20 Agosto 2025
Enquanto um novo cessar-fogo é discutido, a ofensiva israelense ceifou a vida de outro profissional de imprensa. Os ataques contra repórteres palestinos estão aumentando.
A reportagem é publicada por Página|12, 20-08-2025.
O jornalista Islam al-Koumi morreu na terça-feira na Faixa de Gaza, informou o governo, elevando o número de mortos de jornalistas e outros criadores de conteúdo desde o início da ofensiva israelense para 239. De acordo com a rede catarense Al Jazeera, al-Koumi foi morto em um ataque aéreo israelense no bairro de al-Sabra, na Cidade de Gaza.

Islam al-Koumi (Foto: Imprensa).
O incidente ocorreu em meio ao debate sobre uma nova proposta de cessar-fogo no enclave, já aceita pelo Hamas, mas ainda sem uma resposta definitiva de Israel. A Defesa Civil de Gaza relatou pelo menos 31 mortes em todo o enclave na terça-feira, onze delas perto de centros de distribuição de ajuda humanitária e mais uma em um ataque de drones em Al Sabra. Segundo o porta-voz Mahmoud Basal, a situação em Zeitun e Al Sabra era "muito perigosa e insuportável", e ele denunciou que "os bombardeios de artilharia continuam intermitentemente".
O exército israelense se recusou a comentar os eventos. Limitou-se a declarar que suas operações visam "desmantelar as capacidades militares do Hamas" e tomar "precauções razoáveis para mitigar os danos à população civil".
Um padrão sistemático
O Escritório de Imprensa do Governo de Gaza denunciou o que considera um "ataque sistemático" contra jornalistas por parte de Israel. Em um comunicado, condenou "veementemente" a morte de Al Koumi e responsabilizou "totalmente" o Estado israelense, observando que Al Koumi trabalhou como editor de notícias e criador de conteúdo em diversas plataformas digitais.
Na mesma declaração, as autoridades de Gaza instaram a Federação Internacional de Jornalistas, a Federação de Jornalistas Árabes e outras organizações internacionais a "condenarem esses crimes sistemáticos contra profissionais da mídia na Faixa de Gaza".
A declaração foi feita poucos dias após a morte de seis jornalistas em um único ataque, e em um contexto em que quase 240 jornalistas já foram mortos desde o início da guerra, de acordo com a Defesa Civil do enclave.
Muitos desses profissionais morreram em ataques diretos do exército israelense, em um contexto em que o acesso da imprensa internacional ao enclave é extremamente limitado. Quando jornalistas palestinos são alvos, Israel frequentemente alega que as vítimas estavam ligadas a grupos armados, embora, quando contatado em diversas ocasiões, não tenha apresentado evidências verificáveis para sustentar essas alegações.
O ataque mais recente ocorreu em 11 de agosto, quando um atentado a bomba matou os repórteres Anas al-Sharif, o aparente alvo do ataque, e Mohammed Qreiqeh, além dos cinegrafistas Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa, todos da Al Jazeera. Também foi morto Mohammed Khalidi, jornalista da plataforma Sahat.
Por sua vez, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, que considera este conflito um dos mais mortais para a imprensa em décadas, também faz sua própria contagem: contabilizou 184 jornalistas mortos desde outubro de 2023.
Em maio, a Repórteres Sem Fronteiras apelou ao Tribunal Penal Internacional para que reconhecesse os jornalistas palestinos como vítimas, e não apenas como testemunhas, na investigação de supostos crimes de guerra. “Ser reconhecido como vítima é um primeiro passo em direção à justiça, à verdade e à reparação, e essencial para proteger a liberdade de imprensa em zonas de conflito”, afirmou a organização.
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