17 Março 2017
Naquele tempo, Jesus chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José. Era aí que ficava o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço. Era por volta de meio-dia. Chegou uma mulher de Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: "Dá-me de beber".
Os discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. A mulher samaritana disse então a Jesus: "Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?". De fato, os judeus não se dão com os samaritanos.
Respondeu-lhe Jesus: "Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: 'Dá-me de beber', tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva".
A mulher disse a Jesus: "Senhor, nem sequer tens balde e o poço é fundo. De onde vais tirar água viva? Por acaso, és maior que nosso pai Jacó, que nos deu o poço e que dele bebeu, como também seus filhos e seus animais?".
Respondeu Jesus: "Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna".
A mulher disse a Jesus: "Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la". "Senhor, vejo que és um profeta! Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar."
Disse-lhe Jesus: "Acredita-me, mulher: está chegando a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus.
Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. De fato, estes são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade".
A mulher disse a Jesus: "Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar. Quando ele vier, vai nos fazer conhecer todas as coisas". Disse-lhe Jesus: "Sou eu, que estou falando contigo".
Muitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em Jesus. Por isso, os samaritanos vieram ao encontro de Jesus e pediram que permanecesse com eles. Jesus permaneceu aí dois dias. E muitos outros creram por causa da sua palavra. E disseram à mulher: "Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo".
Leitura do Evangelho de João 4,5-15;19-42. (Correspondente ao 3º Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico.)
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Estamos diante de um texto muito significativo no relacionamento de Jesus com as mulheres. Sem esquecer que também é uma das narrativas mais bonitas.
Se for possível, é bom tomar um evangelho e ler o Evangelho de João, capítulo 4, desde o início até o versículo 42. A narrativa proposta é uma cena simples, mas cheia de símbolos e signos, como é característico neste evangelho.
Jesus deixa a Judeia e vai de novo para Galileia. Ele deve atravessar Samaria. Muitos judeus não gostavam de passar pela Samaria, por isso faziam um caminho mais longo. Os samaritanos eram considerados como bastardos pelos judeus, em consequência da invasão da Samaria pelos assírios e a posterior mistura com estrangeiros e pagãos. Eles tinham seu próprio lugar de culto para adorar a Deus: o monte Gerizim.
No texto Jesus aparece cansado do caminho e senta-se à beira de um poço. Está cansado, mas não possui os elementos necessários para tirar água. Lemos no relato: Jesus sentou-se junto ao poço. Era por volta de meio-dia. Chegou uma mulher de Samaria para tirar água.
Em geral as mulheres procuravam por água pela manhã por causa do sol. Isso nos faz pensar que possivelmente esta mulher não queria se encontrar com muitas pessoas. No horário que ela escolhe para ir até o poço faz muito calor, não é o mais cômodo para carregar água...
Jesus lhe disse: "Dá-me de beber". Mas, a mulher fica surpresa porque os judeus não se dão com os samaritanos.
No diálogo que Jesus estabelece, quebra quatro princípios fundamentais para sua tradição. Uma dessas convicções é que um homem não dialoga com uma mulher publicamente e, como foi dito anteriormente, os judeus não falam com os samaritanos. Para eles era um povo que tinha abandonado sua tradição, misturando sua fé com as outras crenças.
Também um mestre como Jesus não procura “discípulas”. Lembremos que, apesar de Jesus ter discípulas e mulheres que o escutavam e o seguiam, na realidade social, cultural e religiosa elas são consideradas inferiores. Por isso as atitudes de Jesus com relação às mulheres incomodavam muito os fariseus e todos os que se consideravam os “donos” da fé e da sua precisa transmissão para o povo.
Lembremos o que disse Elizabeth Johnson: “Além de curar as mulheres de suas enfermidades, de desfrutar de suas amizades e de falar de Deus por meio delas, Jesus as convidou para fazerem parte de seu círculo de seguidores próximos. Elas deixaram suas famílias e lares para se juntar a ele na estrada para a Galileia. Elas absorveram o seu ensinamento e se juntaram a ele em refeições comunitárias alegres – uma antecipação da vinda do Reino.”
Outra norma que Jesus transgride é sua proximidade, pelo diálogo, com uma mulher que tem cinco maridos!
Jesus inicia o diálogo manifestando sua debilidade. Ele tem sede e deseja água para beber! A mulher fica surpreendida pelo seu pedido: "Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?".
Neste caminhar da Quaresma que ajuda a nos prepararmos para participar com Jesus de sua Morte e Ressurreição somos convidados a meditar este texto. Hoje se nos convida a manifestar nossa debilidade, nosso cansaço, assim como Jesus.
Além disso, estimula-nos a não ter medo de transgredir algumas normas que, ao invés de levar a Deus, nos aprisionam dentro de certos muros. Muros do egoísmo, da rejeição de pessoas que fogem de seus países pelo sustento de sua família.
Estamos chamados a quebrar esses muros que se levantam em numerosas partes e com enganosas aparências. Muros que contribuem na cultura do descarte, contra a qual luta continuamente Francisco procurando uma cultura da inclusão, uma cultura do encontro.
Como disse o manifesto da Província Centro-Americana da Companhia de Jesus, a Comissão Provincial do Apostolado Social e a Rede Jesuíta com Migrantes da América Central:
“Em tempos de muros, sentimo-nos chamados a construir pontes entre pessoas, culturas e sociedades. A levantar nossas vozes e trabalhar juntos e juntas para que os Estados centro-americanos e norte-americanos respeitem os direitos humanos e o princípio da dignidade humana, celebrem as diferenças e fomentem uma cultura de hospitalidade e fraternidade”. (Texto completo: É tempo de construir pontes, não muros! O apelo da Companhia de Jesus na América Central)
Jesus sai ao encontro desta mulher samaritana através do diálogo, indo além das fronteiras que foram estabelecidas.
Jesus manifesta sua sede que desperta nela uma sede ainda mais profunda. Progressivamente Jesus se revela à mulher que o reconhece como judeu, depois aceita que ele é maior que Jacó. No diálogo aceita que ele é Profeta até o reconhecimento como o Messias esperado.
Por isso ele pode dizer: "Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la".
Qual é a nossa sede mais profunda? Somos capazes, desde nossa pobreza e fragilidade, de reconhecer que há uma sede que precisa ser saciada?
Podemos perceber a sede dos irmãos e irmãs que estão ao nosso redor, possivelmente por trás das fronteiras estabelecidas por nós, pela nossa cultura ou religiosidade e ir ao seu encontro?
Samaritana: história de uma sede
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