18 Outubro 2019
“Não podemos admitir que as pessoas da Igreja estejam colocando dinheiro em empresas extrativistas como as mineradoras, que destroem... Este Sínodo Pan-Amazônico deve pedir prestação de contas à Igreja”, aponta o especialista em Bíblia Sandro Gallazi. “Nosso dinheiro, pouco ou muito, temos que colocá-lo em projetos sustentáveis”, insiste.
A reportagem é de Asunta Montoya, publicada por Rede Igrejas e Mineração, 16-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Para o teólogo Victor Codina, “se uma pessoa agride a terra de uma maneira séria como estão fazendo as multinacionais, as petroleiras, as mineradoras, na Bolívia, Brasil, Colômbia, Peru – em todas as partes –, é um pecado grave, é um pecado grave contra a natureza e contra as pessoas que vivem lá”.
“Não podemos admitir que as pessoas da Igreja estejam colocando dinheiro em empresas extrativistas como as mineradoras, que destroem... Este Sínodo Pan-Amazônico deve pedir prestação de contas à Igreja”, aponta o especialista em Bíblia Sandro Gallazi. “Nosso dinheiro, pouco ou muito, temos que colocá-lo em projetos sustentáveis”, insiste.
Quem é que está devastando a Amazônia? Não são os amazônicos. Os que estão devastando são os interesses de um mercado que muitas vezes está na Comunidade Europeia, está na América do Norte, está na África do Sul, está na China. Esses querem os recursos minerais, os recursos hídricos, os recursos agrícolas. O que diz a Igreja? É possível que tenham populações inteiras exploradas, ameaçadas, obrigadas a migrar? O que dizem as dioceses sobre isso tudo?, questiona Sandro Gallazi.
Devemos partir do que o Papa disse na Laudato Si’, explica o teólogo Codina “temos que partir que Deus é o criador de tudo, do mundo, da natureza. Nós formamos parte da Criação, nós seres humanos temos uma dignidade especial como imagens de Deus, porém não podemos nos desligar da Criação, tudo está conectado, necessitamos da natureza e a natureza necessita de nossa colaboração, portanto, talvez por muitos séculos, reduzimos o cristianismo a duas dimensões, a vertical, Deus e eu, a horizontal, os demais. Está bem, porém não é suficiente, agora junto ao vertical e ao horizontal teria que adicionar o “círculo”, o cósmico, o mundo.
Se não confessamos este pecado ecológico e seguimos investindo em projetos de morte, responsável de que milhares de pessoas não possam viver e que a natureza morre “pois é o mesmo povo que se dedica ao narcotráfico ou ao tráfico de pessoas ou que fabricam armas, simplesmente isso é uma escola da morte, portanto, o pecado ecológico é isso”, defende o teólogo Victor Codina.
Em muitos de nossos países latino-americanos a mineradora é vista como o motor do desenvolvimento e os governos, qualquer que seja sua cor política, a promovem, reduzindo impostos, facilitando o investimento, flexibilizando as leis, entregando-lhes territórios. No entanto, para nossos povos, não representa melhoras em suas condições de vida, se violam seus direitos humanos, se dividem as comunidades, se debilitam as democracias, ontaminam suas águas, afetam suas economias locais, suas culturas, seus territórios, sua saúde e o das gerações futuras.
Mariana, Cajamarca, Cesar, Huasco, Valle de Síria, Brumadinho, Chiapas e muitos outros lugares sofrem as consequências destes projetos, os que, junto aos projetos de infraestrutura e energia necessárias para seu funcionamento, geram a maior quantidade de conflitos ambientais e a maior criminalização, perseguição e perda da vida de líderes ambientais.
Para a Rede Igrejas e Mineração, o desinvestimento em mineração por parte das igrejas, pode ser uma oportunidade para promover modos de vida sustentáveis no contexto em que uma mudança sistêmica global está ocorrendo.
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Investir dinheiro em uma mineradora que mata é pecado mortal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU