08 Março 2017
A astronomia sempre corrompe o valor humanitário da vida. Com cada novo segredo revelado do universo, esquecemos a extrema crise social que castiga a alma da humanidade astrológica.
Não precisamos da vigília espacial de telescópios gigantes no céu para observar a fome e perceber a pobreza de seu próprio egoísmo.
A reportagem é de Carlos Ruperto Fermín, publicada por ALAI, 07-03-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Nossa grande esperança de encontrar água, vida e sonhos galácticos, gravitando fora do nosso grande sistema solar, contrasta com a nossa indiferença fatal com as pessoas que não têm água, não têm vida e não têm sonhos galácticos, porque estão gravitando dentro do nosso grande sistema solar.
Cruzamos os dedos para encontrar novos palácios no Cosmos que possam ser colonizados em um futuro próximo pela raça humana. Mas não queremos dar um aperto de mão a uma criança com câncer, a um mendigo em um semáforo ou a uma prostituta que foi covardemente espancada.
A Via Láctea é tão branca quanto a noite do planeta Terra, porque não se pode esconder as cicatrizes do sol apenas com um dedo e por mais que seja possível dormir na mais completa escuridão, de portas fechadas, sempre há dez janelas abertas que deixar incidir o brilho da homofobia, da xenofobia e da corrupção global.
Nossa capacidade de assombro é tristemente desconcertante. O vício em tecnologia é tão forte que vivemos intoxicados em uma sociedade de consumo anormal, onde a minha glória pessoal supera o bem-estar comum.
Temos coragem de matar na guerra, mas não temos amor para resgatar a paz. A palavra do perdão é sempre uma silhueta efêmera, que resplandece quando não há corações nas mãos do inimigo, e só resta esperar que um algum novo disparate escrito nas páginas da Bíblia desperte a clássica violência irracional de homens e mulheres.
Somos criaturas irracionais quando celebramos com grande alarde a descoberta histórica da NASA em fevereiro de 2017, que afirma a existência de sete novos exoplanetas com tamanho semelhante ao da Terra, a 40 anos-luz da nossa demoníaca presença terrena, orbitando em torno de uma estrela anã superfria chamada Trappist-1.
Três dos sete exoplanetas estão na hipotética "zona habitável", podendo conter água líquida em sua superfície. O grande evento astronômico foi considerado o Santo Graal para a comunidade científica, e muitas pessoas já começam a arrumar suas malas para não perder a viagem emocionante em direção à imaginação agnóstica.
Lembre-se que um exoplaneta é um planeta que orbita uma estrela distinta ao Sol e, por isso, não pertence ao nosso santificado sistema solar, onde o fantástico astro-rei é o verdadeiro doador da vida. Atualmente, existem exoplanetas muito famosos, como o Kepler-438b, o WL 1061c e o KOI-4878.01, que são pequenos cavalos de Tróia para justificar as noites insones em Madagascar.
O uso da clarividência jornalística nos torna animais desconfiados, porque temos certeza de que a Terra é o único planeta que abriga vida no Universo e porque nenhum exoplaneta descoberto ou a ser descoberto vai apresentar as condições naturais adequadas para você e eu vivermos tranquilos.
Estamos terrivelmente sozinhos e abandonados no mundo. Não importa a paixão da física, a reação da química ou a resposta da Álgebra. Jamais se encontrará vida inteligente fora da Terra e nunca seremos capaz de compreender esta verdade universal milagrosa.
Infelizmente, a inteligência foi um presente dado apenas aos seres humanos, e agora estamos pagando o preço mais alto pela ousadia divina, já que a politicagem sempre compra os votos do povo, prometendo um androide idílico a cada imigrante ilegal que curava os doentes com ervas secas.
Nosso pensamento rejeita o altruísmo e recompensa o individualismo. As coisas materiais podem construir uma casa à prova de balas, mas não pode comprar a doçura de um lar em família. As agressões ambientais estão derrubando os tijolos, as dobradiças e os jardins, para finalmente que fiquemos tão nus no deserto quanto uma frágil estrela vagando no céu.
Hoje em dia a astronomia é um direito privatizado, como o livre acesso à água potável, ao gás doméstico e à eletricidade.
Poucas pessoas sabem que vivem dentro de um corpo celeste, mas muita gente vende seu corpo por prazer. Um novo exoplaneta não garante comida na mesa, água no chuveiro e luz no escuro, mas é possível fingir interesse para cumprir com a demanda coletiva.
Portanto, a desinformação que a sociedade de consumo sofre com a chegada de mais exoplanetas, nos convida a sonhar com utopias marcianas em tempos de narcotráfico, que podem facilmente recriar a paranoia extraterrestre, sem precisar falsificar passaportes e eclodir pandemias por capricho.
A felicidade incoerente que a existência de novos exoplanetas produz comprova a infertilidade emocional da civilização do século XXI. Fortunas são gastas para decifrar os tesouros desconhecidos do universo, enquanto sofremos graves e infinitos problemas ecológicos que não causam o mesmo frenesi nas notícias do que Cachinhos Dourados.
Vemos que as agências internacionais de astronomia estão obcecadas por encontrar um verdadeiro clone do planeta Terra.
Uma bola rochosa com a mesma cor marrom, o mesmo azul e o mesmo verde, que por séculos tem sido descolorida pela intervenção nociva do homem, que sempre preferiu pintar o seu nome com o cinza de tempestade, com o vermelho de sangue, e o negro da morte.
Assim como você, também me pergunto: quais são os benefícios da humanidade com a descoberta de exoplanetas? Quais são os benefícios do meio ambiente com a descoberta de exoplanetas? Quais são os benefícios de uma formiga com a descoberta de exoplanetas?
O esnobismo de cientistas em todo o mundo não reconhece a grande originalidade que mostra a Terra. A ciência quer transformá-la em um globo genérico, mundano e repetitivo, como se fosse uma bola de futebol que atravessa todos os campos desportivos, à espera de alguém a chute e marque um gol.
A grande biodiversidade do planeta Terra não advém de acidentes fortuitos, mas do todo-poderoso Big Bang.
As pinceladas de arte escondidas no sabor das frutas, na pele dos animais e no cheiro de flores, demonstram que um artista teve que pintar delicadamente esta vida natural, porque se condicionarmos a nossa existência ao binômio de explosões e evoluções, só encontraríamos a praga dos arbustos, a peste de fungos e a inércia das pedras.
A obstinação científica que busca copiar e colar as ações do planeta Terra em qualquer subúrbio galáctico presente no Universo, nos faz pensar que a onda de desastres contra a Pachamama vai crescer progressivamente, já que ainda não respeitamos a impressão digital de sua criação milenar.
Por exemplo, as mais de 300 baleias mortas na região de Farewell Spit (Nova Zelândia) são um fato lamentável que demonstra a incompreensão do ser humano com seu próprio mundo terrestre em pleno apogeu. A trágica notícia de Golden Bay com suposições de suicídio em massa de baleias, de feitiço paranormal do maléfico lugar, de uma cadeia sísmica submarina e até mesmo de magnetismo elementar da Terra, só enfatiza o charlatanismo que busca colonizar os exoplanetas .
Colonizar exoplanetas enquanto extinguimos a girafa. Este belo animal que todos desenhamos e pintamos na infância e, com a sua grande estatura, demonstrava a grande altura do pacifismo. Mas agora as girafas arrastam-se como proféticos vermes da extinção, pois estão na condição de animais vulneráveis de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), porque francoatiradores exercitam a caça furtiva com artilharia pesada, à altura do ecocídio amarelado.
Da mesma forma, a famosa morte do hipopótamo "Gustavito", em El Salvador, demonstra que um simples animal pode ser utilizado como mecanismo de pressão trabalhista. Primeiro, foi relatado que o mamífero tinha sido atacado por pessoas sem escrúpulos, que o feriram com picadores de gelo afiados até a morte e, depois, que ele estava doente e havia morrido de hemorragia pulmonar, após serem avaliados os resultados da necrópsia forense.
Mas agora sabe-se que por trás da morte de Gustavito havia reclamações e conflitos entre sindicalistas e diretores do Zoológico Nacional de El Salvador, que com a morte do hipopótamo conseguiram capitalizar a negligência dos mais inocentes e demonstraram que o dia 03 de março continua esquecido por todos.
Todos repudiamos a morte do filhote de cachorro argentino "Chocolate", esfolado vivo na província de Córdoba, que passou uma semana agonizando até sua morte letal. Os latidos de Chocolate justificaram a selvageria humana, que ressoa nas amargas ruas da América Latina todos os dias.
Uma pessoa que maltrata os animais não é apenas um criminoso condenado pela lei. Estamos realmente diante de psicopatas e sociopatas, que mais cedo ou mais tarde descontarão suas frustrações terríveis nos seus piores inimigos de carne e osso.
Melhor do que comer carne é devorar os vários tipos de bananas. Mas os enteados de Darwin também estão com os seus dias contados na Terra, já que o gorila oriental, o orangotango de Bornéu, o gorila ocidental e o orangotango de Sumatra, estão em crítico risco de extinção de acordo com a Lista Vermelha da IUCN. Enquanto os primatas de Darwin se alimentam de potássio para escalar as árvores, os primatas do tio Sam nutrem-se de armas mortais e projéteis pontiagudos para desertificar e arrancar as bananas.
Mudar o abuso do abusivo é impossível. Durante séculos, o burro tem sido usado como animal de carga em grande parte do mundo. As civilizações aproveitaram sua bondade e seu incansável espírito de trabalho para forçá-lo a percorrer longas distâncias com toneladas de injustiça em suas costas. O resultado do abuso tradicional é pago com a quase extinção do burro mexicano, que é um mamífero extraordinário, mas, por ter colocado o seu talento a serviço da humanidade, está agora chorando ajoelhado na antiga região asteca.
O tamanho não importa, importam os sentimentos. Chega de pensar nas vidas de elefantes majestosos, que têm sido diversão macabra em inúmeras apresentações públicas, onde são ferozmente golpeados, subjugados, ridicularizados, robotizados e humilhados por seus donos perversos. Não precisa viajar até os confins da Índia, do Paquistão ou do Vietnã para presenciar uma boa dose de violência com aplausos na primeira fila: há um grande circo com animais em frente a sua casa, competindo com o dom dos elefantes.
Às vezes, competir com a sabedoria dos elefantes é uma oportunidade de ouro para demonstrar a sua nobreza. Em um santuário de elefantes na Tailândia, um trabalhador fingiu estar se afogando na corrente do rio e, apesar da confusão de todas as pessoas que ouviam seus gritos e assistiam à cena caótica, uma pequena elefante não hesitou em arriscar a vida na água e resgatou com muita coragem o seu mentiroso cuidador.
A perversão é o hormônio de crescimento humano. Por isso alguns jovens perversos da cidade de Chillán, no Chile, se atreveram a colocar na rede social Facebook um vídeo em que se orgulham de usar maconha para drogar um gato, que não pôde salvar-se do hormônio de crescimento humano. Embora os covardes tenham deletado suas contas do Facebook, agora há mais adolescentes gravando e compartilhando o prazer perverso deste hormônio, com todos os fiéis seguidores esperando por mais material de abuso animal.
As drogas cortam as asas da liberdade. O belo Pintassilgo-da-Venezuela, um pássaro nativo e idolatrado pela cultura venezuelana, também está à beira da extinção fatal. A naturalidade biológica de sua esplêndida cor vermelha tornou-o um troféu para os caçadores, uma mercadoria para os contrabandistas e uma obsessão para os cientistas.
Suas penas, seu canto, sua elegância, seu erotismo e seu resplandor. Todos quiseram comprar toda a excentricidade do pintassilgo e agora toda a Venezuela está prestes a perder a poesia avermelhada do pequeno pássaro vermelho.
Gostaríamos de admirar uma bela orquídea e esquecer de toda a desolação relacionada, mas nem mesmo as orquídeas estão a salvo da anarquia.
Sabe-se que as orquídeas são plantas reverenciadas pelo folclore latino-americano, mas em países como México, Peru, Cuba, Chile, Colômbia, Brasil e Venezuela as orquídeas estão sendo plantadas nos jardins do limbo, pela alta taxa de desmatamento, pela expansão da fronteira agrícola e dos projetos de mineração, pelo urbanismo das zonas verdes protegidas, pelo uso contínuo de pesticidas, bem como pela venda de flores exóticas internacionalmente.
A Acacallis cyanea, a Chloraea disoides e a Dendrophylax lindeniios são muito alérgicas para os mais de 18.000 objetos que constituem o lixo espacial produzido pela Terra, devido a todos os restos de satélites artificiais, foguetes e explosões de fragmentos de metal, que representam o grande progresso astronômico da ciência moderna, baseado no uso lendário da espionagem, do belicismo e do ocultismo, para conquistar a órbita misteriosa dos sete queridos exoplanetas.
Fica evidente que continuar desfrutando da ficção teatral nos deixará cegos para a realidade caótica da Terra. Portanto, os exoplanetas significam um prisma de mudanças positivas para uma espécie humana vilmente condenada a aumentar sua imparcialidade de juízo.
Note-se que quanto mais conhecemos os pecados do Universo, maior o vazio interior que sentimos por dentro: a culpa, a depressão e a hostilidade. Mas quanto mais ajudamos sem esperar nada em troca, maior a recompensa emocional que sentimos por dentro: a plenitude, a alegria e a amizade.
Não queremos ser ovelhas negras, mas a negatividade é um conflito multipolar não resolvido.
Lançar uma bomba atômica na Terra e depois jogar golfe na Lua. Ali estava a chave mestra do aprendizado de que todos nós necessitamos.
Estamos perdidos em um labirinto milenar, que após cometer um genocídio precisa de um pouco de paz. Mas, depois de recuperar a força com um pouco de paz, precisa cometer um novo genocídio no labirinto milenar.
Embora todos vamos morrer, poucos morrerão na santa paz. A maioria dos seres humanos tem que viajar para um exoplaneta, para evitar que sejam julgados por seu orgulho e por suas feridas lendárias.
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Exoplanetas para escapar do planeta Terra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU