21 Novembro 2022
A visita ad limina dos bispos alemães ao Vaticano não foi caracterizada por pura harmonia. Quem conta isso é o jornalista e correspondente do Vaticano Jürgen Erbacher. Especialmente o Caminho Sinodal Alemão parece ser uma pedra no sapato.
A entrevista é de Tommy Millhome, publicada por Dom Radio, 19-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
As coisas ficaram muito agitadas durante a visita dos bispos alemães a Roma, não é?
Sim, podemos dizer isso. Especialmente ontem, último dia, quando houve um encontro de todos os bispos alemães com vários chefes de dicastérios vaticanos. E no qual se falou do Caminho Sinodal, o grande projeto de reforma dos católicos alemães no qual bispos e leigos juntos buscam reformas também como resposta ao escândalo dos abusos.
Nessa ocasião ficou claro mais uma vez que existem reservas extremas por parte do Vaticano contra o conteúdo, o método e até as propostas do Caminho Sinodal. Creio que os bispos alemães não se deixarão desanimar e vão querer continuar o seu caminho. Portanto, será interessante ver como a situação se desenvolverá nos próximos dias e semanas.
A primeira coisa divulgada foi um comunicado conjunto dos bispos alemães e de um grupo de cardeais da Cúria, ou seja, um comunicado da Santa Sé e da Conferência Episcopal Alemã. O que diz exatamente?
Por um lado, descreve um pouco como foi o dia, como o bispo Bätzing, na função de Presidente da Conferência Episcopal Alemã, mais uma vez descreveu em detalhes a origem e o objetivo do Caminho Sinodal.
No meio tempo, também foi publicada a declaração do Bispo Bätzing, na qual se lê que ele cita novamente o estudo MHG de 2018, que demonstra a existência de estruturas na
Igreja Católica que favoreceram os abusos e os acobertamentos e que essas estruturas devem ser visadas.
Ele também enfatizou claramente mais uma vez que os bispos alemães não querem seguir um caminho especial, mas querem resolver localmente aquelas questões que eles podem resolver no âmbito de suas competências. Obviamente, eles querem levar os outros assuntos para um diálogo em nível da Igreja universal.
Do lado do Vaticano, algumas linhas vermelhas foram claramente indicadas, por exemplo, no que diz respeito à ordenação das mulheres. Mas também outros pontos foram claramente considerados fora de discussão. Isso aparece claramente no comunicado conjunto, onde os pontos são claramente indicados. Por exemplo, em relação à antropologia, o Vaticano diz: “Vocês estão exagerando com os documentos que produziram”.
O que essa reação do Vaticano significa agora para o Sínodo Mundial convocado pelo Papa Francisco?
Um representante do Vaticano havia sugerido aos alemães que declarassem uma moratória no Caminho Sinodal, ou seja, que suspendessem os debates com o objetivo de deixar primeiro progredir o processo sinodal mundial. Depois, as discussões sobre o Caminho Sinodal poderiam ser retomadas.
A grande maioria dos bispos alemães obviamente recusou. Isso emerge claramente do comunicado conjunto. Naturalmente, querem introduzir [no Sínodo Mundial] as posições que estão sendo discutidas na Alemanha. Acredito que no final tentarão encontrar mesmo depois do encontro uma solução de alguma forma. Como encontrar um meio-termo, se os alemães vão em frente, mas ao mesmo tempo querem levar todas essas coisas para o processo sinodal mundial? O bispo Bätzing também sublinhou que as questões discutidas pelos alemães também são objeto de discussão no caminho sinodal mundial. Portanto, os alemães consideram o que estão fazendo como uma contribuição para o processo mundial.
Os bispos alemães mostram unidade entre si em Roma?
Não, o Presidente também destacou várias vezes na conferência de imprensa que as diferentes posições dentro da Conferência Episcopal Alemã emergiram várias vezes durante as discussões.
Há sempre uma narrativa que diz que a minoria não está sendo ouvida. De fato, os bispos que não querem as reformas são claramente uma minoria. Portanto, considero importante que todos os presentes em Roma tenham tido a oportunidade de falar e apresentar suas posições. Deste modo, foram ouvidos também aqueles que não querem as reformas propostas no âmbito do Caminho Sinodal. Em vários momentos, também perguntaram aos cardeais do Vaticano o que é permitido. E foi interessante notar que as autoridades do Vaticano muitas vezes parecem não ter dado nenhuma resposta. Pelo menos até agora nenhuma porta foi fechada durante a visita ad limina – ou pelo menos não é conhecida.
Falou-se também da situação na arquidiocese de Colônia?
De acordo com o bispo Bätzing, presidente da Conferência Episcopal, foi discutida duas vezes a situação na arquidiocese de Colônia. Uma vez no encontro com o chefe do dicastério para os bispos e depois também na longa audiência papal na quinta-feira.
Não houve menção à pessoa do cardeal Woelki, mas foi dito claramente, segundo o bispo Bätzing, que a situação está se tornando cada vez mais difícil e insuportável, tanto para os fiéis quanto para o cardeal. Portanto, uma decisão é solicitada. O papa teria reiterado em detalhes o que o move na questão e a razão pela qual ele está agindo da forma como está no momento, ou seja, que está esperando. Mas acredito que era importante para todos que o assunto fosse abordado e que certa urgência fosse sinalizada também em relação a uma decisão papal. No entanto, o papa não dá maiores indicações sobre se, quando e como ele decidirá.
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“Reservas extremas contra o caminho sinodal alemão. Entrevista com Jürgen Erbacher - Instituto Humanitas Unisinos - IHU