16 Novembro 2021
"O mundo no vax da Igreja é composto pelos chamados "tradicionalistas". Mas agora eles correm o risco de comprometer a credibilidade de toda uma frente, deixando aos progressistas o caminho livre para o futuro", escreve Francesco Boezi, em artigo publicado por Il Giornale, 14-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Igreja "tradicionalista" vive mais um divisor de águas. Oito anos de finíssimas e estruturadas críticas doutrinárias contra o Papa para depois cair ao nível da conspiração no vax. E se há um gol contra que arrisca comprometer a credibilidade dos católicos mais extremistas, é o das posições sobre a pandemia do Covid-19.
Uma atitude da qual já falamos e que pode afetar a confiabilidade cultural de toda uma "frente", além de tornar o jogo desigual para o futuro do catolicismo.
Claro, não seria correto generalizar. No entanto, é difícil não notar como os proponentes das dúvidas sobre a vacinação e outras medidas para combater a propagação de coronavírus sejam, no que diz respeito ao hemisfério Católico, mais ou menos os mesmos eclesiásticos que criticaram os Sagrados Salões desde que Jorge Mario Bergoglio subiu ao trono de Pedro. Eles vão de Monsenhor Carlo Maria Viganò, que é o mesmo ex-núncio apostólico no memorando pelo qual foi até sugerida a renúncia do pontífice (um documento desmentido totalmente pela Santa Sé com argumentações inatacáveis), ao cardeal estadunidense Raymond Leo Burke, um dos signatários dos dubia sobre a exortação apostólica Amoris Laetitia e que sempre se destacou pela sua intransigência em nível doutrinal. Personagens certamente muito diferentes, mas unidos pelo fato de não serem “guardiões da revolução” concebida pelo Papa Francisco.
Não é nenhum mistério que as argumentações de Burke, Viganò e outros, pelo menos antes do advento da pandemia, tenham abertos brechas numa parte da chamada "base católica". Mas é igualmente indubitável que, com as posições assumidas sobre a vacina e afins, os tradicionalistas arriscam-se a uma crise generalizada, dentro e fora da Igreja, investindo sobretudo na confiabilidade das posições dos consagrados conservadores. A fase atual é um divisor de águas: vale para a política quanto para o Vaticano. E inclinar-se para teorias anticientíficas e de conspiração, especialmente à luz da eficácia comprovada das vacinas contra o Covid-19, comporta consequências.
A emergência sanitária, mais cedo ou mais tarde, vai acabar. Entre as coisas que permanecerão inalteradas, no entanto, certamente estará o debate sobre o futuro da Igreja Católica. Com os progressistas e suas ambições de Ecclesia adaptada ao mundo e os conservadores com seu "buen retiro" na absoluta fidelidade à doutrina e ao Catecismo. E quando o mundo colocar o nariz fora da pandemia de forma definitiva, haverá perdedores e vencedores: porque na história isso sempre acontece.
Como já existem elementos para poder definir "vencedores" aqueles que, em nome da ciência e da solidariedade coletiva, escolheram o caminho da vacina, é natural perguntar que tipo de peso político têm aqueles que propagandearam a antivacinação. Com toda a probabilidade, as vozes dos perdedores serão abafadas se não diretamente rotuladas como cômicas. O que já ocorre em parte, no que diz respeito à frente no vax católica ou não.
Os católicos conservadores, que em si mesmos constituíam uma minoria firme nas lógicas de poder da Igreja, poderiam perder ainda mais (e talvez de forma definitiva) terreno em favor daqueles que, em vez disso, imediatamente se posicionaram pela derrota da pandemia com as armas que a ciência colocou à disposição. Uma fase delicada, portanto. Até porque culpar o destino da humanidade por algo que Deus não é, representa uma transição complexa para aqueles que creem. As vacinas não foram inventadas outro dia, e resulta cada vez mais difícil entender a razão de algumas teorias entre conspiração e retrocesso.
Para aqueles que, como conservadores, querem se consolar no caminho da não aversão à ciência, permanece a via do Papa Emérito Joseph Ratzinger, que está devidamente vacinado e que nunca - podemos com segurança dizer - teria concordado com a explosão das instâncias no vax no Vaticano.
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O gol contra tradicionalista sobre as vacinas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU