Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 02 Junho 2018
No congresso e nas ruas a oposição avança contra as políticas de ajuste fiscal de Maurício Macri. Com a popularidade em baixa e com a crise do peso argentino, Macri perde respaldo. Na quinta-feira, 31-5-2018, vetou a proposta de Emergencia Tarifaria de autoria de diversos deputados e senadores da coalizão justicialista. Já na terça-feira, 29-5-2018, em celebração ao Dia do Exército, saudou aos militares pedindo uma maior participação na segurança interna do país.
A vitória da oposição no Senado garantia um freio no ajuste fiscal promovido por Macri. Nos dois anos de governo a tarifa de luz e gás já chegaram a um aumento de 1000%, além do fim do subsídio do governo para os insumos energéticos. A proposta aprovada retroaria as tarifas para o mesmo valor de dezembro de 2017. A chamada lei de Emergencia Tarifaria foi aprovada com liderança de aliados kirchneristas.
Entretanto, a sessão que se estendeu até as 3h da madrugada do dia 31-5, foi rapidamente derrubada pelo veto presidencial, publicado na manhã do mesmo dia. Segundo Macri, o projeto aprovado era inconstitucional pois cabe ao poder executivo administrar e fixar a política tributária. O veto ainda tinha prerrogativa em medida similar do governo da ex-presidenta e atual senadora Cristina Kirchner.
Na sexta-feira, 1-6-2018, os movimentos sociais concentraram-se em Buenos Aires. A Marcha Federal que começou na segunda-feira, 28-5-2018, com manifestantes saindo de diversos lugares do país, chegou à capital e se reuniu na Plaza de Mayo. A Marcha contesta o ajuste fiscal e ao pedido de resgate financeiro ao FMI.
Enquanto os movimentos se reuniam, o governo de Macri anunciou o congelamento dos salários e contratação de empregados públicos. Nicolás Dujovne, ministro da Fazenda, anunciou um corte de 20 bilhões de pesos na estrutura do Estado. O anúncio que já era previsto foi alvo de protestos no Ministério da Fazenda, o que fez o ministro deslocar a coletiva para a Casa Rosada. À tarde os diversos movimentos reunidos anunciaram a organização de uma greve geral ainda para o mês de junho.
O embate social gerou um mal-estar maior pelas declarações de Macri, no Dia do Exército Argentino, 29-5-2018. O presidente fez uma declaração pedindo maior intervenção dos militares nas forças de segurança do Estado. O presidente disse que “necessitamos de Forças Armadas que dediquem maiores esforços de colaboração de outras áreas do Estado, como na segurança nacional”.
A declaração de Macri mobilizou um rechaço à memória da Ditadura Militar. O prêmio Nobel da Paz Perez Esquivel declarou que “o governo está provocando um retrocesso em toda a política de direitos humanos e de segurança [...] para impor o modelo neoliberal necessitam da repressão e do controle social”. Se opôs às declarações Estela de Carlotto, presidenta das Abuelas de la Plaza de Mayo: “Querem voltar à teoria do inimigo interno, querem um país submetido ao medo, vão perturbar a paz”, disse ao jornal La Nación.
Um novo fator de instabilidade para Macri foi a destituição de Mariano Rajoy da chefia do governo da Espanha. Rajoy foi um dos principais aliados internacionais do presidente argentino desde que este assumiu a chefia em 2015. Entre as iniciativas que vinham firmando estava a entrada da Argentina na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o acordo da União Europeia com o Mercosul. Macri, em encontro com o espanhol no ano passado, afirmou que a Espanha era o modelo a ser seguido”.
Uma semana de conturbados movimentos para o governo de Macri. A vitória nas eleições para o executivo em 2015 e a confirmação da maior bancada no Congresso em 2017, já não asseguram suas vitórias e ambiente estável. Em poucos dias a oposição ganhou terreno, com as eleições de 2019 no horizonte.
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Argentina. Movimentos sociais e oposição avançam enquanto Macri faz apelo aos militares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU