11 Agosto 2020
Um grupo de luteranos, preocupado com os rumos que o Brasil está tomando, com a insensibilidade da Presidência da República no enfrentamento da pandemia do covid-19, na assistência às comunidades indígenas e quilombolas, pede, em manifesto assinado por edudacores/as, pastores/as, comunicadores/as e profissionais de diferentes áreas, basta de autoritarismo, mais democracia.
Pela saúde da democracia
Ao tomar posse em 1º de janeiro de 2019, o capitão reformado que foi exonerado do Exército acusado de ação terrorista, Jair Messias Bolsonaro defendeu, no Congresso, um “pacto nacional” para conduzir o país a “novos caminhos”. Depois, já com a faixa presidencial, falou ao povo reunido na Praça dos Três Poderes prometendo “tirar o peso do governo sobre quem trabalha e produz”.
Palavras apenas sedutoras para início de mandato. Um ano e meio de governo bastou para desmentir todos esses acenos iniciais. O “pacto nacional” transformou-se em “divisão nacional”, promovida pelo gabinete do ódio, instalado no Palácio do Planalto. A ideologia que defende bandidos está inserida no DNA de um presidente vinculado a milicianos e que procura cumprir promessa de campanha de “armar a população”.
Os “novos caminhos” pouco se importam com quem trabalha e produz. Trabalhadores perdem direitos conquistados há anos. Vale o negociado sobre o legislado. O ministro da Economia, Paulo Guedes, colocou a “granada no bolso do inimigo”, leia-se servidores federais e assalariados. Seguindo a cartilha neoliberal, o propósito do ministro é privatizar, colocar o Brasil a venda, deixar a área pública em terra arrasada, dilapidando o patrimônio da população brasileira sob os aplausos de parte de uma elite econômica que dá sustentabilidade a esse desgoverno.
Os “novos caminhos” que acabariam com o toma-lá-dá-cá trouxeram para a agenda política a compra de parlamentares do Centrão para barrar qualquer iniciativa de impeachment, e defender negociatas e desmandos de filhos do presidente. A Câmara dos Deputados recebeu 50 pedidos de impeachment do presidente da República, apontando crimes de responsabilidade, engavetados pelo presidente da casa.
Os “novos caminhos” estão marcados por ofensas, agressões e conflitos do Executivo com governadores e prefeitos, com o Legislativo e o Judiciário, sob a ameaça de que um jipe e um soldado dariam conta do STF, intervenção antidemocrática apoiada por manifestantes bolsonaristas em diferentes ocasiões.
Os “novos caminhos” integraram mais de três mil militares ao governo, incentivaram a ação de madeireiras, garimpeiros e aproveitadores na invasão de terras indígenas e o desmatamento desenfreado da Amazônia. Esse desgoverno é responsável, direta e indiretamente, pelo genocídio indígena, ao descumprir determinação constitucional de demarcar suas terras (Art. 231), antes quer reduzi-las. Mais, o governo vetou até mesmo a distribuição de água potável para indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais (PL 1142).
Do exterior vem o alerta: Investidores estrangeiros chamam a atenção internacional para o fracasso do governo brasileiro em proteger as florestas, o que pode obrigá-los a rever investimentos.
Mas é no campo da Saúde, comandada por um militar na ativa que não tem qualquer afinidade com a área, a não ser agradar o presidente vendedor de cloroquina, que o governo federal apresenta sua face necrófila, acentuada com a pandemia do coronavírus. O Brasil ultrapassou a triste marca de 100 mil mortos, vítimas da doença. O luto de milhares de famílias chorando seus mortos não sensibiliza o governo na alteração de rumos no enfrentamento do covid-19.
“E daí. Não sou coveiro”, é o máximo que um presidente autoritário, descontrolado, debochado, despreparado, preocupado, sim, com amigos e familiares para não caírem nas malhas da Justiça, sabe dizer à nação.
O presidente tem como bandeiras “a família, Deus, Brasil, armamento, liberdade de expressão, livre mercado”. Liberdade de expressão para difundir mentiras via redes sociais, atacar a imprensa que ousa questionar ações do seu governo; livre mercado para acabar com o Sistema Único de Saúde e políticas públicas voltadas às comunidades mais vulneráveis; o Brasil como bandeira, mas bate continência ao pavilhão estadunidense, e tem em Donald Trump o seu protótipo; um governo que acaba com a política de desarmamento e venera um deus sem cruz, mas com espada.
A religiosidade de Bolsonaro só é marqueteira. Ora ele se diz seguidor do catolicismo, ora bajula líderes neopentecostais e se deixa batizar por pastor evangélico no Rio Jordão. Um presidente que elogia torturador também deve concordar com a tortura sofrida por Cristo na cruz e por isso mesmo não lhe cabe o atributo de cristão!
Impressiona que a eleição de Bolsonaro desbloqueou parte da sociedade brasileira para eleger e aplaudir um “mito” descabido, demolidor do Brasil e que na campanha lamentou que a ditadura não tenha matado mais. A verdade certamente nos libertará, outro refrão do presidente que não encontra sustentabilidade em ações. Estamos conhecendo a verdade desse desgoverno diariamente em todo o seu potencial destrutivo de direitos humanos, do parque industrial, da natureza, de políticas públicas em favor das famílias empobrecidas, das relações internacionais, favorecendo o sistema financeiro e enganando o povo. A saída da crise democrática é mais democracia.
Nós, herdeiros e seguidores da Reforma protestante, jamais seguiremos teologias que se dizem evangélicas, mas que apoiam e dão sustentabilidade a um governo que trocou a cruz pela arma, que mente e desconsidera a dignidade das pessoas. Jamais colocamos, ou colocaremos, nossa confiança nesse desgoverno, que afirma “Deus acima de tudo e de todos”, e entende o Brasil como se o país fosse um patrimônio privado.
Acreditamos no Deus bíblico, que diz: “Eu sou o que está aí e estarei aí” (Êxodo 3,14) - não acima de todos, mas junto às pessoas mais vulneráveis e que acompanha o seu povo escravo no caminho da libertação. Nosso Messias é Jesus Cristo, o Emanuel, o Deus presente, que estará conosco até o fim dos tempos.
Identificados e identificadas com o Evangelho de Jesus Cristo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e amparados na Constituição federal lembramos o testemunho do reformador Martim Lutero: uma autoridade que esquece que existe por causa da população e age conforme as próprias ideias e vantagens – tal autoridade é pagã.
Comprometidos e comprometidas com esta afirmação e querendo vê-la praticada em toda a parte,
Assinamos (seguem 76 assinaturas):
1. Albrecht Baeske, pastor - São Leopoldo RS
2. Allan Krahn, pastor – São Leopoldo RS
3. Ângela Wiebush, Educadora Social – Genebra/Suíça
4. Arlete Schubert, Doutoranda – Vila Velha ES
5. Armin Andreas Hollas, Pastor – Rio das Antas SC
6. Arnoldo Mädche, Pastor - São Leopoldo RS
7. Arteno Spellmeier, Pastor - São Leopoldo RS
8. Carlos Arthur Dreher, Pastor - São Leopoldo RS
9. Carlos Reinardo Dreher, Pastor – Porto Alegre RS
10. Cibele Kuss, Pastora – Porto Alegre RS
11. Cilene D.M. da Silva, Aposentada – São Leopoldo RS
12. Clovis Horst Lindner, Pastor – Blumenau SC
13. Cornélia Eckert, Professora Universitária - Porto Alegre RS
14. Christian Wendt – Pastor – Neustadt an der Weinstrasse/Alemanha
15. Dankwart Bernsmüller, Professor – São Leopoldo RS
16. Dario Geraldo Schäffer, Pastor - Rio de Janeiro RJ
17. Dóris Kieslich Cavalcante, Professora Catequista - Fortaleza CE
18. Dorival Ristoff, Pastor - Candelária RS
19. Edelberto Behs, Jornalista - São Leopoldo RS
20. Edla Loni Hass Berthold, Do Lar - Montenegro RS
21. Emil Schubert, Pastor - Vila Velha ES
22. Ernane Leopoldo Gruhn, Funcionário Público – Cruz Alta RS
23. Gertraude Wanke, Psicóloga – Domingos Martins ES
24. Günter Adolf Wolff, Pastor - Palmitos SC
25. Hans Alfred Trein, Pastor - São Leopoldo RS
26. Hans Benno Asseburg, Tradutor Juramentado – São Leopoldo RS
27. Harald Malschitzky, Pastor – São Leopoldo RS
28. Henry Seibert, Aposentado – São Leopoldo RS
29. Inácio Lemke, Pastor- Pomerode SC
30. Irene Zwetsch, Jornalista – Reinach/Suíça
31. Irineu Lasch, Pedagogo - Nova Petrópolis RS
32. João Artur Müller da Silva, Pastor - São Leopoldo RS
33. Julio Cézar Adam, Professor – Novo Hamburgo RS
34. Käthe Fuchs Trein, Secretária - São Leopoldo RS
35. Lauri Wirth, Professor - Valinhos SP
36. Lori Altmann, Professora Universitária - Pelotas RS
37. Lothar Hoch, Pastor - Praia da Pinheira SC
38. Lusmarina Campos Garcia, Pastora – Rio de Janeiro RJ
39. Lydia Emanuela de Aguiar, Arquiteta – Alto Paraíso de Goiás GO
40. Madalena Zwetsch Altmann, Farmacêutica Bioquímica - São Leopoldo RS
41. Margit Elfriede Lemke, Professora – Pomerode SC
42. Maria Ione Pilger, Professora Catequista – Rio Grande RS
43. Maria Luiza Rückert, Capelã Hospitalar – Lagoa Santa MG
44. Marie Krahn, Professora – São Leopoldo RS
45. Micaela Barbara Lhotzky Berger, Aposentada - Domingos Martins ES
46. Micheli Duarte, Assistente Social – São Leopoldo RS
47. Milton Ítalo Provenzano Jr., Administrador em Saúde – Domingos Martins ES
48. Mon ika Daniela Aguiar, Enfermeira – Domingos Martins ES
49. Mozart João de Noronha Melo, Pastor - Rio de Janeiro RJ
50. Nilo Bidone Kolling, Pastor - Palmitos SC
51. Noemia Dockhorn, Professora - Santa Cruz do Sul RS
52. Odete Zanchet, Advogada – São Leopoldo RS
53. Oneide Bobsin, Pastor - São Leopoldo RS
54. Osmar Luiz Witt, Pastor – São Leopoldo RS
55. Paulo Rückert, Professor – Lagoa Santa MG
56. Regene Lamb, Pastora – Monte Alverne RS
57. Robert Thieme, Publicitário - Ivoti RS
58. Roberto Zwetsch, Professor – Pelotas RS
59. Rodolfo Gaede, Pastor - São Leopoldo RS
60. Romi Márcia Bencke, Pastora - Brasília DF
61. Rosalie Spellmeier – São Leopoldo RS
62. Roswita Schaeffer, Educadora - St.Gallen/Suiça
63. Rudelmar Bueno de Faria, Humanitarista – Genebra/Suíça
64. Rui Jorge Bender, Jornalista - Novo Hamburgo RS
65. Rui Leopoldo Bernhard, Pastor - Porto Alegre RS
66. Ruth Stefanie Berger, Professora – Domingos Martin ES
67. Sabine Hoch, Professora - Praia da Pinheira SC
68. Sibyla Baeske, Jornalista - São Leopoldo RS
69. Sílvio Meincke, Pastor - Baden-Würtenberg/Alemanha
70. Suzana Leonor Bernhard, Professora – Porto Alegre RS
71. Uwe Wegner, Pastor - Ibirama SC
72. Valdomiro Dockhorn, Professor - Santa Cruz do Sul RS
73. Verner Hoefelmann, Professor – São Leopoldo RS
74. Vilmar Saar, Catequista – Mal. Cândido Rondon PR
75. Walter Altmann, Pastor – São Leopoldo RS
76. Werner Fuchs, Pastor – Curitiba PR
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Pela saúde da democracia. Manifesto luterano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU