10 Dezembro 2019
Das 27 pessoas que morreram por conflitos no campo neste ano, 7 eram líderes indígenas, contra 2 em 2018, segundo a entidade.
O número de lideranças indígenas mortas em conflitos no campo em 2019 foi o maior em pelo menos 11 anos, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgados nesta segunda-feira (9). Foram 7 mortes em 2019, contra 2 mortes em 2018. Os dados deste ano são preliminares: o balanço final só será feito em abril do próximo ano.
A reportagem é de Patrícia Figueiredo, publicada por G1, 10-12-2019.
No último fim de semana, três ativistas indígenas foram mortos no país: no Maranhão, em Jenipapo dos Vieiras, dois indígenas Guajajara morreram e outros dois ficaram feridos durante um atentado no sábado (7); em Manaus, no Amazonas, o ativista da etnia Tuyuca Humberto Peixoto Lemos morreu no hospital após ser agredido a pauladas na segunda-feira (2).
O ministro da Justiça, Sergio Moro, autorizou nesta segunda-feira o envio da Força Nacional para a terra indígena do Maranhão onde duas lideranças foram mortas no fim de semana. A medida foi publicada no Diário Oficial da União nesta terça-feira (10).
Segundo Paulo César Moreira, da coordenação nacional da CPT, o aumento no número de mortes de lideranças indígenas é resultado de um discurso de "violência institucionalizada" nos conflitos do campo.
Ao menos 27 pessoas já morreram por esse motivo em 2019. O número já é maior do que o computado em todo o ano de 2018, quando ocorreram 28 mortes. Em 2019, o grupo que teve maior número de vítimas foi o de lideranças indígenas.
Mortes de índios e lideranças indígenas no campo. (Fonte: Comissão Pastoral da Terra)
"Nós vivemos um momento em que o Estado é o agente promotor das agressões. Com todo esse momento político que a gente vive, os responsáveis pelas violências decidiram que esses povos indígenas não têm direitos e que têm que ser eliminados. Com isso, a gente está vendo um massacre", diz Paulo Moreira, coordenador da Pastoral da Terra.
• 27/02/2019: Cacique Francisco de Souza Pereira, morto aos 53 anos no conflito da comunidade Urucaia, em Manaus (AM)
• 13/06/2019: Cacique Willames Machado Alencar, morto aos 42 anos no conflito Cemitério dos Índios, em Manaus (AM)
• 22/07/2019: Emyra Waiãpi, morto aos 69 anos no conflito Waiãpi/Aldeia Mariry, em Pedra Branca do Amapari (AP)
• 06/08/2019: Carlos Alberto Oliveira de Souza ("Mackpak"), morto aos 44 anos no conflito Cemitério dos Índios, em Manaus (AM)
• 01/11/2019: Paulo Paulino Guajajara, morto aos 26 anos no conflito da terra indígena Arariboia/92 Aldeias/Etnias Guajajara, Gavião e Guajá, em Bom Jesus da Selva (MA)
• 07/12/2019: Cacique Firmino Prexede Guajajara, morto aos 45 anos no conflito da terra indígena Cana Brava/Aldeias Coquinho/Coquinho II/Ilha de São Pedro/Silvino/Mussun/NovaVitoriano, em Jenipapo dos Vieiras (MA)
• 07/12/2019: Raimundo Benício Guajajara, morto aos 38 anos no conflito da terra indígena Lagoa Comprida/Aldeias Leite/Decente, em Jenipapo dos Vieiras (MA)
O levantamento da CPT é feito com base em dados enviados pelas pastorais de cada região. São levados em consideração apenas assassinatos relacionados a conflitos pela terra.
Além das mortes de lideranças, o levantamento contabiliza também mortes de indígenas que não são líderes de suas comunidades. Levando em consideração as mortes de lideranças e de indígenas somadas, 2013 e 2016 tiveram números maiores.
Para Paulo Moreira, as mortes dos líderes são mais danosas às comunidades porque enfraquecem a luta do grupo por direitos e por territórios.
"A estratégia [por trás dos assassinatos] é enfraquecer a comunidade. Quando não se consegue, o que eles fazem é tentar atingir pessoas da comunidade de forma às vezes até aleatória. Mas a morte de lideranças é de forma bem arquitetada, para diminuir atuação e enfraquecer o grupo todo", diz Moreira, da CPT.
A íntegra da reportagem pode ser lida aqui.
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Número de mortes de lideranças indígenas em 2019 é o maior em pelo menos 11 anos, diz Pastoral da Terra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU