Por: Patricia Fachin | 20 Junho 2018
“Não há nenhuma dúvida de que 2013 foi o fato político de massas mais importante do país desde as Diretas Já”. É assim que Rodrigo Nunes, professor de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio, resume o significado das manifestações que aconteceram há cinco anos. Qualificar aqueles protestos desse modo, explica, não significa “fetichizá-los” ou “romantizá-los”, mas fazer justiça ao que eles representaram. “‘Fazer justiça’, para mim, quer dizer: reconhecer que uma coisa daquelas não é trivial; perceber que um novo momento político, para bem e para mal, se abre ali; e insistir que o potencial que existia ali é muito maior que todos os desdobramentos posteriores, e que não se esgotou em nenhum deles. Junho de 2013 aconteceu, mas não teve lugar; e tudo que temos vivido desde então decorre disto”, pontua.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Nunes frisa que Junho de 2013 pode ser analisado em termos geracionais como se opondo à geração da redemocratização, aquela que participou da formação do PT, da CUT, do MST e se construiu no contexto de grandes movimentos populares. Nessa perspectiva, compara, “o destino desta geração 2013 tem tudo a ver com a ideia de que Junho não teve lugar, logo também guarda semelhanças com o destino da geração 68. Aquela foi uma experiência formadora para muita gente, mas também profundamente traumática. (...) Neste sentido, esta geração é inteiramente herdeira de um certo ‘trauma da organização’ que atravessa a história da esquerda no mínimo desde Maio de 68: um certo medo de que a organização de que se precisa para mudar o mundo é também aquilo que pode nos impedir de fazê-lo, e a melancolia e o sentimento de impotência que seguem daí. Mas, por outro lado, ela é comparável à seleção brasileira derrotada em 2014: uma geração muito jovem e inexperiente que subitamente se viu com um peso enorme nas costas por conta do envelhecimento precoce da geração anterior”.
Cinco anos depois da efervescência de Junho de 2013, conclui, “esta geração está menos visível que antes – por conta dessa relativa fragmentação nos diversos ativismos ditos ‘minoritários’, porque o jogo político voltou a ser dominado pela geração da redemocratização, e porque este impasse segue sem ser elaborado”. E adverte: “O saldo organizativo de Junho de 2013 é catastrófico. Fora os coletivos ditos ‘minoritários’ (e MBL e Fora do Eixo), há hoje menos espaços de encontro e coordenação do que havia há cinco anos. Isto faz com que vários indivíduos queiram atuar politicamente, mas não encontrem maneiras de fazê-lo, enquanto muitos parecem ter abandonado a política por completo”.
Rodrigo Nunes | Foto: Arquivo Pessoal
Rodrigo Nunes é doutor em Filosofia pelo Goldsmiths College, Universidade de Londres, e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio. Na segunda metade deste ano, ele será pesquisador visitante na Brown University, nos Estados Unidos. Seu novo livro, intitulado Beyond the Horizontal. Rethinking the Question of Organisation, será publicado no próximo ano pela editora Verso.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Que análise faz de Junho de 2013, cinco anos depois?
Rodrigo Nunes - A coincidência do aniversário de cinquenta anos de Maio de 1968 e os cinco anos de Junho de 2013 nos facilita uma série de comparações. A mais óbvia é que, em ambos os casos, estamos falando de eventos locais que se inscrevem em ciclos globais de contestação. Isto já nos oferece uma chave de leitura: o destino desses acontecimentos no Brasil tem de ser lido também no interior de uma deriva política mundial na última década.
Para além de fatores como a imensa popularização das redes sociais, podemos identificar aí três grandes componentes de fundo.
Primeiro, a crise econômica mundial iniciada em 2007 e a falta de resposta política a ela. Se pensarmos que a estagflação dos anos 70 levou à morte do keynesianismo e do Estado de bem-estar social, veremos a diferença para o que era para ter sido a debacle do capitalismo financeiro desregulado e virou, pelo contrário, uma desculpa para a intensificação de políticas austeritárias.
Segundo, a modo como isto expôs o quanto a política representativa, à direita e à esquerda, fora capturada por interesses corporativos e financeiros. Houve ali uma demonstração patente do quanto a democracia fora corrompida, do quanto o modelo representativo deixara de oferecer uma representação minimamente fidedigna da sociedade e passara a funcionar como sistema de blindagem de alguns interesses econômicos.
Isto leva, terceiro, a um colapso do “centrismo”, o consenso ideológico entre direita e esquerda mainstream desde os anos 90 de que o único horizonte político possível seria gerir, com maior ou menor sensibilidade social, o capitalismo neoliberal. Isto implica, por sua vez, no reforço de alternativas mais à esquerda e mais à direita.
Este colapso do centro do espectro partidário tende a começar pela centro-esquerda, por motivos óbvios: é ela que é vista como traidora ou hipócrita ao abraçar valores, aliados e políticas historicamente associados com a direita. Isso acontece em certa medida com os Democratas norte-americanos, com o PS francês, com o PSOE na Espanha, com o Labour pré-Corbyn no Reino Unido, com o PASOK grego – este último vira praticamente sinônimo deste tipo de processo com o termo “pasokificação”. Fatos como a eleição de Macron [1] na França e a recente ascensão de um novo líder do PSOE devem ser vistos mais como arranjos temporários para estancar uma crise que não se resolveu do que uma estabilização de longo prazo.
Quer a lei do desenvolvimento desigual e uniforme que o Brasil fosse um ponto um pouco fora da curva nessa narrativa. Junho de 2013 acontece quando temos no poder um partido que, ao mesmo tempo cada vez mais integrado ao mainstream, representara uma novidade real na história política do país, tendo tirado milhões de pessoas da miséria, ampliado drasticamente o acesso à educação, e sido até ali bem-sucedido do ponto de vista econômico.
Mas é preciso lembrar que o primeiro governo Dilma desde o início estivera alienando sua base política natural, especialmente entre os mais jovens, no varejo: um retrocesso na cultura aqui, um retrocesso na questão LGBT acolá... Mais que isso, o governo hipotecara seu capital político em descalabros como Belo Monte — as críticas ao qual foram abundantemente comprovadas desde então — e os megaeventos esportivos, grandes farras de corrupção cujo legado, mais que pífio, é negativo. Por último, tratava-se também de um momento de inflexão econômica, não só pela deterioração de indicadores como a inflação, mas porque — como já se dizia então, e Laura Carvalho claramente no ótimo Valsa Brasileira — o expansionismo fiscal do governo Dilma era bem menos progressista do que se dizia e, na verdade, altamente concentrador de renda.
Podemos distinguir dois momentos bem claros nesta trajetória global.
Na primeira metade da década, os ventos sopram para a esquerda; embora todos aqueles movimentos fossem bastante confusos e misturados, a demanda por mais participação e mais igualdade é clara em todos eles. Mas todos eles se confrontam ao mesmo tempo com seus limites internos e com a resistência do centro político, inclusive (ou especialmente) da centro-esquerda, que tenta barrá-los para assegurar a própria sobrevivência. Estas possibilidades são bloqueadas, e o que acontece em seguida?
Na segunda metade da década, os ventos sopram a favor da extrema direita. As únicas relativas exceções talvez sejam, hoje, Espanha e Reino Unido, onde o que ocorre é uma espécie de empate entre a nova esquerda e o centro; talvez o México possa em breve trazer algum alento. Mas em países como o Egito, o resultado é catastrófico: um regime tão ruim ou pior quanto o que se tinha.
É nesta hora que alguns concluem: “manifestantes ingênuos, deveriam saber que ia dar nisso”. Seria ridículo se não fosse profundamente desrespeitoso. Não era meia dúzia de tontos nas ruas; eram países inteiros mobilizados, e isto não só não é trivial, como é algo totalmente diferente do tipo de cálculo seguro que estes engenheiros das obras prontas fazem. Uma lição que Michel Foucault [2] tirou da Revolução Iraniana, que ele acompanhou antes que se consolidasse a virada teológica, é que há algo de irredutível na revolta: as pessoas se revoltam porque têm alguma coisa que as está incomodando e este incômodo se tornou insuportável. É isso, junto com a esperança que vem da força coletiva, que contagia as pessoas quando uma revolta se propaga.
O bloqueio destas alternativas, em todo caso, oferece um segundo paralelo com 68. Em 1984, Deleuze [3] e Guattari [4] publicaram um texto cujo título pode ser traduzido tanto como “Maio de 68 Não Aconteceu” quanto “Maio de 68 Não Teve Lugar”. Trata-se de um jogo de palavras: eles querem dizer justamente que maio de 68 aconteceu, mas não teve lugar, isto é, a transformação que era possível naquele momento não conseguiu se inscrever de fato na sociedade, ou se inscreveu de maneira amputada, distorcida, de certa forma até contra ela mesma.
Há quem diga hoje que 2013 não tem importância porque deixou um legado concreto insignificante. Mas esta é apenas uma das dimensões em que um acontecimento pode ser medido, e algo capciosa, porque resultados são objeto de disputas e sempre podem ser desfeitos. Pela mesma lógica, poderíamos dizer que os governos do PT também não importaram, já que os avanços que realizaram estão sendo tão facilmente revertidos. Se pensamos do ponto de vista da não redutibilidade, da não trivialidade daquilo que aconteceu, não há nenhuma dúvida que 2013 foi o fato político de massas mais importante do país desde as Diretas Já.
Dizer isto não implica dizer que foi perfeito, ou que o sonho importa mais que os resultados. Não se trata de “fetichizar” ou “romantizar”, como frequentemente se acusa, mas de fazer justiça ao acontecimento. “Fazer justiça”, para mim, quer dizer: reconhecer que uma coisa daquelas não é trivial; perceber que um novo momento político, para bem e para mal, se abre ali; e insistir que o potencial que existia ali é muito maior que todos os desdobramentos posteriores, e que não se esgotou em nenhum deles. Junho de 2013 aconteceu, mas não teve lugar; e tudo que temos vivido desde então decorre disto.
IHU On-Line - Então o espírito de Junho se manteve presente nesses cinco anos?
Rodrigo Nunes - Quando se diz “junho de 2013”, muita gente tem em mente os grandes protestos que aconteceram nas áreas centrais das principais capitais brasileiras naquele mês. Aliás, é muito comum as pessoas terem em mente os protestos que aconteceram em apenas uma destas capitais — normalmente São Paulo — e fazerem grandes generalizações a partir disso.
Eu prefiro falar em “2013” ou “junho” para me referir a um ciclo de protestos que começa em junho de 2013 e se encerra na Copa de 2014. Este ciclo inclui manifestações em cidades grandes, médias e pequenas em todos os 27 estados, estimadas terem envolvido dois milhões de pessoas, tanto no centro das cidades como, em escala menor, nas periferias e favelas; a onda de ocupações de câmaras municipais entre julho e agosto de 2013; os protestos que continuaram acontecendo no Rio até outubro daquele ano; os grandes rolezinhos que aconteceram em São Paulo como resposta à repressão, na virada do ano; a greve selvagem dos garis no Rio em fevereiro de 2014; e até mesmo coisas como o Bom Senso FC.
Como podemos relacionar isto tudo? Em alguns casos, porque os participantes são os mesmos, ou se comunicam; em outros, porque as pautas e os repertórios de ação são os mesmos, ou se comunicam; em outros, porque as pessoas estão expressa e conscientemente respondendo umas às outras e ao contexto. Qual contexto? Em essência, este é o traço que liga todas essas coisas: um momento de crise simbólica do poder constituído e de alta mobilização social, em que as pessoas estão indo para as ruas e redes sociais expressar sua insatisfação com as instituições, a classe política, os serviços públicos, a qualidade de vida, a corrupção etc.
Este ciclo se encerra no dia da final da Copa, com a prisão dos 23 no Rio de Janeiro — até hoje não absolvidos porque a justiça sabe não ter elementos para condená-los —, mas continuará reverberando e produzindo desdobramentos os mais variados pelos próximos anos. Aí entram os protestos pró-impeachment em 2015, as ocupações de escolas em 2016, a ampla adesão de setores não sindicais à greve geral de 2017, a greve dos caminhoneiros em 2018.
IHU On-Line - Em que sentido podemos dizer que os protestos anti-impeachment, o movimento secundarista e a mobilização dos caminhoneiros são desdobramentos de Junho?
Rodrigo Nunes - Primeiro, porque eles seguem respondendo a esse contexto aberto por Junho: a desmoralização das instituições, do sistema político e daqueles que o manejam. Falo em “crise simbólica” porque ela não implica necessariamente uma crise do poder fático: o impeachment é justamente um golpe da classe política para, em troca de uma promessa de blindagem pela mídia e pelo grande capital, efetuar uma série de reformas de maneira inteiramente unilateral — e eles tiveram força para isso. Mas o preço disso, claro, foi aprofundar ainda mais essa crise; o impeachment, neste sentido, foi uma tentativa de estabilização do sistema que só fez criar mais instabilidade, como estamos vendo com as eleições.
Segundo, porque, em todos estes desdobramentos posteriores, tanto os participantes quando os governantes estão trabalhando com a memória de 2013, sua potência, os afetos que animou, o impacto que teve. Cada nova iniciativa aparece com a expectativa de ser “o novo 2013”, com esperança (por parte dos participantes) ou medo (por parte dos governantes). Neste sentido, se o desdobramento que mais se pareceu politicamente com 2013 foi o movimento dos secundaristas, o que mais se parece com 2013 em termos de impacto foi a greve dos caminhoneiros.
Além dessa memória, há também um lastro prático deixado pelas mobilizações de 2013: contatos, estruturas, modos de organização, repertórios de ação etc. O MBL aparece em 2013 e depois lidera os protestos pró-impeachment; alguns dos secundaristas estiveram nos protestos daquele período; os caminhoneiros se organizam de maneira distribuída através do WhatsApp.
No que o momento que vai de 2013 a 2014 difere do momento que vai de 2015 até 2018, então? Num ponto fundamental: se naquele curto intervalo as pessoas pareciam se compreender como participando de uma mesma luta comum, agora cada luta se situa como uma luta particular, isto é, como aliada de algumas e inimiga de outras. Dito de outra forma: de 2013 a 2014, o antagonismo é entre sociedade e sistema político; de 2015 em diante, as linhas de antagonismo se tornam mais complexas. Ainda há uma polarização forte entre sociedade e sistema político, como evidenciado pelo apoio popular aos caminhoneiros; mas essa linha de antagonismo agora é atravessada pela polarização entre petismo e antipetismo, bem como por um jogo complexos de alianças, cooptações e simbioses entre elementos do sistema político e setores sociais, organizados ou não.
O que seria o “espírito de junho”, então? Por um lado, este desencanto com o poder constituído, a constatação de que aquele abismo entre sociedade e poder constituído não só não se fechou, como ampliou-se ainda mais desde então. (Paradoxalmente, esta descrença também pode se expressar como seu contrário, a fé numa aposta às cegas: “esses políticos são todos iguais, menos fulano, que vai dar um jeito em tudo isso aí”. As pessoas perderam a fé no poder constituído, mas, por isso mesmo, desejam acreditar em algo.) Por outro lado, esse espírito também engloba uma certa “excitabilidade crítica”: uma desconfiança que se traduz em ânsia de participar, de intervir nos rumos do país, mesmo sem saber exatamente como.
Mas aqui entra uma questão. Usa-se a palavra “politização” em dois sentidos, indicando seja o desejo de participar, seja a profundidade de análise e compreensão dos mecanismos da política. O que tivemos nestes cinco anos foi um crescimento da politização no primeiro sentido, mas que não foi acompanhado por um crescimento proporcional no segundo. Há muita gente cuja leitura da realidade, de como as instituições e os processos funcionam, de como intervir, ainda é bastante confusa. Pior ainda, constatou-se que existe no país — especialmente naquelas camadas que supostamente têm mais acesso à educação e informação! — um terreno fértil para fake news de todos os tipos, para não falar no preconceito nu e cru.
É como se tivéssemos encontrado aí um daqueles “gargalos estruturais” que travam a economia brasileira de tempos em tempos. É óbvio que o poder que a mídia teve para influenciar o impeachment e o poder que as fake news ganharam estão diretamente ligados ao fato de que, em uma década de governos petistas, não se fez nada para democratizar e diversificar a comunicação de massa. Esta fatura está sendo paga com juros pesados.
IHU On-Line – Uma das leituras feitas de Junho de 2013 é que essas manifestações tiveram como consequência o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Na sua avaliação, Junho de 2013 causou o impeachment?
Rodrigo Nunes - É evidente que existe uma relação entre as duas coisas. A questão é que relação é essa, e sobre isso eu diria: 2013 cria um contexto, este contexto abre várias oportunidades, alguns agentes aproveitam suas oportunidades. Isso é totalmente diferente de afirmar que uma coisa é a causa da outra sem qualificação alguma. É infantil dizer que “Junho é o começo de tudo”, fazendo de conta que Junho não tem também as suas causas, ou querer reduzir Junho ao impeachment, ou o impeachment a Junho.
Mais que isso: se aquela fase de 2013 a 2014 é bloqueada, e o fio é retomado com os protestos pró-impeachment de 2015, isso diz tanto sobre a composição daquela fase inicial quanto sobre os resultados da ação de quem a bloqueou.
Uma das provas do quanto 2013 importa é esta dificuldade que se tem, no debate político, de produzir análises desapaixonadas a seu respeito; quase sempre, as pessoas estão tentando marcar pontos para a posição que defendem. Digo isso não em nome de uma suposta neutralidade científica, mas por uma questão política: nos movemos no interior de uma conjuntura tanto melhor quanto mais desapaixonada e mais precisa for nossa leitura da realidade. Infelizmente, as pessoas frequentemente preferem negar a realidade a revisar suas crenças ou sua identidade.
IHU On-Line - Na primeira entrevista que nos concedeu sobre Junho de 2013, em 2014, você afirmou que desde o surgimento daquelas manifestações, “se cristalizou uma nova geração política no país”. Como essa geração vem atuando desde então?
Rodrigo Nunes - O que eu dizia na época é que se, seguindo Karl Mannheim, pensamos gerações não em termos meramente etários, mas em relação a acontecimentos, isto nos permitia opor uma “geração 2013” à última grande geração política formada no Brasil, que eu chamava de “geração da redemocratização” — justamente, aquela que participou da fundação do PT, da CUT, do MST etc.
O destino desta geração 2013 tem tudo a ver com a ideia de que Junho não teve lugar, logo também guarda semelhanças com o destino da geração 68. Aquela foi uma experiência formadora para muita gente, mas também profundamente traumática.
Primeiro, pela repressão. Se Junho de 2013 tivesse sido tratado como foram tratados os protestos pró-impeachment de 2015, a conjuntura hoje seria muito diferente — e, de novo, isso diz mais sobre quem reprimiu que sobre quem foi reprimido.
Segundo, pela experiência que estes indivíduos tiveram de sua própria singularidade. Enquanto a geração da redemocratização se construiu no contexto de grandes movimentos populares (o novo sindicalismo, as Comunidades Eclesiais de Base, o MST), esta geração foi apanhada na contradição performativa de, ao dizer “não nos representam”, estar falando em nome de um país muito mais amplo e diverso do que eles eram. Tratava-se predominantemente de uma juventude de classe média e da classe média baixa que havia “ascendido” (isto é, chegado à universidade e aumentado seu poder de consumo) no governo Lula. Pior que isso, 2013 os colocava de algum modo em oposição a estes grandes movimentos populares da geração anterior, na medida em que estes integravam a base petista.
Com base nisso, havia quem dissesse que aquela juventude não tinha “legitimidade” para protestar, porque “legítimos” seriam apenas estes movimentos tradicionais. O que é uma grande confusão, visto que “legitimidade” é uma questão de poder constituído e de formas estabelecidas (quem é reconhecido como ator num espaço político delimitado), enquanto o protesto é uma questão de poder constituinte e de relações de força (a delimitação de um novo espaço, o reconhecimento de novos atores). Que diferença fez dizer que os manifestantes de 2015 não eram “legítimos”? Eles foram lá e ajudaram a derrubar o governo do mesmo jeito. Absolutamente todo mundo tem o “direito” de fazer política; a questão é como, em nome de quê, junto com quem, construindo que tipo de relação.
Em todo caso, essa geração de Junho sente esse desconforto, o que é saudável em vários sentidos. A partir daí, temos dois desdobramentos inter-relacionados. Por um lado, muita gente que estava nas ruas em 2013 recua desse protesto mais geral, sobre o país como um todo, para atuar em questões mais específicas, e aí temos esse reflorescimento do ativismo feminista, negro, LGBT, como não se via no Brasil desde os anos 80. O que é também, obviamente, o efeito de uma década de democratização do acesso a um discurso crítico (pela universidade) e à comunicação (pela internet e pelos meios tradicionais). Por outro lado, muita gente que foi protagonista em 2013, mas agora tem uma consciência muito mais aguda de seus próprios privilégios, passa a entender que seu papel é assumir um papel mais de coadjuvante em relação à luta das populações periféricas e mais oprimidas.
Isto é positivo, mas evidentemente também comporta limites. Um deles é que este foco no particular acabe indiretamente reforçando uma divisão do trabalho intelectual em que seguem sendo os mesmos aqueles que pensam o universal ou comum. Para além de ter mulheres discutindo questões de mulheres, negros discutindo questões de negros, precisamos também ter o país como um todo pensado pelas mulheres, o país como um todo pensado pelos negros.
Outro limite é que o modo como se discute a questão dos privilégios, que sem dúvida é muito importante, também pode ser muito contraproducente, criando divisões onde haveria possibilidades de diálogo e uma adesão superficial a determinados códigos ao invés de engajamento com problemas concretos, cuja resolução exige sempre mais complexidade do que cabe em qualquer esquema interpretativo. Há sempre o risco de que, ao invés de ser um ponto de partida para fazer política mais e melhor, isto vire uma ferramenta de policiamento e autocensura que tolhe mais do que potencializa.
Mas creio que há um terceiro nó traumático em 2013, muito menos discutido e, portanto, elaborado. Se é evidente que a janela de possibilidades aberta por Junho foi fechada em grande parte por motivos externos — a repressão e a reimposição do antagonismo petismo/antipetismo —, já era claro desde o fim de 2013 que os protestos haviam encontrado grandes limites internos. Nos protestos de outubro de 2013 no Rio, que foram os últimos grandes em todo o país, havia uma palpável sensação de impasse: um desejo de continuar ocupando as ruas, mas uma falta de clareza sobre como e com quais fins.
Isto se verificava na falta de inovação do repertório de ação: eram sempre os mesmos tipos de manifestação, reprimidas da mesma maneira, que acabavam sempre do mesmo jeito. Verificava-se, também, numa constatação que ficaria ainda mais transparente no governo Temer: um sistema político emparedado, lutando pela sobrevivência, pode simplesmente se acostumar a operar com baixíssima legitimidade, de modo que instrumentos de pressão como protestos se tornam praticamente irrelevantes, a não ser que sejam gigantescos. Ou seja, percebia-se um total descompasso entre o único tipo de ação de que se dispunha e o desafio que se tinha pela frente.
Sobretudo, porém, o que se pressentia era um descompasso profundo entre uma teoria da transformação social difusa e a realidade com a qual os manifestantes estavam se deparando. Algo que se apontou bastante na época foi a contradição entre uma grande recusa do Estado e todo tipo de mediação institucional, por um lado, e uma série de demandas implicitamente colocadas ao Estado (qualificação dos serviços públicos, reforma eleitoral, fim da polícia militar). Havia, além disso, todo um imaginário e repertório insurrecional que dissonava de uma pauta que propunha reformas e uma situação que ninguém, salvo os muito afoitos, considerava sequer pré-revolucionária. Havia, por último, um desejo muito grande de conquistar o apoio da população, mas um medo da população tal como ela efetivamente pode ser — enrolada na bandeira nacional ou dizendo coisas não imediatamente assimiláveis (embora não necessariamente incompatíveis) àquelas da esquerda.
É como se as pessoas desejassem um conjunto de fins e desejassem obtê-los por um conjunto de meios; e quando sentiram que talvez aqueles meios não servissem para aqueles fins, entraram num dilema do qual não conseguiram sair. Daí que, a partir de um certo momento, os protestos entrassem claramente em modo repetição.
Neste sentido, esta geração é inteiramente herdeira de um certo “trauma da organização” que atravessa a história da esquerda no mínimo desde Maio de 68: um certo medo de que a organização de que se precisa para mudar o mundo é também aquilo que pode nos impedir de fazê-lo, e a melancolia e o sentimento de impotência que seguem daí. Mas, por outro lado, ela é comparável à seleção brasileira derrotada em 2014: uma geração muito jovem e inexperiente que subitamente se viu com um peso enorme nas costas por conta do envelhecimento precoce da geração anterior.
Esta geração está menos visível que antes — por conta dessa relativa fragmentação nos diversos ativismos ditos “minoritários”, porque o jogo político voltou a ser dominado pela geração da redemocratização, e porque este impasse segue sem ser elaborado. O saldo organizativo de Junho de 2013 é catastrófico. Fora os coletivos ditos “minoritários” (e MBL e Fora do Eixo), há hoje menos espaços de encontro e coordenação do que havia há cinco anos. Isto faz com que vários indivíduos queiram atuar politicamente, mas não encontrem maneiras de fazê-lo, enquanto muitos parecem ter abandonado a política por completo. Mas nada garante que isso não possa mudar.
No que poderia consistir a elaboração do impasse? Digo uma coisa que ela não precisa significar. A pior conclusão que se poderia tirar de tudo isso é que, se 2013 não encontrou os meios de produzir a transformação desejada, e acabou provocando uma reação tão violenta na direção contrária, isto prova que a Realpolitik petista é que era o caminho certo; que ou se aceitam todas as conciliações ou não se faz nada. Acontece que o problema está justamente nesta maneira binária, “ou tudo ou nada”, de pensar.
O que se deve criticar nos governos do PT, me parece, não é o fato de não terem correspondido a algum ideal do que seria um governo de esquerda, mas a ausência de uma estratégia para que as mudanças que introduziu se retroalimentassem, se reforçassem ao longo do tempo, lançassem raízes e criassem as condições para mudanças mais ambiciosas no futuro. Isto fica claro quando comparamos a facilidade com que os avanços da última década estão sendo revertidos com a longa continuidade histórica da era Vargas. O projeto tinha pés de barro, na medida em que dependia de condições (sobretudo o ganha-ganha permitido pelo boom das commodities) que não poderiam durar para sempre, e não se preparou para quando estas acabassem.
O que se deve criticar não é o pragmatismo em si, mas um pragmatismo tacanho que diz “é preciso fazer o possível” sem entender que o “possível” não é uma quantidade fixa, mas justamente o objeto de uma política transformadora. A luta é sempre para modificar o possível, isto é, para ampliar a esfera das transformações possíveis. Se você não faz isso, fica ao sabor da sorte: quando as condições mudam, sua estratégia se torna inviável. É óbvio que ninguém pode se dar ao luxo de simplesmente ignorar a Realpolitik; mas não é dado que a Realpolitik só possa ser cínica, tacanha, burra. Ela também pode ser investida de desejo e ambição de transformação.
IHU On-Line – Outra análise que você fez à época era a de que esse tipo de manifestação demonstrava a convergência de três tendências históricas: o uso das redes para a autocomunicação de massa, a queda dos custos de organização e a crise dos mecanismos de representação. Ainda mantém essa análise?
Rodrigo Nunes - Integralmente. O que ainda não estava tão claro na época era esta potência fissípara das redes sociais, o quanto elas podem dividir ao invés de organizar. E isto tem a ver, por um lado, com o próprio desenho destas plataformas e, por outro, com o refluxo das ruas.
Dado que a mercadoria que as redes vendem é a nossa participação — e os dados que esta produz —, elas são desenhadas para atrair participação através de mecanismos de gratificação altamente viciantes: like, retuíte, compartilhamento... É isto que vai constituindo ao mesmo tempo grupos de pessoas com gostos e opiniões semelhantes e nos constituindo como integrantes desses grupos: como desejamos nossa dose de gratificação, passamos a fazer postagens com nosso “público” em mente, dizendo aquilo que achamos que quem nos segue quer ouvir. Este processo, iterado várias vezes, é o que cria as chamadas “bolhas”, e passa também a individuar algumas bolhas como inimigas de outras: “nós somos as pessoas cuja identidade inclui não gostar daquelas outras pessoas lá”.
É um espaço de exibicionismo, só o que muda é o tipo de exibição; pode ser física, financeira, intelectual, moral. E é um espaço onde o motor do engajamento é a busca da gratificação, do reforço positivo, do reconhecimento pelos pares. Se você está nas redes sociais, está lá para “lacrar”. Cada grupo tem seu estilo próprio de “lacração”: pode ser fotos de viagem, textos a favor ou contra o feminismo, pode ser inclusive a crítica da cultura da lacração. Mas a moeda do reino é essa.
Ora, estar nas ruas embaralha tudo isso. Você encontra as pessoas frente a frente, o que não só faz você entendê-las melhor, mas impede certos arroubos retóricos. Você tem que lidar com situações concretas, onde o que está em jogo é resolver um problema e não marcar pontos diante do seu “público”. Quando não há rua, as pessoas passam a agir como se o Facebook fosse o mundo, e ganhar discussões ali passa a parecer a maior ferramenta de transformação social. Às vésperas da votação da PEC do teto de gastos, ainda havia gente escrevendo que “a questão mais importante hoje no Brasil é se foi ou não foi golpe”. Era um exemplo perfeito de que, para alguns, o Facebook havia deixado de ser uma parte do mundo para virar o único mundo que há.
Não se trata de dizer que as redes são más, mas que elas devem ser usadas com moderação. Se há muito acontecendo no mundo, passar muito tempo on-line não fará tanto mal; mas se o mundo está devagar, talvez você deva reduzir o tempo nas redes também, para não perder o senso de proporção.
IHU On-Line - Que tipo de relação é possível estabelecer entre Junho de 2013 e a recente greve dos caminhoneiros? Quais foram os erros e acertos da esquerda no seu entendimento dos dois momentos?
Rodrigo Nunes - A greve dos caminhoneiros foi a comprovação de algo que poderíamos chamar de “hipótese da terceira força”, com a qual algumas pessoas (eu incluído) temos trabalhado desde 2015. Se Junho de 2013 pôde chegar àquelas dimensões, era porque era transversal à oposição petismo/antipetismo; e dado que essa oposição voltou a dominar o debate a partir das eleições de 2014, só teria força suficiente para embaralhar o jogo da classe política (fosse para impedir o impeachment ou as reformas, fosse para derrubar Temer, ou qualquer outro fim) alguma coisa que se constituísse a partir de um terceiro ponto não facilmente mapeável nesta oposição. Um corolário disso era que, se o PT tentasse hegemonizar os protestos contra Temer, estes protestos jamais chegariam a “engatar”. Confirmou-se o corolário e confirmou-se a hipótese: se não em termos de adesão efetiva, pelo menos em termos de apoio declarado, a greve dos caminhoneiros foi a mobilização de maior alcance desde Junho, e sabe lá onde poderia ter levado.
Outro ponto: se 2013 continha aquele impasse de uma busca por novos tipos de ação política num momento em que os protestos de rua pareciam estar perdendo seu valor, esta greve aponta pistas interessantes. Mais que a própria greve geral de 2017, ela ameaçou parar o país, porque toca num dos pontos mais frágeis do capitalismo contemporâneo, que são suas cadeias logísticas. É por aí que passa a invenção de novas formas de intervenção — pela capacidade de voltar a bater onde dói (a economia), num momento em que a classe política parece cada vez menos preocupada com sua legitimidade (a política). A oposição que se fazia em 2013 entre “protesto simbólico” e “ação direta”, onde esta última era praticamente sinônimo da tática Black Block, esconde o fato de que uma vidraça quebrada, para um banco, é um ataque inteiramente simbólico, que pode questionar sua imagem pública, mas sequer arranha suas operações. Sem quebrar um vidro que fosse, a ação direta dos caminhoneiros foi muito mais eficiente.
2013 também foi fora da curva internacional no sentido de que, a partir de um certo ponto, a mídia abraçou os protestos e passou a tentar pautá-los, com algum sucesso. Com a greve dos caminhoneiros vimos o quanto mais insidiosa tornou-se essa possibilidade, com grupos de extrema direita se apresentando nas redes sociais, no WhatsApp etc. como representantes legítimos do movimento, projetando uma penetração entre os caminhoneiros que não necessariamente possuíam.
Repetiu-se, em 2018, aquilo que se vira na reação de uma parte grande da esquerda em 2013: uma extrema dificuldade de compreender e dialogar com qualquer elemento que escape às coordenadas esquemáticas da oposição petismo/antipetismo. Os erros foram muito semelhantes, fosse no recurso à teoria da conspiração (CIA em 2013, golpe militar agora), fosse na interpretação equivocada da composição social dos protestos (ignorando a participação e apoio dos “batalhadores” em 2013, reduzindo uma greve ao mesmo tempo autônoma e patronal a um mero locaute agora), fosse na tendência a taxar de saída todos os envolvidos como de direita (efetivamente abrindo mão de disputá-los e potencialmente entregando-os de mão beijada à direita).
Na base destes erros estão dois hábitos nocivos de pensamento. Um é o binarismo que só reconhece a possibilidade de as coisas serem A ou não-A, nunca B ou C. O outro é a falta de perspectivismo: não entender que o mundo é diferente visto de diferentes pontos, e não podemos supor que aquilo que o outro está vendo é exatamente o que eu estou vendo, ou aquilo que ele está dizendo é exatamente o que eu estou ouvindo. Tampouco podemos supor que o antagonismo pelo qual entendemos o mundo é aquele pelo qual as outras pessoas se entendem.
Entre as lições mais úteis do chamado perspectivismo ameríndio para a política está a ideia de que a sensação de que entendemos aquilo que uma pessoa diz porque entendemos as palavras que ela usa é frequentemente enganadora. Começamos a compreender um discurso apenas quando começamos a entender a maneira como diferentes conceitos, que podem ser nominalmente iguais a conceitos que reconhecemos do nosso dia a dia, relacionam-se entre si — isto é, quando, ao invés de supor que são usados da mesma maneira que nós os usamos, somos capazes de apreender seu funcionamento no interior de um sistema conceitual distinto do nosso.
Relatos da greve como o de Rosana Pinheiro Machado [5] sugerem que talvez precisemos levar isto em conta para entender mesmo uma palavra de ordem repulsiva como "intervenção militar". É óbvio que há quem realmente deseje uma ditadura ou tenha uma nostalgia imaginária dos militares, ou seja, use o conceito com o mesmo valor que ele tem no nosso sistema conceitual. Mas a popularidade do conceito e o modo como ele circula sugerem a possibilidade de que ele também opere de outra forma, nomeando o desejo por uma solução mágica que, interrompendo o business as usual de um sistema político que se autonomizou completamente em relação à população, zerasse um jogo que muitos veem como irremediavelmente viciado.
Como solução mágica, "intervenção militar" responde a um outro conceito — "corrupção" — que nomeia a causa mágica que seria a origem direta ou indireta de todos os males e cuja supressão, portanto, seria suficiente para resolver todos os problemas nacionais.
Podemos, é claro, dizer que tanto o diagnóstico de que a crise atual seria causada pela corrupção quanto a receita de uma mítica "intervenção militar" como panaceia são imaginários. O importante, porém, é entender em que medida estas são respostas imaginárias a causas reais, isto é, o quanto de racionalidade, apesar de tudo, há neste sistema conceitual. Pois "corrupção", ao mesmo tempo que é uma eterna pista falsa, nomeia de maneira imprecisa a percepção absolutamente correta desta autonomização do sistema político, bem como de sua captura permanente por interesses e setores determinados; e o desejo por um deus ex machina ou "violência divina" expressa uma conclusão que, diante do modo como o sistema se blindou de 2013 para cá, está longe de ser irrazoável: que uma mudança do tamanho que é preciso nas relações entre sociedade e estado dificilmente será promovida pela classe política existente, visto o quanto sua sobrevivência depende de que tudo se mantenha igual.
Em resumo: nem todo mundo que fala em corrupção está destinado a ser reacionário, nem todo mundo que fala em intervenção militar está necessariamente condenado a votar em Bolsonaro. Mas só vamos conseguir dialogar com estas pessoas se efetivamente dialogarmos com elas, o que passa por entendê-las na sua diferença em relação a nós.
Notas:
[1] Emmanuel Macron [Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron] (1977): é um político, funcionário público e banqueiro francês, atual presidente do seu país. Macron estudou filosofia na Universidade de Paris X - Nanterre, concluiu um mestrado em políticas públicas no Instituto de Estudos Políticos de Paris, e depois se formou na Escola Nacional de Administração em 2004. Em seguida, passou a trabalhar na Inspeção-Geral de Finanças antes de se tornar um sócio do banco Rothschild. (Nota da IHU On-Line)
[2] Michel Foucault (1926-1984): filósofo francês. Suas obras, desde a História da Loucura até a História da sexualidade (a qual não pôde completar devido a sua morte), situam-se dentro de uma filosofia do conhecimento. Foucault trata principalmente do tema do poder, rompendo com as concepções clássicas do termo. Em várias edições, a IHU On-Line dedicou matéria de capa a Foucault: edição 119, de 18-10-2004; edição 203, de 6-11-2006; edição 364, de 6-6-2011, intitulada 'História da loucura' e o discurso racional em debate; edição 343, O (des)governo biopolítico da vida humana, de 13-9-2010, e edição 344, Biopolítica, estado de exceção e vida nua. Um debate. Confira ainda a edição nº 13 dos Cadernos IHU em formação, Michel Foucault – Sua Contribuição para a Educação, a Política e a Ética. (Nota da IHU On-Line)
[3] Gilles Deleuze (1925-1995): filósofo francês. Assim como Foucault, foi um dos estudiosos de Kant, mas tem em Bergson, Nietzsche e Espinosa, poderosas interseções. Professor da Universidade de Paris VIII, Vincennes, Deleuze atualizou ideias como as de devir, acontecimentos e singularidades. (Nota da IHU On-Line)
[4] Pierre-Félix Guattari (1930-1992): filósofo e militante revolucionário francês. Colaborou durante muitos anos com Gilles Deleuze, escrevendo com este, entre outros, os livros Anti-Édipo, Capitalismo e Esquizofrenia e O que é Filosofia?. Félix Guattari, dotado de um estilo literário incomparável, é, de longe, um dos maiores inventores conceituais do final do século XX. Esquizoanálise, transversalidade, ecosofia, caosmose, entre outros, são alguns dos conceitos criados e desenvolvidos pelo autor. (Nota da IHU On-Line)
[5] Rosana Pinheiro-Machado: é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e doutora em Antropologia Social pela mesma universidade. Foi professora de Desenvolvimento Internacional na Universidade de Oxford de 2013 a 2016. Atualmente é professora visitante no Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo - USP. Ela já concedeu algumas entrevistas ao site do IHU, entre elas, Esquerda e direita disputam regimes de verdade. Entrevista especial com Rosana Pinheiro-Machado, publicada no site do IHU no dia 6-11-2017, e Ética confucionista X espírito capitalista: ''Não são lógicas opostas''. Entrevista especial com Rosana Pinheiro-Machado, publicada no dia 15-5-2012. (Nota da IHU On-Line)
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Junho de 2013 aconteceu, mas não teve lugar. Entrevista especial com Rodrigo Nunes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU