23 Janeiro 2020
O hoje Papa evitou, com sua negativa a participar da trama, um novo comissariado dos jesuítas, em 2006-07, aproveitando a renúncia de Kolvenbach, “porque a Companhia desta vez não toleraria”.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 21-01-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A surpresa, e tão frequente surpresa, veio justo ao começo da apresentação do livro “Los jesuitas: del Vaticano II al papa Francisco”, de Giani La Bella, editado por Mensajero. O diretor editorial do Grupo de Comunicação Loyola, Ramón Alfonso, desvelou uma das grandes revelações do livro. Uma bomba: Bertone quis intervir novamente nos jesuítas aproveitando a renúncia de Kolvenbach, e pensou em Bergoglio para ser o interventor. Porém, o arcebispo de Buenos Aires “negou-se tenazmente”.
Assim é relatado no livro. Em 2006-07, o secretário de Estado, Tarcisio Bertone, pensou em uma nova intervenção na Companhia de Jesus, apenas um quarto de século depois da traumática decisão que tirou o padre Arrupe do generalato. Bertone dirigiu-se ao então superior-geral, padre Kolvenbach (que havia apresentado sua renúncia), dando-lhe a ideia de que o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, poderia ser o interventor (comissário) dessa nova etapa.
Bento XVI “não teria certamente nada a se opor”, explica La Bella em seu livro. “Kolvenbach, perplexo e desconcertado”, contatou Bergoglio, que apesar de não estar de acordo com todas as decisões e orientações do governo da ordem, “é decididamente contrário à ideia de uma intervenção papal, que multiplicaria os problemas em vez resolvê-los”.
O sucessor de Kolvenbach, Adolfo Nicolás, revelou isso a um grupo de jesuítas, em 2013, pouco depois da eleição de Francisco. “No seu primeiro encontro com Francisco, este lhe disse que se opôs tenazmente ao papa Bento sobre a proposta de uma nova intervenção na Companhia, que alguns em Roma queriam executar naquele momento”, revela La Bella, que obteve fontes diretas.
“Inteirado das manobras em curso, Kolvenbach, atuando contra seu habitual estilo discreto e sereno, pediu audiência a Bento XVI e de modo firme e decidido, como talvez nunca em sua vida, pediu que não aprovasse uma decisão deste tipo, que a Companhia desta vez não toleraria”. Tal intervenção não ocorreu, e a congregação-geral elegeu o padre Nicolás como superior da Companhia. O resto é história.
O anúncio de Alfonso marcou toda a apresentação do livro, que contou com presença, além do autor, do jesuíta Elías Royón, mediados pelo jornalista José Beltrán. Para La Bella, que quis dedicar o livro ao padre Urbano Valero, recentemente falecido, e autêntico “descobridor” da edição para Espanha, “Arrupe não somente foi um profeta, mas sim uma das figuras mais importantes do catolicismo do século XX”.
“A Companhia foi a grande protagonista do Concílio Vaticano II”, destacou o autor do livro, que insistiu que os jesuítas “são uma floresta complicada, e Arrupe tratou de entende-la”. “De Arrupe ao padre Sosa, a Companhia passou de uma ideia eurocêntrica da missão, a uma revolução cultural muito profunda”.
Por sua parte, Royón definiu Arrupe como “um místico e um profeta, um homem de visões rebanhos”, e valorizou os generalatos e Kolvenbach e Nicolás como parte de um todo para “fazer realidade os sonhos Concílio”.
A Companhia segue seu curso, por mais que Bertone – e talvez Ratzinger – quisessem freia-la, como uma vez fez João Paulo II. Agora, os jesuítas são, mais que nunca, o “exército do Papa”. O próprio Francisco, confessou La Bella, pediu oficialmente ajuda aos jesuítas, que estão o apoiando neste pontificado, especialmente agora que se assoma a tempestade restauradora.
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Bergoglio “se opôs tenazmente” a que Bertone e Ratzinger voltassem a intervir na Companhia de Jesus em 2007 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU