28 Agosto 2019
Enquanto jovens se aglomeram nas ruas exigindo uma ação sobre as mudanças climáticas provocadas pelo homem, um grupo de ativistas mais velhos está fazendo sua própria campanha ambiental.
A reportagem é de Tom Espiner, publicada por BBC News Brasil, 24-08-2019.
Homens e mulheres que controlam trilhões de ativos em dólares estão exibindo sua força: como acionistas, estão em posição privilegiada para pressionar as empresas a fazer a coisa certa.
A Climate Action 100+ é um grupo de mais de 360 investidores que faz a gestão de ativos que somam mais de US$ 34 trilhões (R$ 138 trilhões).
Eles estão preocupados não apenas com os danos ao planeta mas também focados na viabilidade de seus investimentos no longo prazo. Danos irreversíveis ao meio ambiente reduziriam ou poderiam até mesmo acabar com os valores investidos.
O grupo, que inclui investidores institucionais influentes como o Church of England Commissioners (Comissários da Igreja da Inglaterra, em tradução livre), pretende acionar “emissores sistemicamente importantes” dos quais eles detêm ações para que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e melhorem a governança.
Uma dessas empresas é a gigante petrolífera BP, que recentemente teve sua reunião geral anual. A Climate Action 100+ apresentou uma resolução de acionistas para fazer com que a BP passe a demonstrar que sua estratégia é consistente com os objetivos do acordo climático de Paris, o plano internacional de limitar o aquecimento global a 1,5ºC.
A resolução, apoiada pelo conselho da BP, foi aprovada. Vários investidores institucionais estavam por trás da iniciativa, incluindo Hermes, HSBC, Legal e General e Aviva Investors.
“Os riscos econômicos e financeiros associados às mudanças climáticas são muito reais”, diz Steve Waygood, responsável pela área de investimentos da Aviva. “Só temos os próximos cinco a dez anos para lidar com os riscos associados às mudanças climáticas e garantir que eles não se tornem reais.”
Se não forem tomadas medidas, os riscos “se tornarão reais nos próximos 20, 30 ou 40 anos” e, no “muito longo prazo, será uma questão potencialmente catastrófica”, avalia a empresa.
Como investidora, a Aviva afirma estar preocupada com os riscos de suas participações e, como seguradora, está exposta a riscos de enchentes, incêndios, secas e, em menor escala, danos a colheitas.
“Se os governos globais, se a humanidade não impedir as mudanças climáticas, US$ 43 trilhões (R$ 174 trilhões) poderão ser eliminados das ações globais – aproximadamente um terço do total”, disse Waygood.
Ele afirma de que a humanidade já tem a tecnologia para evitar a destruição do nosso sistema. O necessário, segundo ele, é colocar isso em prática – e, se as grandes empresas têm um papel a desempenhar, não podem fazer isso sozinhas.
Ele sugere uma ação coordenada entre empresas, governos e órgãos reguladores para criar um “plano Marshall” para a transição para uma economia de baixo carbono, em uma comparação ao programa dos Estados Unidos de ajuda à reconstrução da Europa Ocidental após a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
No entanto, ele afirma que há um descompasso entre as somas gigantes que as empresas de petróleo gastam na exploração de reservas de combustíveis fósseis novas ou existentes e os objetivos do Acordo de Paris.
Por exemplo, a ExxonMobil, uma das empresas sob pressão do grupo Climate Action 100+, planeja gastar entre US$ 46 bilhões e US$ 48 bilhões em 2019/2020 em investimentos em petróleo e gás, incluindo fracking (extração por fraturamento hidráulico).
Em uma recente apresentação a investidores, a companhia afirmou que o crescimento da população global, aliado ao aumento da classe média, pode fortalecer a demanda por energia.
A companhia disse aos investidores que a Agência Internacional de Energia estima que serão necessários US$ 21 trilhões em investimentos em petróleo e gás até 2040 e que a própria ExxonMobil gastaria cerca de US$ 35 bilhões a US$ 42 bilhões por ano para atender à demanda.
Apesar de seus compromissos com o clima, a BP dispõe de apenas US$ 500 milhões no ano para seus novos negócios de energia, como biocombustíveis, energia solar e recargas para carros elétricos. Também investiu US$ 200 milhões em novas empresas do tipo.
O consultor de clima do Greenpeace Charlie Kronick diz que a BP continua investindo de forma pesada em petróleo e gás. “Eles não estão, de forma alguma, cumprindo e nem mesmo se ajustando ao Acordo de Paris. A BP acha que está fazendo o suficiente, mas está claro que não. Isso deve ser um sinal de que o compromisso (do investidor) com essa indústria precisa ser mais forte”, afirma.
O Climate Action 100+ teve outras vitórias notáveis, incluindo persuadir a Glencore, uma das maiores produtoras de carvão do mundo, a limitar a produção. A Shell começará a estabelecer metas para sua pegada de carbono líquida e já concordou em rever seu lobby em relação às mudanças climáticas.
No entanto, o grupo de investidores não conseguiu avançar muito com algumas empresas, como a ExxonMobil. Em abril, a SEC (Securities and Exchange Commission), agência reguladora dos Estados Unidos, permitiu que a empresa rejeitasse uma resolução que solicitava a definição de limites de emissão.
“A Exxon não tem apoiado muito”, diz Stephanie Pfeifer, membro do conselho de administração da Climate Action 100+ e presidente executiva do Institutional Investor Group on Climate Change (IIGC).
Ela ressalta que o ambiente regulatório nos Estados Unidos é parte do problema. Os líderes corporativos têm um “dever fiduciário” de agir de acordo com o interesse de seus acionistas, mas isso significa maximizar os lucros agora, produzindo o máximo de petróleo possível, ou fazendo tudo o que podem para limitar a mudança climática no futuro?
“Nos Estados Unidos, há questões sobre como você deve lidar com a governança ambiental, social e corporativa como um dever fiduciário. Isso não é útil”, diz Pfeifer.
No entanto, ela acrescenta que “a Climate Action 100+ mostrou que a pressão dos investidores pode funcionar” e que “US$ 34 trilhões têm muito poder”. Procurada, a ExxonMobil não respondeu aos pedidos de comentários.
A pressão de organizações humanitárias e ativistas ambientais, como o grupo Extinction Rebellion, e jovens que protestam contra a mudança climática, também não pode ser ignorada, acrescenta Pfeifer.
Mas os investidores podem fazer com que as empresas mudem logo de direção para fazer a diferença sem prejudicar seus investimentos?
Pfeifer diz que sim. “Reconhecemos que é agora que as ações devem ser tomadas. O preço será muito maior se nenhuma ação for tomada agora”.
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O grupo de investidores que pressiona empresas contra aquecimento global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU