Israel e Hamas se reúnem para conversas no Egito enquanto o bombardeio de Gaza continua, apesar das exigências de Trump

A organização palestina relata 131 ataques aéreos e de artilharia na Faixa, com mais de 90 mortes no fim de semana, embora a intensidade tenha diminuído nas últimas horas.

A reportagem é de Francesca Cicardi e Victor Honorato, publicada por El Diario, 06-10-2025.

As negociações para a implementação efetiva do plano de paz para Gaza, apoiado por Donald Trump, estão programadas para começar nesta segunda-feira no Egito, entre delegações do Hamas e de Israel, em um contexto de cessar-fogo mais nominal do que real, após um fim de semana em que o exército israelense continuou bombardeando a Faixa de Gaza, apesar de ter anunciado anteriormente uma retirada mínima de sua ofensiva implacável. Somente durante a noite a intensidade da ofensiva diminuiu.

Trump começou o domingo ameaçando o Hamas na CNN com "aniquilação total" caso não cedesse o controle de Gaza, mas à noite publicou uma mensagem um pouco mais conciliatória em sua plataforma de mídia social, Truth. Ele saudou as "discussões positivas" entre o Hamas e mediadores internacionais e anunciou que as negociações continuariam na segunda-feira, embora tenha alertado que, se não prosperassem, haveria "derramamento de sangue em massa". Entre os primeiros pontos das negociações deve estar a libertação dos reféns israelenses.

“Disseram-me que a primeira fase [das negociações] deverá ser concluída esta semana e peço a todos que se movam rápido”, instou.

Apesar do apelo de Trump na sexta-feira para que Israel suspendesse "imediatamente" o bombardeio de Gaza depois que o Hamas aceitou alguns aspectos de seu plano, o exército israelense continuou seus ataques aéreos e terrestres contra a Faixa de Gaza, bem como suas operações militares na Cidade de Gaza.

No fim de semana, 94 palestinos foram mortos, segundo autoridades locais. No domingo, no Kibutz Beeri, localizado a pouco mais de 4 quilômetros da fronteira com Gaza, explosões de ataques israelenses podiam ser ouvidas a cada 20 ou 30 minutos, conforme confirmado pelo elDiario.es.

Os remanescentes do governo controlado pelo Hamas registraram 131 ataques aéreos e de artilharia entre sábado e domingo, concentrados na Cidade de Gaza, onde o exército lançou uma grande ofensiva em meados de setembro. No domingo, o chefe do Exército israelense, Eyal Zamir, declarou que "não há cessar-fogo" em Gaza, mas "há uma mudança no status das operações" das tropas, de acordo com um comunicado oficial. "A operação não acabou; devemos permanecer alertas e prontos para o combate o tempo todo", afirmou.

O exército israelense agora descreve seus bombardeios como “operações defensivas”, mas reconheceu em uma nota no X pelo menos três ataques contra “células terroristas”.

Diante desse cenário, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou que uma delegação chefiada pelo ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, partisse para o Egito na segunda-feira para negociar um cessar-fogo em Gaza. "A delegação partirá amanhã para negociações em Sharm el-Sheikh, Egito", informou o gabinete do presidente em um comunicado. Espera-se que Israel não tente assassinar a delegação do Hamas desta vez, ao contrário do que aconteceu há apenas um mês no Catar.

O negociador-chefe do Hamas, Khalil al-Hayya, sobrevivente do ataque de Doha, chegou ao Cairo na noite de domingo com o restante de sua equipe, confirmou a organização em um comunicado. Na capital egípcia, ele se reunirá primeiro com mediadores egípcios e catarianos, segundo a AFP. As delegações do Hamas e de Israel serão recebidas na cidade de Sharm el-Sheikh, na Península do Sinai, segundo o Ministério das Relações Exteriores egípcio.

Uma delegação dos EUA liderada pelo enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, bem como negociadores seniores do Egito e do Catar, também participarão do Egito para discutir os "mecanismos e detalhes" para implementar a primeira fase da proposta do presidente dos EUA, de acordo com uma fonte de segurança egípcia citada pela EFE.

A fonte observou que, durante essas negociações, "a delegação israelense fornecerá aos mediadores mapas da primeira fase da retirada de suas tropas de Gaza", o que abrirá caminho para a libertação dos reféns.

O plano de 20 pontos do presidente republicano exige o fim imediato da guerra, a libertação dos reféns do Hamas e a formação de um governo de transição para Gaza, supervisionado pelo presidente dos EUA e pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.

A proposta também inclui a desmilitarização da Faixa e a possibilidade de negociar um estado palestino no futuro, algo que o primeiro-ministro israelense, no entanto, descartou.

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