21 Outubro 2021
“Em 'The Human Scaffold', Josh Berson defende sua tese de que a tecnologia não existe por si mesma. Está nos mudando. Precisamos retornar ao nosso eu físico. Precisamos nos reconectar, apreciar, honrar e, com sorte, construir o que quer que esteja por vir, sobre essa base”, escreve Jon Magnuson, diretor-executivo da Cedar Tree Institute, no Michigan, EUA, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 20-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Capa do livro “The Human Scaffold: How Not to Design Your Way Out of a Climate Crisis”, de Josh Berson (Foto: Divulgação)
Prepare-se para passear. Em “The Human Scaffold: How Not to Design Your Way Out of a Climate Crisis” (“O andaime humano: como não projetar suas saídas para a crise climática”, em tradução livre), o antropólogo Josh Berson convida os leitores a um mundo que inverte os argumentos convencionais sobre como nós estamos melhores preparados diante dos desafios da mudança climática no século XXI.
Sua tese se desdobra em cinco complexos e interligados capítulos, mas a mensagem final é clara: a tecnologia não nos salvará. Berson diz que nós necessitaremos nos adaptar mais sábia e rapidamente para todos vivermos mais levemente no planeta.
Os ambientes em que nos encontramos vivendo, escreve ele, muda muito nossa fisiologia, nosso intelecto e nossas emoções. É onde, argumenta ele, nós necessitamos dar de um lugar melhor para nossa atenção e nossos compromissos.
Josh Berson é uma força da natureza. Ele já foi nomeado para dois institutos Max Planck e é o autor de “Computable Bodies: Instrumented life and the human somatic niche” (“Corpos computáveis: vida instrumentada e nicho somático humano”, em tradução livre, publicado em 2015) e “The Meat Question: animals, humans and the deep history of food” (“A questão da carne: animais, humanos e a profunda história da comida”, em tradução livre, 2019). Ambos livros se tornaram respeitados, explorações que levantam profundas questões éticas e morais sobre a dieta moderna e a tecnologia.
Ele é alguém que ao fim pretende seguir o que fala. Nas entrevistas, Berson é citado como dizendo que seu objetivo pessoal é criar um estilo de vida pessoal e satisfatório para viver com duas mochilas.
O “andaime humano” do título do livro refere-se a um modelo conceitos que é usado como metáfora na filosofia da evolução – atravessando escalas do tempo, espaço e complexidade social.
Envolve a construção de estruturas sociais e culturais fortes e duradouras, ou precárias e frágeis. É sobre como nós, como espécie humana, construímos as bases que nos permitem mover através da história.
Berson está no seu melhor e mais profético ao explorar o impacto do ruído urbano, alimentos industriais e poluentes químicos nestas primeiras décadas de um novo século – como eles estão alterando percepções, valores e políticas públicas. Sua análise do consumismo e nossa acumulação viciante de bens materiais é aguda e assustadora. Seus leitores acharão que as referências frequentes ao romance pós-apocalíptico “The Road”, de Cormac McCarthy (2006), não são coincidências.
Berson sugere que, culturalmente, nós, humanos, somos compelidos a brincar com as coisas.
“Isso é”, escreve ele, “uma grande parte de como nos moldamos como pessoas sociais, como seres relacionais”. Ele prossegue dizendo: “Hoje, há muita coisa em circulação e, portanto, nossos jogos assumiram um caráter centrífugo e desestabilizador”.
Ele está certo. Faça um passeio pelo cenário dos EUA. Nenhuma prova melhor pode ser encontrada do que em uma viagem através do coração dos EUA. Um dirige por milhares de unidades de armazenamento privado comercial que continuam a proliferar na América do Norte. Muitos deles, cheios de móveis, arquivos, ferramentas e brinquedos, mas destinados a nunca serem visitados por seus donos por anos. Isso se o forem alguma vez
Uma das referências intrigantes de Berson nos últimos capítulos de seu livro é o uso da palavra japonesa “boro”. O termo se origina de um estilo de design têxtil que significa “esfarrapado, remendado”.
Berson descaradamente usa essa ideia para juntar literalmente os temas e diversos, às vezes intrigantes, assuntos que ele cobre em seu livro. Há momentos em que o leitor não tem certeza para onde está indo, o que virá a seguir. Às vezes, eu me encontrava absolutamente extasiado com seu estilo de escrita. Em outros casos, eu me peguei balançando a cabeça.
Uma pergunta apropriada pode ser levantada depois de terminar o posfácio: onde está a conclusão do autor? Qual é a sua visão para um futuro viável e como a tecnologia se encaixa em seu Novo Mundo? A esse respeito, algumas pistas podem ser encontradas.
Primeiro, em seu capítulo intitulado “Paisagens”, Berson termina com a frase: “Precisamos de uma conversa pública sobre o que a crise ambiental exige de nós, não como consumidores de coisas materiais, mas como seres biológicos cuja primeira e última interface com o mundo é o corpo”.
A sugestão aqui, ao que parece, é que todos nós giremos coletivamente e comecemos a nos reconectar à nossa fisiologia, comecemos a imaginar modos de vida que estão dramaticamente ligados aos ciclos e processos naturais da Terra.
Alguns exemplos vêm à mente. Um colega meu, que atualmente mora em Santa Fé, recentemente se inscreveu em um treinamento para orientar workshops do tipo “não deixar rastros” para caminhantes e campistas. É interessante extrapolar o que isso pode significar em uma escala mais ampla. Esse tipo de movimento tem amplas implicações sobre como podemos escolher viver em nossas vidas privadas e comunitárias.
Outro exemplo é o movimento “Natural Step”, sediado na Suécia. Introduzida pela primeira vez na década de 1990, esta foi uma iniciativa sofisticada para mudar a política social. Mudar para a reciclagem de todos os recursos não renováveis (minerais, metais preciosos); usar exclusivamente roupas naturais e renováveis; avançar em direção a uma dieta vegetariana para o planeta.
Obviamente, esta não seria uma transição fácil, mas no quadro do pensamento de Berson, inevitavelmente para a espécie humana, como a conhecemos, é para sobreviver e prosperar em algum equilíbrio relativo com o que resta dos recursos naturais do planeta.
Uma segunda pista para um futuro desdobramento possivelmente mais positivo é encontrada no conceito de “foaminess” (“espuma”) de Berson no que se refere à evolução da cultura humana. Ele usa o termo “meio semiocinético” para sugerir que as previsões do futuro são sempre incertas porque a vida é dinâmica e está continuamente em fluxo.
É aí que ele retorna à sua tese básica: a tecnologia não existe por si mesma. Está nos mudando. Precisamos retornar ao nosso eu físico. Precisamos nos reconectar, apreciar, honrar e, com sorte, construir o que quer que esteja por vir, sobre essa base.
Uma coisa é certa em “The Human Scaffold”. A mente de Berson está à mostra em todo o seu brilho e excentricidade. Esteja preparado. Em seu prefácio de abertura, contei uma frase de 12 linhas. E não tenho certeza de onde ele adquiriu seu vocabulário. Uma frase diz: “an epiphytic strategy is, of necessity, sartorially parsimonious” (“uma estratégia epifítica é, necessariamente, indumentariamente parcimoniosa”, em tradução livre).
No entanto, o discernimento analítico de Berson da cultura contemporânea nos enterrando com “coisas” e devorando sem pensar os recursos naturais do mundo soa com eloquência descritiva. Fico pensando nas implicações do “andaime humano” que estamos construindo para as próximas gerações. E o impacto da realidade virtual e da mídia social na construção de nossas visões e valores.
Um relatório de 2016 do Reino Unido destacou uma pesquisa sobre crianças. O relatório demonstrou que o tempo dos jovens, desta época, ao ar livre, ao sol, à chuva e ao vento, era menor que o dos presidiários do país.
Continue escrevendo, Josh Berson. Precisamos de você.
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Na adaptação à mudança climática, a tecnologia não nos salvará - Instituto Humanitas Unisinos - IHU