02 Fevereiro 2017
Fala o “Papa Negro”. Da teologia da libertação à reforma litúrgica, passando pelo diaconato feminino e pelas críticas ao Papa Francisco: “Na Igreja, que é santa e pecadora, existem lutas de poder, tal como em outros contextos. É preciso fazer as contas com isso”.
A entrevista foi publicada na revista Jesus, de janeiro de 2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Lua cheia sobre o Castel Sant’Angelo, cúpula de São Pedro iluminada. A foto habitual para o geral dos jesuítas é sobre o terraço com vista para a Praça de São Pedro. Noite gélida, o 30º sucessor de Santo Inácio é um hóspede cordial e não se isenta de “passar da hora” recortada entre milhares de compromissos.
Eleito no dia 14 de outubro, o Pe. Arturo Sosa nasceu na Venezuela, no dia 12 de novembro de 1948. No dia 24 do mesmo mês, um golpe de Estado depôs o primeiro presidente eleito democraticamente. O pai de Sosa, economista e advogado, contribuiu para reconstruir o país. De família numerosa, seis irmãos, com a mãe de 92 anos que o espera para as festas, o Pe. Arturo respirou em casa e no colégio dos jesuítas a urgência de estudar, de se formar para entender a realidade e fazer algo para ajudar o próprio país. A Companhia tornou-se, para ele, o caminho que responde a essas perguntas.
No escritório no terceiro andar da Cúria Generalícia, na Borgo Santo Spirito, uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe (“No dia da sua festa, 12 de dezembro, os meus pais se casaram, eu fui batizado e fiz os últimos votos na Companhia”) e um pequeno crucifixo, presente do pai antes de entrar na Companhia, comprado na Grécia durante uma viagem de família na Europa: “De um lado, está a cruz, e do outro a imagem de Nossa Senhora. Eu o levo por todas as partes”.
Depois da sabedoria alimentada pelo Oriente de Adolfo Nicolás, geral espanhol que viveu por mais de 30 anos no Japão, os 215 jesuítas reunidos em Roma, nos dias 2 de outubro a 12 de novembro para a sua 36º Congregação (ou seja, o Capítulo Geral), escolheram a liderança desse jesuíta latino-americano, especialista em Ciências Políticas e Ciências Sociais e bom conhecedor da Companhia, tendo conduzido nos últimos anos as casas internacionais de Roma.
O Pe. Sosa – primeiro geral não europeu, com o primeiro papa jesuíta – tem a tarefa de guiar a ordem religiosa mais numerosa do mundo, que conta com 16.740 jesuítas (12.000 presbíteros, 1.300 irmãos, 2.700 escolásticos e 753 noviços).
Pe. Arturo, cada Congregação teve o seu traço distintivo. Que foi o dessa 36ª que o elegeu?
A consciência de que a reconciliação é o modo de promover a justiça a partir da fé, para dar uma contribuição necessária para a transformação do mundo, para a construção da paz na casa comum. Outro traço é a imagem dos jesuítas como grupo que delibera em comum: isso deriva dos primeiros padres, quando, de Paris, se mudaram para Veneza e começaram a tentar entender o que fazer, já que não podiam ir para a Terra Santa.
Poucos e longos decretos: missão, governança e apostolado nas zonas de guerra. Quais são os pontos mais importantes?
Quisemos salientar que não há missão sem missionário. A missão não é algo abstrato, está estreitamente ligada à vida de quem a desempenha. O Evangelho de Marcos diz que Jesus escolheu os Doze para que “estivessem com Ele e para enviá-los a pregar”. Duas dimensões que fazem parte da nossa vida: não há missão se não for desenvolvida essa amizade profunda com o Senhor, que requer horas de oração, de contemplação. Nos Exercícios [a principal obra escrita por Santo Inácio de Loyola, fundador da ordem, e na base da espiritualidade e formação inaciana], Inácio diz que o amor está mais nas obras do que nas palavras. A contemplação do Senhor nos ajuda a entender o seu modo de agir e a imitá-Lo. Depois, somos chamados a construir uma vida fraterna em comunidade.
Na primeira entrevista com o Pe. Spadaro, Francisco destacava precisamente a dificuldade das comunidades religiosas de viverem as relações entre irmãos...
Fazer comunidade faz parte da missão: é preciso se tornar comunidades fraternas, próximas dos pobres, que se alimentam da Eucaristia, compartilham as responsabilidades cotidianas, como cozinhar, administrar, limpar a casa. Devemos tentar ser amigos no Senhor e amigos entre nós.
Trabalhar mais em quê?
Em tudo. Somos personalidades muito fortes, viemos de situações, famílias, culturas diferentes. O Evangelho de João, no prólogo, diz que é preciso se tornar filhos e irmãos não na carne e no sangue, mas no espírito. Por isso, é importante a Eucaristia e compartilhar a mesma espiritualidade. Não é fácil, porque não vivemos todo o tempo com as mesmas pessoas, não escolhemos com quem fazer comunidade... É preciso conhecimento, paciência, capacidade de escuta, encontrar pontos comuns. E fazer isso com alegria, porque, como diz o papa, não é um sacrifício. Um velho jesuíta venezuelano que eu gostava muito, Pe. Leocadio Jiménez, dizia: “Entramos na Companhia para nos amarmos uns aos outros”. Se não somos capazes de nos amarmos entre nós, não podemos pregar o evangelho de Jesus.
No seu discurso à Congregação, Francisco dizia: “Caminhando” e “progredindo” no seguimento do Senhor, a Companhia vai harmonizando as tensões que, inevitavelmente, a diversidade de pessoas que ela convoca e as missões que ela recebe contêm e produzem: como o tema do conflito é elaborado pela Companhia?
A verdadeira comunhão vem do reconhecimento das diferenças e dos conflitos. A nossa vida, pessoal e comunitária, é como a parábola do joio e do trigo: há sementes diferentes, não é preciso tirá-las antes que estejam maduras, porque podem ser confundidas, por isso devemos desenvolver uma capacidade de discernimento. Este é o conflito: Inácio insiste no fato de que a pessoa deve se examinar continuamente, para discernir os seus sentimentos. Assim como eu preciso ir a fundo para conhecer a história, para entender o que acontece. O conflito é o ponto de partida da vida humana, mas também da vida espiritual. Discernir nunca é fácil, é preciso olhar para Jesus, que foi para a cruz como consequência do conflito, e a sua solução foi se doar no amor.
Hoje, para onde vocês são chamados?
O papa nos disse: “Não quero lhes dizer para onde ir, mas como ir”. E as periferias, os pobres são o ponto de vista a partir do qual podemos entender melhor a realidade, como Jesus a entendeu, Ele que se fez pobre entre os pobres. Ele também nos disse para “ir aonde outros não querem ir”. E são tantos os lugares. Por exemplo, o Pe. Paolo Bizzeti foi para Anatolia... Eu me comovi quando ele fez o juramento como bispo na Congregação para as Igrejas Orientais, sobre a Bíblia do seu antecessor mártir, Dom Padovese. Este é o quarto voto, estar à disposição para ir não para onde você quer ir, mas para onde a Igreja, através do papa, considera que você deve ir.
Os jesuítas fazem um quarto voto, que expressa a especificidade da Companhia: total disponibilidade para servir a Igreja onde quer que o papa lhes mande. No passado, houve pontífices “distantes”, como Clemente XIV, que, em 1773, os suprimiu. Como vai com o papa jesuíta?
É uma relação muito fraterna, o papa é extremamente respeitoso, faz-se um trabalho em comum muito agradável. Mas esta é a Companhia de 470 anos: estamos à disposição da Igreja através dos desejos do papa. Que ele esteja perto, mais longe, é indiferente... Quando Santo Inácio ainda estava vivo, foi eleito o Papa Carafa, Paulo IV. Eles estavam em conflito, e Inácio temia que a Companhia acabaria... como depois aconteceu com Clemente XIV. É claro, quando o papa é próximo, é muito mais fácil.
O papa lhe chama pelo nome? Vocês se falam frequentemente?
Sim, ele me chama de Arturo, nós nos conhecemos na 33ª Congregação. Eu tento não telefonar para ele demais, ele tem muito a fazer. E depois há as ocasiões em que nos encontramos, como o encontro dos Superiores Gerais... é sempre muito agradável.
Há temas “novos” sobre os quais vocês estão trabalhando com atenção particular? Penso, por exemplo, na proteção da criação, nos jesuítas canadenses de língua inglesa comprometidos com o desinvestimento em combustíveis fósseis...
No campo da ecologia, fazem-se muitas experiências diferentes: no Canadá, mas também na Índia, onde, nas escolas, faz-se a educação ecológica, no Camboja, na África. A partir das culturas locais, que estão mais em harmonia com o ambiente, nascem projetos conjugados com a nova tecnologia. O papa insistiu em dizer que não há crises diferentes – ecológica, política, econômica, social –, mas que é uma única crise. Por isso, trabalhamos muito também no campo das Ciências Sociais. No ano passado, por exemplo, fizemos um estudo para tentar entender por que o crescimento econômico não reduz as diferenças, mas aumenta a distância entre as classes sociais. Por fim, também no campo teológico há muitas coisas importantes para se entender, muitas para se repensar. E, agora, felizmente, há um papa que empurra nessa direção. Ao contrário de outros papas que desaceleraram esse tipo de pesquisa.
O que é a liberdade na Companhia e para um jesuíta?
É a experiência cristã, nós somos liberados. Obediência e liberdade não estão contrapostas. O princípio e fundamento dos Exercícios nos diz que a experiência do amor de Deus nos liberta para fazer o que o amor nos impulsiona. Os Exercícios ajudam a fazer esse percurso: nós somos escravos do ódio, que, na linguagem teológica, é o pecado. O pecado não é romper uma norma, o pecado é não amas, amar a si mesmo, em vez de Deus e os outros.
O papa também lhes pediu para serem alegres, o que não parece ser uma característica de vocês...
Usando uma linguagem inaciana, o papa falou da alegria da consolação, que é a experiência de estar em sintonia com o Espírito, de fazer o que o Senhor quer. A imagem que me vem à mente quando penso na consolação é a de Jesus no horto das oliveiras, antes da Paixão, onde ele pede insistentemente para não beber aquele cálice e, depois, termina a oração dizendo: “Não se faça a minha vontade, mas a Tua”. A consolação é quando você faz também a morte na cruz, mas com a sensação de estar contente. É claro, também é preciso manifestar a alegria, “um santo triste é um triste santo”, dizemos em espanhol.
Inácio, na sua época, convidava a “agir contra” o espírito antieclesial. Hoje, como ele se manifesta? O que o senhor acha das críticas que chegam a partir de dentro ao pontificado de Francisco?
Uma das principais contribuições mais fortes deste papa à Igreja é o pedido para expressar as críticas com liberdade. Se reconhecemos o conflito, devemos reconhecer os espaços para poder expressar essas opiniões. É melhor expressá-las publicamente do que pelas costas. Parece-me que o papa tem sido muito corajoso: “Digam o que vocês pensaram e discutamos”. E, se alguém pensa de forma diferente, ele não fica com raiva, tenta convencer. Isso significa levar a sério a sinodalidade da Igreja, a Igreja-povo, conciliar... A Igreja primitiva também era dividida, os conflitos sempre existiram. O papa tenta resolvê-los não escondendo-os, nem impondo a sua autoridade... Sigamos em frente para pensar juntos e demos um passo a mais, amemos juntos aquilo que deve ser feito.
Mas, entre os seus detratores, na sua opinião, existem aqueles que sistematicamente põem em discussão o magistério de Francisco?
Sim, há pessoas que têm esse programa em mente e o implementam. Pessoas que não estão de acordo e que publicamente também disseram que o papa está errado. Nesses casos, é preciso fazer precisamente o discernimento. Outra coisa que se deve reconhecer é que, na Igreja, que é santa e pecadora, existem lutas de poder, assim como em outros contextos. É preciso fazer as contas com essas coisas, não ser ingênuos. E o papa não o é, ele se move em tudo isso como Jesus fazia, que sabia que havia gente que tramava contra ele, e Ele dizia isso na cara.
No dia 10 de novembro, o senhor participou da apresentação do livro de homilias do cardeal Bergoglio. E se deteve sobre um trecho que fala da reforma litúrgica. O que pensa dos nostálgicos do rito tridentino?
Eu não gostaria de ferir a sensibilidade de ninguém, mas não se pode fazer da liturgia um museu. A liturgia é uma linguagem com que comunicamos o nosso modo de celebrar a Eucaristia, a relação com o Senhor. Eu posso respeitar que alguns gostem desse tipo de liturgia, devem ter a sua sensibilidade espiritual que se expressa assim, como nas Igrejas orientais que têm ritos muito antigos, com um sentido espiritual profundo. O que não é cristão é tentar impor, dizer que se deve reformar a reforma para impor a todos esse estilo. Esse foi o trecho que eu comentei. A Companhia de Jesus teve problemas não de hoje com esse tema. Eu penso nos ritos chineses e nos malabareses na Índia.
A intuição – a oração passa através da vida de uma cultura – foi freada por Roma. É o contrário do que o papa pensa e é o sentido profundo da reforma do Vaticano II. É claro, isso não significa que cada um faz como quiser, porque há também uma linguagem comum. É o desafio da Igreja: como fazer das diversidades um modo de enriquecer e não de romper a unidade. O papa usa a imagem do poliedro: a diversidade enriquece a unidade quando somos capazes de nos alegrar e de aprender com a diversidade do outro. A liturgia pode ser um ponto crítico. Para muitas comunidades latino-americanos que eu conheço, seria impossível celebrar no rito tridentino, não seria uma missa, mas outra coisa. E, vice-versa, para aqueles que estão acostumados com o tridentino. O ponto é reconhecer que cada um expressa a mesma fé, mas de modos diferentes.
As mulheres e a Companhia. Por que Inácio não quis um ramo de “companheiras”? O que se espera da comissão sobre o diaconato feminino?
Era um contexto diferente do atual, Inácio sempre pensou a Companhia ligada ao ministério sacerdotal. Hoje, a missão da Companhia e da Igreja é impossível sem as mulheres. Nas obras apostólicas, em todos os lugares, temos muitas mulheres. Algumas dirigem os Exercícios melhor do que os jesuítas. As vocações são diferentes, pode-se ter o chamado para essa missão como jesuíta, como mulher, como leigo. Faz parte do enriquecimento. Os tempos mudam rapidamente, a Igreja se esforça, como, aliás, a própria sociedade, mas é um processo que seguirá em frente. Da comissão sobre o diaconato, eu espero que traga o tema à tona. É uma questão conflituosa e é preciso colocá-la sobre a mesa e discuti-la. Talvez, não haverá amanhã a ordenação das diaconisas, mas pelo menos digamos o porquê.
O senhor é um estudioso dos movimentos sociopolíticos. O que mais lhe chamou a atenção nos discursos que o papa fez aos movimentos populares, dentre os quais estão presentes muitos grupos ligados à Companhia? É possível ler uma espécie de mandado?
Mais do que um mandato, parece-me um acompanhamento. Os três discursos do papa estão muito ligados à sua história pessoal na América Latina, onde os movimentos populares são muito fortes. Francisco, com muitos outros, aprendeu a acompanhá-los. É a “Igreja na saída”, que não pensa em si mesma, mas acompanha, cristãos e não cristãos, para melhorar o mundo. Esta também é uma consequência do Vaticano II: uma Igreja que acompanha o povo, nas coisas de fé, mas também em outros problemas. Para nós, jesuítas, que estamos dentro, é o tema da fé que provoca a justiça: nós não fazemos a justiça, mas acompanhamos os processos junto com outros.
Durante o generalato do Pe. Pedro Arrupe, em 1974, a 32ª Congregação, entre muitas tensões, aprofundou a relação entre fé e justiça. Como esse evento marcou a sua experiência pessoal?
Eu a vivi com grande alegria, no sentido da consolação. Eu estudava teologia na época da 32ª Congregação, mas que tem raízes importante para nós, latino-americanos, e para toda a Companhia: a Conferência de Medellín, em 1968, e a carta que o Pe. Arrupe, naquele mesmo ano, escreveu sobre as questões sociais, estimulando muitos jesuítas a tentar entender o que significa esse compromisso no social pela justiça. Quando a 32ª Congregação fez aquela belíssima formulação, “serviço da fé e promoção da justiça”, para nós, foi uma grande alegria. Uma confirmação do Concílio Vaticano II e do compromisso de muitos cristãos, jesuítas e outros, nessa direção. Toda a minha vida na Companhia foi marcada por esses temas.
O senhor se formou nos anos da teologia da libertação. Como a relê?
Eu não a releio, eu a leio. Tento fazê-la. Não é um episódio, mas é um modo de fazer teologia que ainda seguimos. Alguns pensam na teologia da libertação como se fosse um episódio, ligada a um conflito e conectada com a análise marxista. Essa foi uma parte necessária do debate, que, naquele momento, nos anos 1970, devia ser feito. Mas, quando o Papa Francisco fala de periferia e fronteiras, ele se refere à intuição mais forte da teologia da libertação, ao lugar teológico onde se faz teologia. É o movimento de encarnação do Evangelho. Se não estivermos na periferia, se não olharmos com os olhos dos pobres, não fazemos uma teologia evangélica que liberta os oprimidos. Ninguém é pobre por uma escolha livre. Daí parte o movimento da justiça que é de libertação, para chegar à liberdade de todos, não para fazer com que um grupo vença contra os outros.
A vitória de Trump nos EUA, o crescimento de movimentos populistas e de extrema-direita na Europa... Que leitura o senhor faz da situação geopolítica atual?
O que é mais preocupante para mim é a personalização da liderança política. Não são mais movimentos ou partidos organizados com uma teoria política, revolucionária ou não, mas são pessoas. Parece-me um passo atrás perigoso, porque, do personalismo, do modo mais escondido, passa-se para os regimes ditatoriais, para regimes opressivos, ditaduras, onde há pouco espaço para a liberdade e os movimentos. Para nós, jesuítas, para a Igreja, um dos maiores desafios é como promover a politização da sociedade.
Mais política?
É claro, o modo de resolver os conflitos humanos é a política, caso contrário, segue-se o caminho da opressão, da guerra. Mais política significa mais espaços para que as pessoas possam decidir democraticamente, escutar e tomar decisões. A regra de ouro é a maioria com o respeito à minoria. Mas todos devem ir além dos seus interesses pessoais, para encontrar um ponto de encontro. Também sobre isso trabalhamos nas nossas escolas, nos cursos de formação, nos diversos campos de apostolado.
Um exemplo?
Lembro que fizemos uma pesquisa sobre a violência na fronteira entre Colômbia e Venezuela. Pensávamos que viria à tona o tema da guerra, do narcotráfico, mas, em vez disso, descobrimos que as pessoas sofrem mais com a violência dentro da família. Se, em casa, os conflitos são resolvidos com a violência, se um pai não explica a uma criança por que se fazem as coisas, mas simplesmente impõe o seu papel, está formando uma conduta. E o mesmo na paróquia, o pároco, ou o bispo, ou o papa... Se, nas pequenas comunidades, esse é o modo de agir, é impossível que a sociedade seja democrática.
O senhor vive em Roma há três anos. E aqui, no passado, estudou teologia. Naqueles anos, conheceu as comunidades de base lideradas pelo Pe. Franzoni. O que se lembra daquele tempo?
Eu frequentei a comunidade de San Paolo de 1974 a 1977. Eu estava em um colégio internacional e, portanto, conheci a Itália através dessa comunidade. Ainda conservo amizades daquela época. O modo de celebrar a Eucaristia nessa comunidade era realmente vivo. Aos domingos, eu participava da missa lá. Lembro-me que havia um círculo de estudos bíblicos, e, por três anos, lemos o Evangelho de João, de modo vivo e aprofundado. Eu estudava mais para ir à reunião semanal do que para os exames na Gregoriana. Muitas vezes, vinham convidados de fora. Éramos cerca de 20 pessoas, e, como em muitas comunidades da América Latina, fazia-se uma exegese que partia da vida das pessoas. Lá, eu aprendi coisas complementares às aprendidas na escola.
E Roma?
É sempre bela, mas percebi uma queda nos serviços. Eu vou a pé, mas os transportes pioraram. É a questão da política: Roma também foi vítima de facções que buscam o próprio interesse e não o da cidade.
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Periferia e fronteiras, intuição mais forte da teologia da libertação. Entrevista com Arturo Sosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU