17 Março 2017
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo João 4, 5-42 que corresponde ao Terceiro Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
A cena é cativante. Cansado do caminho, Jesus senta-se junto ao manancial de Jacob. De imediato chega uma mulher para tirar água. Pertence a um povoado semipagão, desprezado pelos judeus. Com muita espontaneidade, Jesus inicia o diálogo com ela. Não sabe olhar para ninguém com desprezo, mas sim com grande ternura. «Mulher, dá-me de beber».
A mulher fica surpreendida. Como se atreve a entrar em contato com uma samaritana? Como se rebaixa a falar com uma mulher desconhecida? As palavras de Jesus surpreendem-na ainda mais: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te pede de beber, sem dúvida tu mesma me pedirias a mim, e Eu te daria água viva».
São muitas as pessoas que, ao longo destes anos, afastaram-se de Deus sem dar atenção ao que realmente estava a ocorrer no seu interior. Hoje Deus é-lhes um «ser estranho». Tudo o que está relacionado com Ele parece-lhes vazio e sem sentido: um mundo infantil cada vez mais longínquo.
Entendo-os. Sei o que podem sentir. Também eu me fui afastando pouco a pouco daquele «Deus da minha infância» que despertava dentro de mim medos, desgosto e mal-estar. Provavelmente, sem Jesus nunca me teria encontrado com um Deus que hoje é para mim um Mistério de bondade: uma presença amigável e acolhedora em quem posso confiar sempre.
Nunca me atraiu a tarefa de verificar a minha fé com provas científicas: creio que é um erro tratar o mistério de Deus como se fosse um objeto de laboratório. Tampouco os dogmas religiosos me ajudaram a encontrar-me com Deus. Com simplicidade deixei-me conduzir por uma confiança em Jesus que foi crescendo com os anos.
Não saberia dizer exatamente como se sustenta a minha fé no meio de uma crise religiosa que me sacode também a mim como a todos. Apenas, diria que Jesus me trouxe a viver a fé em Deus de forma simples desde o fundo do meu ser. Se eu escuto, Deus não se cala. Se eu me abro, Ele não se fecha. Se eu me confio, Ele me acolhe. Se eu me entrego, Ele me sustenta. Se eu me afundo, Ele me levanta.
Creio que a experiência primeira e mais importante é nos encontrarmos bem com Deus porque o percebemos como uma «presença salvadora». Quando uma pessoa sabe o que significa viver bem com Deus, porque, apesar da nossa mediocridade, os nossos erros e egoísmos, Ele nos acolhe tal como somos, e nos impulsiona a enfrentarmos a vida com paz, dificilmente abandonará a fé.
Muitas pessoas estão hoje abandonando Deus antes de tê-lo conhecido. Se conhecessem a experiência de Deus que Jesus contagia, iriam procurá-Lo. Se, acolhendo na sua vida Jesus, conheceriam o dom de Deus, não o abandonariam. Iriam sentir-se bem com Ele.
Samaritana: história de uma sede
"Senhor, dá-me sempre dessa água!"
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