Autoritarismo em expansão para disciplinar a sociedade. Artigo de Julio C. Gambina

Donald Trump (Fonte: Flickr)

Mais Lidos

  • A ideologia da Vergonha e o clero do Brasil. Artigo de William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • Juventude é atraída simbolicamente para a extrema-direita, afirma a cientista política

    Socialização política das juventudes é marcada mais por identidades e afetos do que por práticas deliberativas e cívicas. Entrevista especial com Patrícia Rocha

    LER MAIS
  • Que COP30 foi essa? Entre as mudanças climáticas e a gestão da barbárie. Artigo de Sérgio Barcellos e Gladson Fonseca

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

03 Abril 2025

Há uma tendência ao autoritarismo nos processos que confirmam a ascensão ao poder de projetos de ultradireita, entre eles, Donald Trump e Javier Milei.

O artigo é de Julio C. Gambina, economista argentino, em artigo publicado por Rebelión, 02-04-2025. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

O que há é um crescimento da proposta política à direita do arco político.

Trata-se de um fenômeno que está associado ao descrédito da “política tradicional”, assentada na lógica keynesiana estabelecida após a Segunda Guerra Mundial.

O consenso é que, após 1945, consolidou-se um sistema mundial bipolar, onde um dos polos propunha como horizonte o “socialismo” e o outro o “capitalismo”.

Ambos sustentavam uma forte participação do Estado na definição da política pública e competiam para ver quem “resolvia” as melhores condições de vida.

Não se comparava o tamanho da riqueza gerada, mas, sim, as condições de alimentação, saúde e educação. No jargão comum, decidia-se sobre a maior eficiência dos países de “economia centralmente planejada” ou daqueles de “economia de mercado”.

A rigor, a dinâmica da macroeconomia keynesiana assimilava os paradigmas em debate e o socialismo realmente existente não conseguia organizar as relações sociais de forma alternativa, conforme sugeria Karl Marx.

Trata-se de um tema que ainda está em debate a propósito das disputas hegemônicas no sistema mundial e desafia a pensar rumos civilizatórios em defesa da vida social e natural.

O que deve ser produzido, como e para quem?

São questões pouco debatidas na esfera pública, mas essenciais diante das diversas situações de crise, pelo armamentismo, a guerra, o clima e seus impactos, a pobreza e a desigualdade, entre muitos indicadores da decadência epocal.

Independente da concretização do “socialismo”, o tema foi debatido após 1989, com a queda do Muro de Berlim, e mais ainda com a desarticulação da URSS, em 1991, e a persistência de países que almejam o propósito do socialismo.

No final do século passado, apareceram as concepções do fim da história e a rápida conclusão do triunfo do capitalismo, com o formato da “democracia ocidental”, que se opunha ao “totalitarismo” com o qual os projetos socialistas eram identificados.

O debate sobre as formas de governo e sua eficácia para resolver problemas da época é reaberto com a imensa acumulação econômica dos países asiáticos, especialmente da China e sua preeminência industrial.

O declínio produtivo no “ocidente” estimula tendências autoritárias na gestão do capitalismo contemporâneo, programa que a direita em expansão no mundo e com acesso relevante a governos no planeta, especialmente com Trump nos Estados Unidos, assume sem complexos.

O imaginário do socialismo parecia impossível no final do século XX, e a recorrência da crise capitalista, especialmente após 2007/09, reabre a discussão sobre um horizonte civilizatório contra e para além do capitalismo.

As bolsas balançam

De tempos em tempos, elementos disruptivos aparecem na economia mundial. Agora, o fenômeno se manifesta como queda das bolsas no mundo.

A notícia surgiu no início da semana com a queda da bolsa em Tóquio. Lógica por causa da abertura antecedente nos mercados globais.

Depois, o fenômeno impactou a Europa e o mundo inteiro.

Há consenso nas análises de que o tema está associado à política tarifária de Trump, uma guerra comercial para superar os problemas internos do capitalismo nos Estados Unidos e tentar disciplinar o mundo nesses objetivos.

A mensagem do MAGA (Make Again Great America) é clara: é necessário reestruturar a ordem capitalista para sustentar o lugar de privilégio das transnacionais ianques e de Washington na dominação global.

Trump define a política econômica a partir de sua posição como gestor do Estado capitalista estadunidense e, com isso, busca disciplinar a sociedade em seu país, que, por seu lugar no mundo, alcança as relações internacionais e gera incertezas e inseguranças.

O modelo de expansão asiático, especialmente o da China, baseado no planejamento centralizado, induz o imaginário autoritário do governante estadunidense que busca definir o curso no sistema global.

Milei segue os passos de Trump e tenta disciplinar a sociedade local por meio de sua estratégia de austeridade, ajuste e reformas estruturais regressivas para integrar o capitalismo local à ordem global que a política externa dos Estados Unidos define.

A subordinação é legalizada de forma autoritária, via “Decretos de Necessidade e Urgência”, que não são necessários, nem urgentes, mas que conferem legalidade aos atos de governo, facilitados pela cumplicidade de parte importante da oposição institucional.

É importante considerar que Trump e Milei só podem ser detidos por uma nova iniciativa política popular que tenha como horizonte não só acabar com o autoritarismo crescente destes governos, mas também outras políticas, alternativas, voltadas à emancipação social e a resolver necessidades populares prementes.

A rigor, não é apenas uma questão nacional referente aos países em questão, mas, pelo contrário, é válida no debate civilizatório contemporâneo, demandando um clima de revolução.

Leia mais