17 Outubro 2019
Dom Pedro Brito propôs no Sínodo da Amazônia, a urgência de confessar nossos pecados ecológicos. Porém, em torno do investimento em mineração por parte das congregações religiosas e a Igreja Católica, confessa não ter feito essa reflexão anteriormente. “Não tinha essa reflexão”, diz levantando as sobrancelhas. “Porém é evidente que com esse tipo de investimentos estamos ajudando a manter essas empresas que degradam o ambiente, matam o ambiente e tiram vidas. É importante que façamos um exame de consciência nesse sentido. Um exame de consciência sobre como estamos contribuindo para matar a vida – onde está Deus -, pensando somente no lucro econômico”.
A reportagem é publicada por REPAM, 15-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Dom Pedro Brito Guimarães, arcebispo de Palmas, Brasil, defende que falar dos pecados ecológicos “não é uma criação própria”, se fundamenta em estudos acadêmicos profundos de teologia dos sacramentos que realizou na Universidade Gregoriana. “Então, eu falo da compreensão que tenho dos sacramentos. E entre esses sacramentos está o da penitência. Se nós olharmos os manuais de teologia dos sacramentos, encontramos que se fala muito de pecados pessoais, como desobedecer, não ir à missa, falar mal de alguém, esses pecados são existenciais, individualistas”, explica.
Nesses manuais, diz dom Brito, “não existe o pecado que é mais grave, matar o homem que Deus criou”. Um pecado ecológico é um pecado contra Deus, porque ele é o criador de todas as coisas. Eu acredito em Deus, o pai criativo de todas as coisas. O decálogo fala de amar a Deus acima de todas as coisas, de não matar, de roubar, de não querer as coisas dos outros e o que mais fazemos é isso”, assegura decisivamente.
Poluímos as águas, os rios e o ar que respiramos estão cheios de veneno, os alimentos que ingerimos causam câncer. Nós não confessamos esses pecados. “Confesso que ainda não confessei, mas pedirei por eles em confissão”.
Se queremos viver uma ecologia integral, em que tudo está interligado, devemos confessar que, quando matamos a natureza, estamos pecando contra Deus e contra as gerações que vieram depois de nós. Que mundo vamos entregar para nossos filhos, netos e descendentes?
Referindo-se à proposta de uma Campanha de Desinvestimento, proposta pela Rede Igrejas e Mineração, ele diz: “a natureza é uma entidade de direitos, assim como tenho o direito de comer, me vestir, respeitar as leis, a natureza também tem direitos. Ela tem o direito de sobreviver. Mas nós avalizamos seus direitos – ela não fala, ela não pode apresentar uma lei – mas ela é sujeita de direitos. Ela tem o direito de viver. Os rios têm o direito de correr, as nuvens o direito de cair livremente como a chuva, porque são os direitos da natureza. Se violarmos esses direitos, estaremos violando uma lei, a lei de Deus”.
Segundo o padre Dário Bossi, religioso comboniano da Rede Igrejas e Mineração, essas são algumas das razões pelas quais as congregações religiosas e as várias entidades e instituições da Igreja Católica devem desinvestir em empresas de mineração e outras indústrias extrativistas:
- As organizações da Igreja ou de inspiração Católica não deveriam investir em projetos de morte.
- Um projeto de morte é uma iniciativa econômica que leva à destruição de ecossistemas, afeta modos de vida e viola os direitos humanos.
- Investir não é uma atividade trivial e inconsciente é uma maneira de decidir que tipo de atividades econômicas serão promovidas. Os fluxos de capital são o caminho para alimentar e "nutrir" práticas econômicas.
- Os investimentos como expressão de decisões e valores não devem privilegiar a lucratividade, mas também levar em consideração os impactos nas áreas de influência dos projetos e os estilos de vida que eles sustentam e promovem.
- Investir em combustíveis fósseis, fracking, mineração e agronegócio produz impactos negativos irreversíveis. Muitos projetos de morte estão localizados na bacia amazônica.
- Os investimentos católicos podem ser uma oportunidade para promover estilos de vida sustentáveis no contexto em que uma mudança sistêmica global está ocorrendo.
- No entanto, não se deve esquecer que as novas tecnologias promovidas como parte da mudança global do modelo de energia também exigem matérias-primas como o lítio (para baterias de carros elétricos). Essa extração tem um impacto nos ecossistemas e comunidades que devem ser considerados na hora de investir.
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A Igreja deve fazer um exame de consciência sobre seus investimentos em mineração, afirma Dom Pedro Brito, arcebispo de Palmas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU