua transexualidade, e que disseram ter sido vítimas de exclusão e de abusos por causa de sua sexualidade. Muitas dentre elas saíram da assembleia chorando. Naquele momento, todos ou quase todos tomaram consciência verdadeiramente de que o que está em jogo não são textos, mas as pessoas, o destino das pessoas. Isso ficou evidente agora. Talvez alguns bispos não se deem conta disso, mas nós nas comunidades encontramos continuamente pessoas feridas pela doutrina da Igreja, que praticamente lhes diz: “Não está certo esse seu jeito de ser” ou “Tudo bem esse seu jeito de ser, mas você não pode viver do jeito que quiser”.
Sem essa crise, o restante da quarta assembleia sinodal provavelmente teria tido um desfecho diferente. Em segunda leitura, aprovamos textos que há dois anos eu nunca pensaria que seriam aprovados, como por exemplo o polêmico texto sobre a homossexualidade. Nele, diz-se que nenhum ser humano escolhe sua orientação sexual e que as pessoas foram criadas por Deus em sua orientação sexual. Elas são amadas, estimadas e devem ser tratadas da mesma forma que as pessoas heterossexuais. Essa agora é a posição da Igreja Católica na Alemanha e recebeu a aprovação de dois terços dos bispos. Eu também disse na paróquia que a Igreja Católica na Alemanha já não discrimina mais as pessoas homossexuais. É um enorme passo à frente.
Além disso, na assembleia sinodal daquela tarde, foi decidido que a Igreja precisa de um novo direito eclesial sobre o trabalho que não seja discriminatório. Depois, foi aprovado o importante texto-base do fórum sobre as mulheres. Até onde eu sei, nunca antes a Igreja de um país havia posto em discussão tão claramente o ensinamento da Ordinatio sacerdotalis (1994), pedindo ao papa que o mude. Esse é um sinal importante para as mulheres, e o texto aprovado é de alto nível teológico. Espero que seja lido também na Itália e no Vaticano. Eu trabalho no fórum “Poder e divisão dos poderes”, e para nós obviamente foi muito importante que o texto “Fortalecer a sinodalidade de modo sustentável” tenha sido aceito. Em princípio, isso significa que o caminho sinodal se torna uma direção permanente.
O Caminho Sinodal é uma prática de sinodalidade, e me leva a pensar na antiga máxima: “O que diz respeito a todos deve ser tratado e aprovado por todos”, que é citada para fundamentar a sinodalidade da Igreja em relação à tradição. Recordo também a significativa frase da irmã sinodal Katharina Kluitmann durante a sessão sinodal: “Não é possível que os fiéis devam estar com os bispos, mas que os bispos não estejam conosco”. Isso significa que o argumento da autoridade por si só não é mais suficiente?
Pode-se ver isso claramente, e também acho muito frágil argumentar com o juramento de fidelidade ao papa. Como sacerdote, sou ordenado para o povo e não para o papa, com quem obviamente me sinto ligado. Devemos prestar atenção no modo como a nossa doutrina é recebida pelas pessoas. Não posso me apresentar dizendo: “Caros recasados, divorciados, homossexuais e outros, lamento que o nosso ensinamento os machuque, mas eu jurei fidelidade ao papa”. Isso não é um argumento.
E gostei muito do que Helmut Dieser, bispo de Aachen, disse no fim da assembleia de setembro: “Sou um conservador, mas o conservadorismo aqui no Caminho Sinodal é realmente fraco”. Acho importante que haja a voz conservadora no Caminho Sinodal, mas não é um argumento dizer que sempre foi assim nem mesmo dizer: “Este ponto ainda não está claro, temos que nos atualizar”. Caros bispos conservadores, discutam, intervenham, coloquem-se no nível da discussão teológica. Se quiserem ser ouvidos, vocês têm que participar.
Por um lado, o nível teológico é necessário, porque fornece as “ferramentas” argumentativas para as reformas na Igreja. Por outro, é justamente isso que é criticado: o Synodaler Weg seria um processo apenas para iniciados, para teólogas e teólogos, enquanto as comunidades, a base, não o seguem. Como pároco e sinodal, o que você acha?
Não é verdade que não o seguem. É nossa tarefa explicá-lo na base. O texto aprovado do fórum sobre as mulheres tem 30 páginas. Não se pode esperar que todos o leiam. É nossa tarefa como padres e colaboradores pastorais explicar os textos às pessoas nas comunidades. Se a base não segue, é nossa culpa não falarmos sobre isso. O Caminho Sinodal é o processo mais importante da Igreja Católica na Alemanha, e todos os que trabalham na Igreja têm o dever de se ocupar dele e de informar os outros.
Entre os padres de outras paróquias, encontrei algumas vezes uma falta de interesse pelo Caminho Sinodal, senão até uma recusa a priori sem ter lido os textos. Eles têm a impressão de que a autoridade do sacerdócio e do episcopado está sendo questionada pelo Caminho Sinodal. Temem pela sua função e pela sua identidade como sacerdotes. Como esses medos podem ser afastados?
Teologicamente, distinguimos um duplo sacerdócio: o “sacerdócio comum”, do qual participam todos os fiéis, e o “sacerdócio de serviço”. O segundo não é assim chamado por acaso, mas recebe sua orientação da instrução de Jesus em Mt 20,26-28: “Quem quiser ser o maior entre vocês, seja seu servo, e quem quiser ser o primeiro entre vocês, seja o seu escravo. Como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos”. Como Jesus entendeu sua missão como serviço ao povo, os sacerdotes também devem fazer isso. Mas um servo serve apenas quando pergunta a seu senhor como deve servir. Caso contrário, não é um servo, mas um dominador que finge ser um servo.
Isso significa concretamente que não pode haver uma função de liderança na Igreja sem a participação efetiva dos fiéis! Caso contrário, não é um sacerdócio no sentido de Jesus. Além disso, ninguém no Caminho Sinodal pretende privar os padres e os bispos de sua tarefa e de sua responsabilidade de liderança. Queremos que os bispos desempenhem o papel de guia, mas junto com os fiéis. E é uma alegria quando as pessoas participam. Desse modo, todos ficam mais satisfeitos, e as decisões também serão melhores quando tomadas em conjunto. Em suma, não devemos temer a mudança. Em vez disso, devemos ter medo do que acontecerá se não mudarmos, porque então as nossas igrejas logo estarão completamente vazias.
Por fim, gostaria de dizer aos sacerdotes de outros países que são céticos em relação ao Caminho Sinodal: queridos coirmãos, a crise dos abusos também afetará vocês. Na Alemanha, pensávamos que ela dizia respeito apenas aos Estados Unidos e à Irlanda, até que os casos de abuso e seu encobrimento se tornaram conhecidos aqui também. Até mesmo na Itália muitos escândalos ainda serão descobertos, até no Vaticano. Só posso aconselhar a não cometer os erros que cometemos na Alemanha. Não tentem adiar e encobrir. Tomem o problema em suas mãos e trabalhem ativamente contra os abusos na Igreja de vocês.
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Caminho Sinodal em nível paroquial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU