25 Janeiro 2022
Volta à tona a horrível história do padre alemão Peter Hullermann, transferido por pedofilia – nos anos 1980 – de uma diocese a outra e posto novamente em contato com crianças devido à falta de vigilância do então cardeal de Munique, Joseph Ratzinger. Trata-se de uma pedra para a Igreja inteira, mais do que para o Papa Emérito.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 24-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
De fato, é um caso emblemático que nos faz entender como no passado o Vaticano, sob o pontificado de João Paulo II, geralmente tratava os casos de abuso, transferindo os monstros para trabalhar em outros lugares, obrigando-os a fazer tratamentos psiquiátricos, mas raramente expulsando-os ou denunciando-os às autoridades para serem processados, como deveria ser. O nó era sistêmico, dizia respeito a toda a Igreja e às “regras” vaticanas em vigor.
Após a publicação do relatório sobre os abusos sexuais ocorridos nos últimos 70 anos na Arquidiocese de Munique, o Papa Emérito Bento XVI – com a honestidade intelectual que sempre o distinguiu – pegou papel e caneta para se corrigir e admitir que efetivamente participou, na época em que era arcebispo de Munique, da reunião do dia 15 de janeiro de 1980, na qual se tratou do caso Hullermann, antes da sua chegada da Diocese de Essen.
Ele também participou daquela reunião: portanto, ele não podia não estar a par de que, no seu território, estava prestes a chegar um pedófilo conclamado. Pouco depois, seu vigário geral o designou para uma paróquia.
Ratzinger, em uma declaração assinada por Dom Georg Gaenswein, pediu desculpas pelo erro de uma declaração anterior (na qual afirmava que nunca soubera nada sobre Hullermann), sublinhando que não se tratou de má-fé, mas de um erro durante a sua redação, relativa a fatos de 40 anos atrás, especificando, porém, que, naquele contexto, não foi discutida – como ocorreu mais tarde – a atribuição de uma paróquia de Munique a Hullermann (onde infelizmente ele continuou violentando outras crianças).
Naquela reunião, só se discutiu se ele deveria ser acolhido ou não para um tratamento psicoterapêutico por parte de um renomado psiquiatra de Munique. Ratzinger – segundo o que foi afirmado – jamais soubera que uma paróquia seria depois designada para aquele padre pelo seu vigário geral.
Conhecendo as dinâmicas normais de gestão que existem dentro de uma diocese (onde tudo é centralizado e hierárquico), parece bastante difícil que um vigário geral decida com total autonomia a atribuição de um cargo paroquial a um pedófilo conclamado que está sendo tratado por um psiquiatra sem a autorização do superior, embora a Diocese de Munique, sendo muito grande e vasta, pudesse ser uma exceção.
Soma-se a isso o fato de que o vigário geral pode ter agido de forma autônoma, pois as regras normalmente aplicadas na época (em todo o mundo) previam muitas vezes a reinserção dos abusadores. Na ausência de outros elementos, no entanto, parece autêntica a honestidade intelectual do Papa Emérito, o primeiro pontífice da história que realmente endureceu as penas canônicas contra os pedófilos, introduzindo medidas severas sob o seu pontificado.
O caso Hullermann é um dos quatro que são contestados a Ratzinger no relatório de mais de mil páginas apresentado na quinta-feira passada em Munique pelo escritório de advocacia Westpfahl Spilker Wastl, encarregado pela Diocese de Munique de realizar um exame dos abusos sexuais ocorridos na Baviera de 1945 a 2019, incluindo o período em que Ratzinger governou como arcebispo (1977-1982).
Peter Hullermann provinha da Diocese de Essen, onde abusou de vários menores. Por isso, foi transferido para Munique para se submeter a psicoterapia. Em 1980, a diocese o empregou em uma paróquia, colocando-o novamente em contato com crianças.
O vigário geral de Munique, Gerhard Gruber, em um relatório de 2010, assumiu toda a responsabilidade. Naquela ocasião, Ratzinger declarou que ele “não estava presente” na reunião em que foi decidida a transferência de Hullermann, mas os documentos estudados pela comissão mostravam o contrário.
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Pedofilia: Ratzinger admite que sabia de padre abusador, mas afirma que não foi ele quem o transferiu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU